Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Os riscos de colocar água oxigenada no ouvido para combater gripes e infecções

Amanda Milléo
06/06/2019 11:28
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Bela Gil sugere o uso de água oxigenada no ouvido contra gripe e infecções (Foto: Bigstock)

A apresentador, autora e chef de cozinha Bela Gil divulgou recentemente em seu perfil do Instagram uma prática comum que realiza para combater gripes e resfriados, levantando um debate sobre o tema.
Ao sentir os primeiros sintomas de gripe, Bela diz que pinga de uma a três gotas de água oxigenada (10 vol/3%) no ouvido.

“Fico deitada por um minutinho para não deixar escorrer. A água oxigenada começa a borbulhar e você sente uma leve cócega. Depois seque levemente a orelha com a toalha”, orienta Bela na postagem. 

A prática não é nova e há quem já tenha ouvido falar dessa técnica por meio de relatos dos avós ou familiares. Pingar qualquer coisa no ouvido, especialmente água oxigenada, no entanto, não é recomendado pelos especialistas otorrinolaringologistas por dois motivos principais:
  1. Não há evidências científicas (comprovadas via pesquisas) que demonstrem que a água oxigenada no ouvido ajudaria na prevenção de infecções ou trouxesse qualquer benefício à saúde do paciente.
  2. Há riscos envolvidos na prática, especialmente se a pessoa tiver uma infecção no ouvido ou o tímpano perfurado – o que nem sempre o paciente sabe que está.

“Se tiver uma infecção, [o uso da água oxigenada] pode piorar o quadro. Primeiro porque o paciente retarda a procura pelo médico e, depois, dependendo do quadro, pode irritar o conduto auditivo. Se a pessoa tiver uma perfuração do tímpano, pode ainda piorar a situação”, explica Paulo Mendes Junior, médico otorrinolaringologista do hospital IPO, de Curitiba. 

Como nem todo mundo sabe que tem o tímpano perfurado, o especialista cita algumas situações que devem chamar atenção do paciente para essa característica:
  1. Problema de audição;

  2. Dor na região quando sentir o vento passar pelo ouvido;

  3. Zumbidos;

  4. Histórico de infecção de ouvido, especialmente com o vazamento de líquido;

  5. Vazamento de líquido do ouvido ao entrar na piscina ou no mar. 

“Não há trabalho científico algum que comprove que a água oxigenada no ouvido ou via gargarejo, pela boca, ajudaria na prevenção de infecções. Se a pessoa faz o gargarejo com a água também não aconselho porque pode afetar o esmalte dos dentes. Não aconselho nem fazer gargarejo, nem pingar o produto no ouvido”, explica Mendes Junior, que reforça a orientação para não colocar nenhum objeto ou substância no ouvido, sem orientação médica.

Risco de morte

Além da irritação no canal auditivo, a presença da água oxigenada no ouvido pode levar a complicações tão graves que levam à morte. De acordo com o médico otorrinolaringologista Jamal Azzam, em pessoas com perfurações na membrana do tímpano, a substância inserida no ouvido pode irritar a meninge (membrana que protege o Sistema Nervoso Central), gerando a meningite, doença com risco de morte.
Se a substância for aplicada nas crianças, o risco é ainda mais grave. “Na criança, a proximidade entre a meninge e o ouvido é maior, então o risco de que a água oxigenada gere a irritação da membrana é maior também”, explica Azzam, especialista pelo hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e professor de Gestão de Saúde na FGV/SP.
“Outra questão é que, se a pessoa tiver a perfuração [no tímpano], a água oxigenada gera irritação do ouvido interno, levando à surdez, tonturas ou um zumbido persistente. Caso a pessoa tenha cera no ouvido, a água pode passar pela cera e ficar ali represada, levando à otite externa”, reforça.

Para que tirar a cera?

Uma das principais indicações de pessoas leigas para o uso da água oxigenada no ouvido está na retirada da cera, vista como sujeira. Isso, porém, é um mito.
“Cera não é sujeira. A cera protege o ouvido para que não entre nenhum corpo estranho. Ela é fungicida e bactericida, mantendo fungos e bactérias longe. Ela hidrata o canal auditivo e o próprio ouvido faz uma autolimpeza. Pessoas que produzem muita cera devem buscar um médico especialista e não tirar sozinho, muito menos com água oxigenada”, reforça o médico otorrinolaringologista Paulo Mendes Junior.
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