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Sorvete foi desenvolvido por pesquisadores brasileiros e nos sabores chocolate, morango e limão (Foto: Bigstock)
Sorvete foi desenvolvido por pesquisadores brasileiros e nos sabores chocolate, morango e limão (Foto: Bigstock) | Foto:

Pouca ou nenhuma saliva; inflamações da mucosa na boca; perda de sabor e do paladar; e o surgimento de aftas e ardência na hora de se alimentar são situações comuns entre os pacientes que estão passando por um tratamento oncológico. Os efeitos colaterais da quimioterapia afetam diretamente a alimentação e, consequentemente, a recuperação do paciente.

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Um novo sorvete, porém, promete reduzir esses efeitos colaterais. Produzido por pesquisadoras da área de Nutrição da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o produto é oferecido nos sabores limão, chocolate e morango, e ajuda a anestesiar a boca, diminuindo os efeitos da inflamação na mucosa, além de reduzir a náusea relatada pelos pacientes e facilitar a deglutição, por ser úmido.

Além disso, características únicas na produção do sorvete o tornam uma opção nutricionalmente adequada como lanche a quem está passando pelo tratamento oncológico:

“É fonte de proteína isolada do soro do leite, o chamado whey protein, que possui altíssimo valor biológico. É também rico em fibra e a gordura usada, o azeite de oliva desodorizado, é de ótima qualidade. Não tem gordura trans, nem lactose ou glúten. É um complemento hipercalórico que não vai substituir as refeições, mas ajuda a complementar”, explica Raquel Kuerten de Salles, uma das coordenadoras no desenvolvimento do produto, ao lado da professora doutora Francilene Gracieli Kunradi Vieira, do departamento de Nutrição da UFSC.

Estudo

O sorvete começou a ser desenvolvido em 2017 e faz parte de um projeto maior que visa a criação de preparações a pacientes em quimioterapia. O estudo recebeu aprovação do Comitê de Ética e foi testado por mais de 160 pessoas, entre pacientes do Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago e população em geral, recebendo a aceitação de 75% do público.

“É um produto usual, que está no cotidiano das pessoas e é o desejo de consumo. Queríamos um produto que fosse bem palatável e saboroso, além de nutricionalmente adequado. Uma opção a mais para que o paciente se alimentasse melhor”, reforça Salles.

Celíacos e intolerantes à lactose

Embora esse não fosse o foco, o sorvete foi produzido sem glúten e sem lactose, o que ajudou a chamar atenção de uma quantidade maior de pacientes.

“A empresa que desenvolveu o sorvete em parceria não usa o glúten em nenhum dos seus próprios sorvetes e isso acabou sendo mais um aspecto agregado ao produto. A lactose também. Por mais que muitos pacientes não tenham intolerância, no momento da quimioterapia podem desenvolver uma intolerância transitória”, reforça a pesquisadora Raquel Kuerten de Salles.

Ainda que não venha substituir as refeições, pode ajudar pacientes a evitar o uso de sondas e nem sempre aprovadas pelos pacientes.

“O grande desafio [do uso das sondas] é, como não se trata de um alimento, é quase como um remédio, tem um gosto rejeitado pelo paciente. Ao enriquecermos esse alimento [o sorvete], tornamos o produto uma opção. Olhamos para a humanização do tratamento. A pessoa está passando por uma dificuldade fisiológica, emocional e se eu consigo contextualizar, trazer mais afeto na alimentação, torná-la mais prazerosa, sempre melhor”, explica Salles.

Por enquanto, o sorvete está sendo distribuído apenas aos pacientes oncológicos do hospital Universitário em Florianópolis (SC), mas caberá à indústria que desenvolveu o produto em parceria com o projeto a colocar a opção no mercado.

(Foto: reprodução site da indústria que produz o sorvete)
(Foto: reprodução site da indústria que produz o sorvete)

Efeitos adversos da quimioterapia 

Além do desafio em se livrar de uma multiplicação de células que não deveriam estar se multiplicando, o paciente oncológico precisa se adequar aos efeitos colaterais do tratamento.

No caso da quimioterapia e radioterapia, opções que podem ser feitas tanto em conjunto quanto isoladas, os efeitos vão desde a queda dos pelos, como cabelos, à lesões na boca. Confira abaixo alguns dos sinais dos tratamentos, de acordo com Laurindo Moacir Sassi, chefe do Serviço de Cirurgia Bucomaxilofacial do hospital Erasto Gaertner e coordenador da residência de Bucomaxilofacial da mesma instituição.

Falta de saliva. Um dos primeiros efeitos apresentados pelos pacientes é ter a saliva reduzida ou mesmo extinguida. Uma das indicações é usar saliva artificial entre esses pacientes. “A pessoa coloca o alimento na boca e ele fica seco, porque ela tem essa dificuldade de salivar”, explica Sassi.

Falta de sabor. Como o tratamento, especialmente a radioterapia, afeta as papilas gustativas das línguas, o paciente não consegue sentir o sabor dos alimentos. Isso acaba afastando o paciente das refeições, que não sente mais prazer no alimento e acaba tendo de usar as sondas.

Feridas, aftas e dor. As feridas que surgem na boca, decorrentes também do tratamento, acabam gerando dor na boca e alimentos secos, picantes ou salgados não são bem aceitos.

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