Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Uso da biotina, suplemento de vitamina, altera diagnóstico de doenças da tireoide

Amanda Milléo
29/10/2018 08:00
Thumbnail

Excesso de algumas vitaminas, como a D, são mais nocivas do que a sua falta. (Foto: Bigstock)

Cada vez mais populares, os suplementos de vitaminas prometem benefícios para a saúde do corpo todo. As versões vendidas em farmácias, sem receita médica, partem da ideia de que a alimentação não seria suficiente para dar tudo que o organismo precisa — especialmente entre quem vive uma rotina agitada, cheia de estresse e sem tempo para refeições adequadas.
Uma das famas das vitaminas do complexo B, especialmente a biotina está na estética, visando uma melhora no aspecto dos fios do cabelo e das unhas. Embora haja uma associação positiva entre a suplementação e diferentes doenças, como um tipo específico de queda de cabelo, neuropatia diabética e questões neurológicas, não há trabalhos que comprovem o benefício da suplementação em pessoas que não tenham qualquer tipo de problema nutricional e desejem apenas melhorar a saúde do cabelo.

Quem faz uso da suplementação de biotina corre um risco ainda mais importante: ter os resultados de exames laboratoriais, como os da tireoide, alterados. Assim, acabam sendo diagnosticados com hipo ou hipertireoidismo sem, de fato, ter a doença.

Isso acontece porque os laboratórios, ao analisarem o sangue da pessoa, podem fazer uso de marcadores que contêm, entre seus componentes, a biotina e a estreptavidina. Estes reagem com a biotina ingerida em forma de suplemento pelo paciente, falseando os resultados para mais ou para menos.
“A biotina que a pessoa ingere não altera a tireoide em si, mas pode simular um hipo ou um hipertireoidismo. A pessoa nem sempre sabe que está tomando, ao ingerir um suplemento vitamínico, e esquece de avisar o médico responsável ou o laboratório”, explica Gisah Amaral de Carvalho, médica endocrinologista, professora associada de Endocrinologia e Metabologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e chefe da unidade de tireoide do hospital das Clínicas (HC/UFPR).

A orientação é para que o paciente suspenda qualquer tipo de suplementação 72 horas (três dias) antes dos exames laboratoriais, especialmente para quem fizer uso da biotina. Assim, evita-se a interferência da vitamina nos resultados.

Exames laboratoriais podem ter o resultado falseado em pessoas que consomem suplementos de vitamina B7, a biotina (Foto: Daniel Castellano / Gazeta do Povo / arquivo)
Exames laboratoriais podem ter o resultado falseado em pessoas que consomem suplementos de vitamina B7, a biotina (Foto: Daniel Castellano / Gazeta do Povo / arquivo)

Como ter certeza do resultado?

Mesmo que a pessoa se esqueça de avisar o médico ou o laboratório da suplementação de biotina, o próprio laboratório durante a análise pode se dar conta de que algo não está certo.
“Quando temos esse resultado, repetimos por outra metodologia, que não use a biotina como marcador. E mesmo que faça a repetição da análise, confirmamos com o paciente o consumo do suplemento e pedimos para que suspenda o uso durante três dias, para então fazer a recoleta”, explica Silvia Cristina Quadros de Oliveira, farmacêutica bioquímica do Laboratório de Análises Clínicas — LANAC.
É feito também contato com o médico responsável pela solicitação do exame. Assim, ele é capaz de avaliar os resultados com os dados obtidos durante o exame clínico — realizados no consultório — do paciente.
A Unimed Laboratórios traz ainda no site os exames que podem sofrer essa interferência, e também alertam aos pacientes para o cuidado e o alerta da suplementação ao médico responsável. “Nem todos os exames de tireoide, testosterona ou outros usam esses componentes, porque depende da metodologia que o laboratório faz uso”, reforça Mauro Scharf, médico endocrinologista e diretor médico da Unimed Laboratórios.

Riscos da biotina 

Disponível em diferentes fontes na alimentação, suplementar a biotina nem sempre é necessário. A vitamina está presente nas nozes, tomate, amendoim, gema de ovo, cebola, cenoura, alface, couve-flor, amêndoa, carne vermelha, além de frutas e sementes.
Embora seja uma vitamina segura, a suplementação sem necessidade pode desencadear alguns efeitos indesejados no organismo. “O excesso da biotina pode levar, sim, a problemas como acne, reações alérgicas na pele, náusea e diarreia”, explica Camila Scharf, médica dermatologista.
Uma intoxicação não chega a acontecer, segundo Tatiana Gabbi, médica dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, mas o uso sem orientação médica pode levar a um descrédito da vitamina por parte dos pacientes.

“Um dos problemas é a pessoa tomar sozinha, sem prescrição, em doses que não são adequadas a ela, por um período também inadequado e não ter efeitos. Então, quando o médico prescrever, ela não tomar porque acha que, para ela, a biotina não funciona. A biotina é superpoderosa, na dose certa e com acompanhamento para ver os resultados”, reforça a dermatologista, que também é responsável pelo ambulatório de doenças das unhas do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da USP (HC/FMUSP).

LEIA TAMBÉM