Saúde e Bem-Estar

New York Times, por Courtney Rubin

Excesso de cremes e sérums pode estar prejudicando sua pele

New York Times, por Courtney Rubin
21/08/2019 08:00
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Uso exagerado de produtos para o rosto pode estar mais prejudicando a pele do que ajudando. Foto: Bigstock.

Quando as clientes enviam mensagens de texto a Nicolas Travis, fundador da marca de cuidados para a pele Allies of Skin, com perguntas sobre a sensibilidade da pele, ele pergunta quais outros produtos elas estão usando. Em 90 por cento dos casos, disse ele, é alguma coisa com álcool secante ou óleos essenciais agressivos.

“Preciso dizer a elas: ‘Há anos você usa produtos mal formulados, o que equivale a passar anos sob uma dieta de comidas sem qualidade.’ Explico: ‘Sua pele não é sensível, é a barreira cutânea que está fraca'”, disse Travis, cuja empresa está sediada em Cingapura e cujos produtos podem ser encontrados em lojas de 15 países, incluindo os Estados Unidos.

Pergunte a esteticistas e dermatologistas qual o problema mais visto hoje em dia e, na maior parte dos casos, a resposta vai ser: barreira cutânea danificada. Não é de se espantar, portanto, que as novas palavras-chave da indústria da beleza sejam “reparação da barreira cutânea” e “proteção da barreira cutânea”.
Uma barreira cutânea danificada – os sintomas incluem inflamação e pele irregular e escamosa – pode eventualmente levar a outros problemas, uma vez que significa que as defesas da pele estão comprometidas.
Além da pele sensível, a disfunção da barreira é em parte responsável pelo surgimento de rosácea, eczema, psoríase e acne, manifestações cuja frequência tem aumentado, segundo estudos epidemiológicos.

O que estaria causando essa disfunção em massa da barreira cutânea?

A resposta é simples: o excesso de cremes, séruns e outras promessas encontradas nas prateleiras.

“Em grande parte, isso é uma consequência da nossa própria obsessão por deixar a pele o mais limpa possível e usar um produto em cima do outro”, argumentou Whitney Bowe, dermatologista de Nova York. Acrescentem-se as agressões ao ambiente à sobrecarga de produtos e você terá a receita para a destruição da barreira cutânea.

A seguir, dicas para evitar que isso ocorra – ou para reparar os danos.
Manto ácido: por que é essencial que você o proteja
O manto ácido é a camada protetora constituída de óleos naturais, aminoácidos e suor que cobre a pele. Esfregar muito a pele danifica o manto e as limpezas alcalinas o neutralizam. A consequência disso são problemas na barreira: inflamações, alergias e erupções.
Falar do manto ácido significa discutir profundamente sobre pH, o que, para a surpresa de muitos professores de química, é o tipo de coisa que as aficionadas por beleza amam discutir on-line hoje em dia. Por isso, embora a água alcalina traga benefícios à saúde, você definitivamente não precisa aplicá-la em seu rosto (acidulado).
Limpar o rosto com qualquer produto alcalino interfere na habilidade da pele de se autorregenerar e prejudica a elasticidade, ensinou Bowe. O pH alto também estimula o crescimento de uma bactéria chamada Propionibacterium acnes, que, pelo nome, você já deve ter adivinhado que tem papel central na formação de muitos tipos de acne.

Aquele produto para limpar o rosto com bastante espuma e bolhas? A probabilidade de ele ser alcalino é alta, pois os ingredientes responsáveis por conferir essas qualidades ao produto têm pH alto.

“O problema é que as pessoas precisam de espuma para se sentirem limpas. Por isso, tivemos de atenuar nossos produtos com uma grande quantidade de óleos de nutrição para reforçar a barreira”, afirmou Emily Parr, fundadora da HoliFrog, uma linha de limpeza cujo lançamento está marcado para setembro.
Christian Surber, professor de dermatofarmacologia nas universidades da Basileia e de Zurique e autor de trabalhos sobre o manto ácido, sugere evitar produtos com pH maior que 7. Isso não significa que, quanto mais baixo o pH, melhor; o pH da pele é de aproximadamente 5,5 e a capacidade de tolerar acidez mais acentuada depende tanto da pele quanto da qualidade da formulação do produto.

Envelhecimento

À medida que envelhecemos, a pele fica mais alcalina – ativando enzimas que devoram o colágeno – e produtos ácidos podem restaurar o pH, evitando que surjam rugas e que a pele fique caída.
O foco na acidez como o segredo para uma pele saudável é o fio condutor por trás de startups como a Atolla, que testa diversos aspectos da pele do consumidor, incluindo o pH, e envia séruns customizados mensalmente. É por isso também que empresas como as de Travis e Parr trazem na embalagem o valor do pH.

A frase “pH balanceado” é tão útil quanto os termos “limpo” ou “natural” – ou seja, não quer dizer nada.

Se você quiser saber o número específico, a empresa é obrigada a fornecê-lo. Suber acrescentou que nem mesmo um químico cosmético pode estimar esse valor com base nos ingredientes.
A notícia ruim: quando pesquisadores testaram 31 hidratantes de ampla oferta nos Estados Unidos, descobriram uma variação de pH que começava em 3,73 e atingia o nível devastador de 8,19. Um estudo alemão de 2018 descobriu que apenas um pouco mais de um terço dos hidratantes geralmente encontrados tinha pH “apropriado para a terapia básica de proteção da barreira cutânea”.

O que fazer e o que evitar na reconstrução da barreira cutânea?

O primeiro passo para proteger a barreira cutânea é ficar longe de uma infinidade de produtos. “O regime coreano de cuidados em dez passos é um suplício para a pele”, revelou Surber.

Esfoliantes químicos, como ácido glicólico, ácido láctico e ácido salicílico, são geralmente mais suaves do que os esfoliantes físicos (produtos com partículas, microdermoabrasão), mas não devem ser usados mais do que uma vez por semana em peles secas ou sensíveis e três vezes por semana em peles oleosas.

Inicialmente, os médicos ficaram muito animados com as ceramidas, que reparam a barreira cutânea e ajudam a evitar que a pele fique ressecada e se enrugue. A pele, no entanto, é simplesmente complexa demais para que apenas um ingrediente possa cuidar dela, esclareceu S. Tyler Hollmig, professor assistente de cirurgia dermatológica na Universidade Stanford. Ele ainda recomenda ceramidas, mas elas não resolvem tudo.
Produtos que trazem entre os ingredientes glicerina, petrolato e ácido hialurônico também podem ajudar a restaurar a barreira cutânea e restabelecer a hidratação perdida. E eles não precisam ser sofisticados.

Shari Marchbein, uma dermatologista de Nova York, aconselha que, por mais básico que possa parecer, o hidratante deve ser aplicado até 60 segundos após a limpeza para que a hidratação seja absorvida. “Se você cobre um bolo seco com uma calda, o bolo continua seco”, ilustrou Marchbein. “Se você cobre um bolo molhado, ele permanece úmido.”

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