Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Sinais da depressão podem ser confundidos com demência nos idosos

Amanda Milléo
12/08/2016 16:00
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(Foto: VisualHunt)

Perder um ente querido, ter dificuldades em aceitar as mudanças do corpo e do papel que desempenha na comunidade, a aposentaria e a saída dos filhos de casa são fatores importantes para desencadear a depressão na pessoa idosa. Quando comparado ao adulto jovem, o risco de a doença chegar depois dos 60 anos é maior, bem como confundir os sintomas com um possível quadro de demência ou desenvolver outras doenças graves a partir da depressão.
O Viver Bem conversou com a Valmari Cristina Aranha, psicóloga do serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), que alerta: “Hoje temos uma porcentagem alta de idosos deprimidos, e a prospecção é que a doença aumente muito no futuro próximo, com estudos indicando até 40% da população, em 10 a 15 anos”.
Quais são os sintomas da pessoa idosa com depressão?
A depressão no idoso tem características diferentes da depressão no adulto jovem. Normalmente, o adulto tem queixa de humor, tristeza e desmotivação, enquanto no idoso a queixa é mais física. Ele reclama que falta tônus muscular para querer fazer alguma atividade, aparece mais irritado, às vezes até um pouco agressivo ou pouco tolerante. São sintomas parecidos com a depressão nas crianças e adolescentes.
Esses sinais podem ser confundidos com sintomas iniciais de demência. Quando o idoso entra em um quadro depressivo, ele reduz a atenção, fica mais introspectivo, com perda de memória, e esses sintomas mascaram ou se confundem com um quadro demencial. A depressão também faz com que o idoso fique mais tempo parado, que ocasiona uma perda funcional, aumentando o risco de quedas.
“Quando você fica deprimido, é como se você se voltasse para dentro, para o mundo interno, e o mundo externo perde a importância. Você se importa com o seu problema, sua perda, frustração ou você se abala com uma autoimagem depreciativa, e o maior contato com as doenças crônicas, que fazem com que você perceba suas limitações. Tudo isso pode gerar a depressão.”
Quais sinais da depressão que a família precisa ficar atenta?
Se o idoso se perceber diferente, deixando de gostar de coisas que gostava antes, ou se sentir mais incomodado, a família precisa prestar a atenção. Também se ele tiver muitas dores físicas generalizadas, e os exames não apontarem nada diferente, ou se mesmo tomando remédio a queixa continuar. O excesso de queixas é um sinal importante. Outro detalhe é quando o idoso descuida da higiene pessoal.
A depressão na pessoa idosa pode desencadear outras doenças? Quais?
Quando você deprime, o seu organismo funciona de uma maneira diferente, reduzindo as proteções, e isso abre portas para que algumas doenças apareçam ou fiquem mais ‘fortes’. O que é causa e efeito é difícil de dizer, mas tem as alterações alimentares, que geram tanto a obesidade, sobrepeso, quanto a anorexia; perda de força muscular, porque a pessoa fica mais tempo parada; descompensação de doenças metabólicas, como colesterol e diabetes; e o comprometimento de doenças osteoarticulares, pois a pessoa não se exercita e fica acamado pela depressão.
Além dos riscos de isolamento social, por perder contato com amigos e familiares, o risco da depressão é que o idoso use medicações de forma inadequada, perdendo a capacidade de se orientar corretamente. Às vezes acha que tomou, mas não tomou, ou toma o mesmo remédio duas vezes, ou de forma errada. É importante que a pessoa não se automedique na depressão e não desista do tratamento. Muitos remédios demoram 10 a 15 dias para fazer efeito.
Há muitas diferenças de sintomas ou prevalência da depressão entre homens e mulheres?
Em termos objetivos de prevalência, não diferente tanto, mas na prática clínica temos mais mulheres buscando tratamento do que homens, que tem mais resistência em admitir a depressão. No homem, normalmente, a depressão é diagnosticada secundariamente a uma doença orgânica.
O tratamento da depressão no idoso é diferente?
O ideal, de acordo com a literatura médica, é que sejam feitos tratamentos combinados, de medicamentos e psicoterapia. Há casos que apenas a psicoterapia resolve, e outros que sem a medicação não faz efeito. Sou contra o uso da medicação como anestésico. O remédio melhora, mas não resolve o problema. Ele tem que ser administrado para que reponha as energias do paciente e para que ele tenha forças para resolva os problemas. Se você não elaborar, não ressignificar aquilo que está causando o problema, e só tomar remédio, voltará à estaca zero.
“Contra os fatores negativos, a pessoa idosa precisa de fatores de proteção, como participar de atividades, ter um autoconhecimento, aprender coisas novas, relacionar com outras pessoas, manter-se produtivo, e não só profissionalmente, mas de forma social.
A taxa de depressivos, entre os idosos, tende a aumentar para os próximos anos. Quais fatores contribuem para isso?
Primeiro porque a população idosa está aumentando, e as condições ao envelhecimento não estão melhorando na mesma rapidez. Não é só da população idosa, mas o aumento da depressão vai atingir todo mundo. Somos muito exigidos, todo mundo acha que está bem sozinho, mas não está.
Esses números vão influenciar até mesmo no número de mortes por depressão, e não só de forma ativa, através do suicídio como conhecemos, mas também de uma morte passiva – da pessoa que morre porque deixou de se cuidar. Na depressão, a pessoa deixa de sair, de comer, não toma mais o remédio da forma como deveria, e normalmente morre pela descompensação de uma doença orgânica, de uma diabetes, por exemplo, que não cuidou adequadamente.