Saúde e Bem-Estar

The New York Times

Você sabe cair do jeito “certo”? Especialistas mostram como fazer

The New York Times
29/01/2017 14:00
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(Foto: Bigstock)

Raro é o indivíduo que nunca tropeçou em um bicho de estimação ou buraco na calçada, caiu da bicicleta, escorregou no gelo ou se ralou esquiando ou patinando. Alguns se machucam enquanto outros saem ilesos – geralmente afirmando que é porque sabem como cair.
Segundo um soldado paraquedista, um dublê, um fisioterapeuta e um professor de artes marciais, existe mesmo um “jeito certo” de cair, e ele pode poupá-lo de muita dor se você souber como se faz.
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Embora geralmente associadas a idosos, as quedas acontecem em qualquer idade e são a causa mais comum de lesões em visitas aos prontos-socorros dos Estados Unidos. A Agência de Pesquisa e Qualidade em Serviços de Saúde estima que mais de 30% das visitas a um pronto-socorro, cerca de 7,9 milhões por ano, são motivadas por tombos.
“Enquanto fisioterapeutas, falamos muito sobre prevenir quedas, mas não falamos no que fazer quando se cai. O tombo é quase inevitável, então é preciso saber o que fazer”, diz a Jessica Schwartz, fisioterapeuta nova-iorquina que treina atletas e pessoas com próteses nos membros a cair sem se machucar.
A coisa mais importante a se lembrar é proteger a cabeça, segundo ela. Então, se você estiver caindo, gire de lado e encolha a cabeça.
“Você já viu aqueles desenhos animados com escorregões e quedas em que os personagens caem com tudo de costas ou de cara? Não faça isso“, diz Jessica. “Você vai bater a cabeça como um coco e terminar com uma concussão“, e o movimento inverso, ou repique, da cabeça após o impacto “dará a impressão de uma chicotada“. Além disso, cair direto de frente ou de costas aumenta o risco de lesionar a coluna vertebral e os órgãos vitais.
De acordo com a fisioterapeuta, também se deve evitar cair com as mãos estendidas. Se isso acontecer, toda a força do impacto vai se concentrar nelas, aumentando o risco de quebrar o punho. Além disso, também não se deve cair de joelho, para não quebrar a rótula, nem fazer aquela manobra em que se “pedala” com os pés para recuperar o equilíbrio, o que pode levar a ossos quebrados nos pés e tornozelos.
Em vez disso, caso esteja caindo, os especialistas dizem que se devem dobrar cotovelos e joelhos e tentar absorver o impacto com as partes mais carnudas do corpo, como a lateral da coxa, nádegas e ombro.
“Tente bater com o músculo, não com o osso”, diz Kevin Inouye, dublê e professor assistente de interpretação, movimento e combate encenado da Universidade de Wyoming. “O instinto será tentar se segurar com as mãos, joelhos e pés, mas eles são duros e não perdoam na hora do tombo.”
O segredo é não lutar contra a queda, mas rolar junto, como os paraquedistas fazem. “A ideia é orientar o corpo para o chão, para que quando ocorra o impacto, exista um processo em várias etapas de bater e mudar o peso do corpo para reduzir o baque”, afirma o primeiro-sargento Chuck Davidson, treinador-chefe da Escola Avançada do Exército em Fort Bragg, Carolina do Norte.
O objetivo dos paraquedistas é cair de lateral na direção do vento que os carrega – sem qualquer resistência à força da queda. Quando as bolas dos pés mal tocam o chão, eles imediatamente distribuem o impacto em uma sequência rápida subindo pela panturrilha, coxa e traseiro. Eles rolam sobre o músculo latíssimo do dorso, o grande músculo que se estende lateralmente pela lateral das costas, e jogam os pés para cima, mudando o peso, para terminar deitados de costas com as pernas dobradas diante deles.
O procedimento é impressionantemente similar a como os praticantes de artes marciais aprendem a cair quando, por exemplo, são jogados sobre o ombro de uma pessoa ou as pernas são forçadas a se dobrar. “Eu diria que os princípios que seguimos são: aceitar que está caindo e ir junto, rolar o corpo, não ficar duro, e distribuir a energia, para absorver a queda na maior área possível”, explica Paul Schreiner, professor faixa preta de jiu-jitsu da Academia Marcelo Garcia, em Nova York.
Embora as quedas em artes marciais costumem ter um aspecto ginástico, com cambalhotas belas e elegantes, tudo se resume à questão de espalhar a força do impacto. “Pode existir um componente estético, mas o que ele faz é salvar o corpo”, afirma Schreiner. “Se você não absorver o tombo num lugar só, poderá se levantar com dor, mas caminhando.”
Por mais difícil que pareça aquele momento em que o chão se aproxima – contas médicas e incapacidade relampejando na mente –, os especialistas dizem que é importante relaxar enquanto se cai. Existe uma probabilidade menor de se machucar caso você relaxe a musculatura e solte o ar.
A rigidez é sua inimiga, enquanto a flexibilidade é sua amiga. “Por mais injusto que pareça, é por isso que os bêbados” costumam ser as pessoas que “não se machucam nas batidas de carro”, diz Inouye. “Eles estão relaxados e simplesmente absorvem o impacto.”
Sem dúvida, você terá maior capacidade de relaxar, girar de lado, se encolher e rolar se estiver em boa forma física. “Se tiver uma sala cheia de jogadores de futebol e trabalhadores de informática e você sair derrubando todos, pode apostar que os jogadores são os que menos vão se machucar por causa da força superior, agilidade e coordenação”, diz Erik Moen, fisioterapeuta de Kenmore, em Washington.
Mas isso não quer dizer que é preciso ser um atleta de elite ou soldado paraquedista para cair do “jeito certo”. As crianças pequenas são possivelmente os que caem melhor porque ainda não têm medo ou vergonha, então levam o tombo e rolam sem tensão, não tentando se recompor.
Um fisioterapeuta pode ser útil em avaliar suas fraquezas e prescrever exercícios para fazer em casa para melhor a força e agilidade – por exemplo, pular de lado a lado e subir e descer de plataformas – para que você tenha maior capacidade de ação durante uma queda e maior probabilidade de reduzir o risco de tombos.