Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Casos em família são alerta para rompimento de aneurisma cerebral

Amanda Milléo
18/10/2019 13:00
Thumbnail

A dor de cabeça não está presente em todos os pacientes, significando que o AVC pode ser sim, mesmo que em poucos casos, indolor. Foto: Bigstock.

Apesar de muitos aneurismas permanecerem silenciosos, alguns podem dar sinais claros e, em boa parte das vezes, há tratamentos eficazes que previnem o rompimento e o AVC.
O aneurisma se forma a partir de uma alteração na estrutura da parede da artéria (uma espécie de “cano” que leva o sangue com oxigênio, ou sangue arterial, para todas as partes do corpo).

Essa má formação é, geralmente, congênita mas o aneurisma se forma nos anos seguintes. Quando a parede da artéria apresenta uma espécie de “bolha” ou uma saculação, forma-se o aneurisma.

Embora o crescimento seja lento, essa “bolha” ou “bexiga” (aneurisma) vai aumentando com o passar dos anos, tornando a parede da artéria cada vez mais fina. Quando a pessoa sofre picos de pressão alta, estresse, sedentarismo, tabagismo ou mesmo etilismo, a “bolha” se rompe, extravasando sangue arterial pelo cérebro. Isso causa uma hemorragia subaracnoide, gerando inflamação e inchaço pelo cérebro, prejudicando que o sangue chegue aonde deveria e, em boa parte dos casos, levando à morte.

O sangue, em contato com os vasos, produz espasmos e fecham a artéria. Quanto maior a quantidade de sangue nesse espaço, maior é o risco de vasoespamos. “A morbidade e a mortalidade do rompimento do aneurisma é altíssimo. E existe o risco da idade. Entre os mais idosos, o risco de morte a partir do sangramento chega a próximo de 50%”, explica Luiz Roberto Aguiar, coordenador de serviço de neurocirurgia.
Aneurisma dá sinais?
Alguns aneurismas podem se formar em regiões do cérebro que não comprimem nenhum nervo e, portanto, não dão sinais claros. Em alguns casos, porém, fortes dores de cabeça podem indicar a presença do aneurisma.
“Toda pessoa que apresente uma dor de cabeça aguda, de forte intensidade, relatada como a dor mais forte na vida, que começa ‘explodindo’, súbita e que seja diferente de qualquer outra dor de cabeça que teve, essas têm a indicação para procurar pelo aneurisma. Ou, mesmo que não seja uma dor de cabeça tão forte assim, mas que começou após os 50 anos de idade, vale a pena investigar”, ressalta Fernando Spina Tensini, médico neurologista do Hospital Marcelino Champagnat.
Outros sinais, quando há compressão de algum nervo, são estrabismo, paralisia e até mesmo a perda de visão.
Exames para procurar aneurisma? Só com parentes com aneurisma
Embora sejam silenciosos, não é indicado sair procurando pelo aneurisma em todo mundo, pois alguns exames – especialmente os mais invasivos – podem ser até mais prejudiciais que o aneurisma em si.
Devido à influência genética, uma das principais indicações para os exames seria o número de casos na família.

“Pacientes com história prévia de aneurismas ou familiar de primeiro grau, como pai ou mãe, com aneurisma cerebral devem ser avaliados por um neurocirurgião. Não há estudos controlados sobre screening populacional de detecção precoce de aneurisma cerebral e isso não está indicado para a população em geral”, sugere o médico neurocirurgião Ralf Stein.

Uma das recomendações dos especialistas, de acordo com o neurologista Fernando Spina Tensini, é que: se uma pessoa da família teve um aneurisma, as demais não têm um risco elevado. “Mas, se duas pessoas tiveram, a orientação é fazer a triagem em todo mundo”, explica.
Os aneurismas cerebrais são diagnosticados apenas por exames de imagem, sendo os principais: angiotomografia, angioressonância e a angiografia, ou cateterismo. Todos usam contraste, apenas mudando o tipo. No caso do cateterismo, por ser mais invasivo há risco de sangramento a partir do exame. Portanto a indicação é para usá-lo apenas depois de feitos os exames de imagem, que não são tão invasivos.
“Se uma pessoa vem de uma família com vários casos de aneurisma, pode fazer uma investigação com angiotomografia ou ressonância para detectar aneurismas assintomáticos com grande chance de acerto, sem ser invasivo”, reforça Luiz Roberto Aguiar, coordenador de serviço de neurologia.
Além da questão familiar, os sintomas de dores de cabeça intensas, paralisia, perda de visão ou estrabismo também podem indicar a realização dos exames para diagnóstico.
Hora certa para cirurgia
Dependendo da localização do aneurisma, do seu aspecto morfológico e do estado do paciente, o médico cirurgião neurologista pode escolher entre três tratamentos possíveis.
Se o colo do aneurisma for maior que a profundidade, e se estiver bem localizado, pode ser feita uma cirurgia de abertura do crânio, na qual aplica-se um clipe no aneurisma.
Esse clipe mantém o aneurisma controlado, sem risco de rompimento.

“Para um paciente de 60 anos, sem nenhuma comorbidade, como insuficiência renal, cardíaca, hepática, o tratamento preferido é o cirúrgico, ou a craniotomia com clipagem”, explica o neurologista Luiz Roberto Aguiar.

Caso o colo do aneurisma seja pequeno e ele tiver um formato que parece uma linguiça, é feita a embolização. “É um procedimento endovascular, onde é feito um cateterismo que coloca dentro do aneurisma uma espécie de mola. Você estica a mola no cateter e quando solta dentro do aneurisma, ele se enrola sobre si mesmo, fechando o aneurisma”, afirma o médico.
Algumas pessoas, por terem mantido um aneurisma aparentemente intacto ao longo de anos, pode escolher tratar apenas com acompanhamento médico, para ver o desenvolvimento. Embora não seja uma prática comum, deixar de tratar e apenas acompanhar o crescimento, há razões para isso.
“Se o aneurisma for pequeno até 0,5 ou 0,7 centímetros (cinco ou sete milímetros), a tendência é não fazer nada. Se crescer, o médico intervém. Caso permaneça do mesmo tamanho, você faz o acompanhamento para não fazer nenhum procedimento desnecessário. A tendência é que o aneurisma cresça de forma lenta, para maior parte das pessoas”, explica o médico neurologista Fernando Spina Tensini.
Posso prevenir o AVC?
Se você tiver casos na família de aneurismas, procure um médico neurologista. Se não tiver nenhum caso, mas ainda estiver receoso da doença, algumas dicas podem ajudar a manter a saúde cerebral em dia:
= Mantenha a pressão arterial controlada. Se for hipertenso, confira com seu médico cardiologista se a medicação está adequada ou se precisa ser adaptada.
= Faça atividades físicas com frequência. Antes, porém, procure por um médico do esporte para a liberação ao exercício que desejar. Pode começar com uma caminhada, todos os dias, durante uma hora, sem problemas.
= Alimente-se bem. Reduza o sal da dieta e os açúcares desnecessários. Coma mais frutas e verduras.
= Procure hobbies. Seja ioga, aulas de relaxamento, pintura. Mantenha uma atividade prazerosa.
= Doenças crônicas controladas. Além da hipertensão, procure manter diabetes, colesterol e outras doenças crônicas controladas.
= Livre-se dos maus hábitos. Sedentarismo, tabagismo e etilismo são vilões da saúde. Procure nas unidades de saúde do seu município pelos programas contra o cigarro e bebidas alcoólicas.

“Fumar é um fator de risco tanto para o surgimento do aneurisma quanto para o seu rompimento. Ter hábitos de vida não saudáveis influencia em todos os aspectos. Não dá para mais dizer ao paciente: controle a pressão e diabetes apenas com medicamentos. O tratamento hoje envolve atividade física também” – Fernando Spina Tensini, médico neurologista.

LEIA TAMBÉM