Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Spray contra overdose reverte sintomas de intoxicação em poucos minutos

Amanda Milléo
24/08/2018 07:00
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Vendida de forma injetável para hospitais, a formulação foi adaptada nos últimos anos para ser usada em um spray nasal. Foto: Bigstock

A emergência pela qual passou a cantora norte-americana Demi Lovato no início de agosto chamou atenção do restante do mundo para uma substância capaz de reverter os sintomas de uma overdose por opiáceos, como a oxicodona e a morfina: o cloridrato de naloxona, ou Narcan, nome comercial.
Vendida de forma injetável para hospitais, a formulação foi adaptada nos últimos anos para ser usada em um spray nasal, oferecendo os mesmos benefícios.
Nos Estados Unidos, a substância pode ser adquirida desde 2016 em farmácias da maioria dos estados sem necessidade de prescrição médica e o governo, inclusive, incentiva a compra do produto.
Em abril deste ano, o governo norte-americano emitiu uma orientação que reforça a importância da população aprender a usar a naloxona e mantê-la por perto, caso seja necessário.

Spray contra overdose

O spray contra overdose, no entanto, não serve a todas as drogas consumidas, e no Brasil a necessidade não é tão impactante quanto em outros países da América e da Europa. Aqui, os opiáceos são drogas mais caras e com acesso mais difícil quando comparado à cocaína e crack, drogas mais difundidas na cultura de consumo do brasileiro. Contra essas, porém, a naloxona não tem ação.
“A cocaína e o crack são drogas estimulantes do Sistema Nervoso Central (SNC), estimulam a liberação de neutrotransmissores. Já os opioides são depressores do SNC, levando a um estado de sedação, redução da pressão arterial. A intoxicação aguda por essas substâncias pode levar a uma parada cardiorrespiratória e a naloxona atua como antagonista dos opioides, revertendo os sintomas dessa overdose”, explica Leda Mezzaroba, professora do departamento de Patologia, Análises Clínicas e Toxicológicas do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Embora a ação seja bastante positiva para a saúde, reduzindo o risco de mortes por intoxicação, o acesso indiscriminado à naloxona pode trazer outros efeitos, de acordo com Mezzaroba, que também é responsável técnica pelo setor de Toxicologia do Laboratório de Análises Clínicas do Hospital das Clínicas da UEL (HC/UEL). “Como toxicologista, vejo que o problema do uso de substâncias químicas é sempre esse, de pressupor que, com um antagonista dos efeitos na mão, a pessoa vá se sentir mais segura para fazer uso das drogas ilícitas”, questiona.

Naloxona aprovada

No Brasil, o uso do cloridrato de naloxona é liberado pela Anvisa apenas em ambientes hospitalares, onde a substância é administrada de forma intravenosa, intramuscular ou subcutânea — o que exige prática e cuidados no manejo. O spray da substância não tem liberação pela agência reguladora daqui.
“Nos hospitais, o cloridrato de naloxona é usado para reverter intoxicações por opioides, substância encontrada em medicamentos contra ansiedade, depressão e combate da dor, como a morfina e a oxicodona”, explica Leda Mezzaroba, professora da UEL.
Quando injetada, a substância contra a overdose atua em dois minutos, se aplicada de forma intravenosa. Se a aplicação for intramuscular, a atuação chega a demorar até cinco minutos, de acordo com dados da Sociedade norte-americana do Sistema de Saúde de Farmacêuticos.
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