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Nutricionista Karla Trevisan, com suas pacientes Alessandra, Danielle e Lielen, que mandam mensagens toda semana pelo WhatsApp (Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo)
Nutricionista Karla Trevisan, com suas pacientes Alessandra, Danielle e Lielen, que mandam mensagens toda semana pelo WhatsApp (Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo)| Foto: André Rodrigues

Mais de cinquenta pacientes fazem parte da lista de contatos no WhatsApp da nutricionista Karla Trevisan. Eles estão ali para compartilhar fotos das refeições, dúvidas e incentivos à dieta, conquistas na perda de peso e receitas low carb – a qualquer hora do dia, qualquer dia da semana. Ter o nutricionista tão perto virou prática comum na relação entre nutricionistas e pacientes, e tanto um quanto o outro olham para o aplicativo de conversa como uma ferramenta importante na mudança de hábitos.

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Lielen Guardiano Lacerda, professora de 37 anos, é uma das integrantes dessa lista e diz se sentir mais incentivada quando usa o WhatsApp para enviar fotos dos pratos e descobrir opções saudáveis e gostosas para que a dieta não fique cansativa. “Quando você começa uma dieta acaba se sentindo sozinho e tudo ao nosso redor leva a comermos errado. Ter o nutricionista por perto é como ter um amigo, apoiador e grande incentivador”, diz Lielen, que exemplifica o apoio recebido pela nutricionista via mensagem:

“Esses dias eu queria comer um hambúrguer e perguntei a ela ‘se eu fizesse a carne em casa, colocaria toda a dieta a perder?’ e ela então me orientou. Lógico, esse contato deve ser usado com bom senso. Sei que ficar de cinco em cinco minutos fazendo perguntas torna a relação cansativa”, diz.

Embora sobrecarregue a rotina dos nutricionistas, eles admitem que estar na “palma da mão” ajuda no incentivo e na fiscalização da mudança de hábitos. “É importante que eu, como profissional, dê o máximo de atenção. Assim tenho certeza de que estão no caminho certo e que juntos alcançaremos mais rápido os objetivos traçados na primeira consulta”, explica Karla Trevisan, nutricionista funcional, pós-graduada em fitoterapia com ênfase em emagrecimento, estética e reeducação nutricional.

Louise Lopes Weber, nutricionista especialista em coach de liderança, fundadora do Quixote, empresa de assessoria e consultoria em segurança alimentar, ainda não está totalmente acostumada às mensagens fora de hora, mas não nega os benefícios. “Sobrecarregou o meu dia a dia, não fico mais livre agora. Tem paciente que manda foto da pizzaria, sábado à noite, perguntando se pode comer a pizza de abobrinha. Outros eu os relembro de tomar água. Mas a facilidade do contato melhora o resultado, além de fidelizar a pessoa ao proposto”, explica.

A lembrança via mensagem para se hidratar e dicas de como “fugir” da feijoada em família são algumas das orientações que a Gabriela Paz, médica veterinária de 25 anos, recebe da nutricionista Louise. “Ela vai dando as lições durante a semana, do que tenho que fazer e sempre diz ‘não se esqueça de tomar água’. É um incentivo importante, porque eu tenho bastante dificuldade, sou bem preguiçosa para tomar água. Vejo que o WhatsApp me ajuda principalmente quando preciso comer fora de casa”, relata Gabriela, que está há 15 dias na vida mais saudável.

Gabriela recebe elogios e alertas via WhatsApp da nutricionista Louise Weber (Foto: Daniel Castelhano / Gazeta do Povo)
Gabriela recebe elogios e alertas via WhatsApp da nutricionista Louise Weber (Foto: Daniel Castelhano / Gazeta do Povo)| Daniel Castellano

Dois meses no app

O início do acompanhamento nutricional tende a ser o momento mais difícil para os pacientes, de acordo com as especialistas, e o WhatsApp se transforma em consultório quase diariamente nos dois primeiros meses, em média. Neste período, a prática mais comum é enviar as fotos dos pratos para avaliação, áudios com dúvidas e pedir orientações quando a refeição é feita fora de casa.

“A partir da foto de um prato, avalio a quantidade dos alimentos, a qualidade alimentar e, principalmente, se estão respeitando o plano alimentar traçado. Se estiver tudo certo, sempre devolvo com um elogio e um incentivo para que continue assim. Caso perceba algum desequilíbrio, oriento o paciente para que se lembre do plano e se acontece algum excesso, peço que volte o mais rápido possível ao que foi estipulado”, explica Karla Trevisan, nutricionista funcional.

Mentira não tem vez no WhatsApp, explica Louise Weber. “Eles contam tudo, porque eles querem que você ache uma saída. Se passaram do limite, orientamos a tentar compensar de outra forma, com exercício ou voltando às orientações na próxima refeição. Mas, normalmente quem tenta enganar, na segunda ou terceira consulta não aparece mais. Quem começa se enganando ou achando desculpas acaba abandonando”, diz.

Canal aberto

A maioria dos pacientes gosta da ideia de poder conversar com o nutricionista via WhatsApp, afirma Louise Weber, nutricionista, e logo no segundo ou terceiro dia depois da consulta, encaminham alguma dúvida ou foto. Para ela, é mais um canal de apoio do que de orientação. “Eu gosto bastante porque estreita o laço. O paciente não faz a dieta pelo app, eu continuo acompanhando a cada 15 dias. Mas o contato ajuda a entender suas dificuldades”, explica.

4 vezes na semana é a frequência média de mensagens da Mayara Rolim de Moura, tecnóloga em Radiologia de 24 anos, à nutricionista clínica, Juliane Saugo. Ela começou a mudar a alimentação há três meses e hoje usa o aplicativo de conversa para mandar fotos dos rótulos de produtos novos que quer provar e quando precisa fazer as refeições em um restaurante, para que a nutricionista veja as opções do buffet. “Assim é bem mais satisfatório do que sanar minhas dúvidas apenas na consulta. Ela está sempre presente quando eu preciso”, diz.

Quando vai almoçar fora, Mayara sempre recorre ao WhatsApp para tirar dúvidas com a nutricionista Juliane Saugo (Foto: Henry Milléo / Gazeta do Povo)
Quando vai almoçar fora, Mayara sempre recorre ao WhatsApp para tirar dúvidas com a nutricionista Juliane Saugo (Foto: Henry Milléo / Gazeta do Povo)| Henry Milleo

5 regras antes de enviar

Use o bom senso. Vale quase tudo!

1) Horário comercial sempre! Nada de mandar foto do cachorro quente da esquina, na madrugada do fim de semana, depois da balada. Respeite o horário comercial e mande suas dúvidas nesse período. Se surgir alguma dúvida à noite, mande no dia seguinte.

2) Limite de fotos? Só se o 3G aguentar: ninguém é obrigado a ter um banco de dados eterno no smartphone, e muitas fotos podem sobrecarregar o smartphone do seu nutricionista. Converse com ele sobre os limites.

3) Bom senso na quantidade de mensagens. Imagine abrir o WhatsApp de manhã e ter mais de 100 mensagens de uma mesma pessoa, todos os dias. Lembre-se de que o profissional também tem outros pacientes, que também têm dúvidas sobre a alimentação.

4) Texto ou áudio? Nem todo mundo gosta de receber mensagens de áudio, mas tem quem não se incomode com a opção. Na dúvida, seja sucinto e confirme com o nutricionista qual opção ele prefere.

5) Tenha paciência! O nutricionista pode até ter te respondido muito rápido nas últimas vezes, mas nada impede que ele esteja ou em outro atendimento ou longe do celular naquele momento. Espere e respeite a ausência do profissional.

A nutricionista Juliane Saugo recebe mensagens dos pacientes todas as semanas, pedindo dicas de alimentos substitutos (Foto: Albari Rosa / Gazeta do Povo)
A nutricionista Juliane Saugo recebe mensagens dos pacientes todas as semanas, pedindo dicas de alimentos substitutos (Foto: Albari Rosa / Gazeta do Povo)| Albari Rosa

Perigo da consulta à distância

A nutricionista Telma Gebara, professora da Universidade Tuiuti do Paraná e da Universidade Positivo, diz que usar apps de conversa para motivar os pacientes e tirar dúvidas é aceitável e até incentivado. Fazer um atendimento à distância, com avaliação, diagnóstico nutricional e prescrição dietética, por outro lado, é proibido pelo código de ética do Conselho Federal de Nutrição. Veja a entrevista :

O limiar da atenção à distância é tênue?

Sim. As coisas estão ficando confusas no atendimento nutricional. Se o app for usado como uma ferramenta no tratamento, pode ser válido, mas atender o paciente pessoalmente é imprescindível. Porém, há sites e apps em que você preenche um questionário eletrônico com seu peso, altura e gostos pessoais e a dieta do paciente é ajustada sem nem ver o nutricionista. Isso é impossível de ser feito. Se já é difícil dar um diagnóstico presencialmente, imagine à distância?

Quando as mensagens ajudam?

Quando há dúvidas em relação a algo, ou se você for comer algo que não está na lista de substitutos, sim. Quem passou por cirurgia bariátrica também se beneficia quando há dúvidas ou se surge uma intolerância a algum alimento entre as consultas.

O nutricionista pode usar o aplicativo para incentivar e motivar o paciente?

Tem quem goste e quem não goste disso. Mas construir e reforçar uma relação de confiança é imprescindível. Você pode até oferecer esse suporte e apoio para a pessoa não se sentir abandonada, mas isso não é parte do tratamento. Caso contrário, ele nunca terá autonomia.

Autonomia pelo WhatsApp

Pode não parecer de início, mas ter o paciente no WhatsApp ajuda a criar uma autonomia para o paciente fazer suas próprias escolhas. Se a pessoa não consegue se lembrar de qual opção é mais saudável, ela não vai escolher qualquer uma, mas sim perguntar ao nutricionista pelo celular e assim se manter na linha. Em um segundo momento de dúvida, saberá como escolher melhor.

“Se eu sugiro, durante a consulta, um chocolate em pó, geralmente falo de duas ou três marcas. Caso eles não encontrem o produto, mandam foto dos rótulos de outros produtos para que eu dê uma orientação. Assim eles aprendem e sabem o que olhar e o que analisar antes de comprar algo novo. Eles criam autonomia, o que facilita tanto para ele quanto para os nutricionistas”, explica Juliane Saugo, nutricionista clínica.

Isso ajuda também a criar uma consciência alimentar. “Não cobro um retorno da parte dos pacientes, deixo eles bem a vontade para enviar as dúvidas ou não. Até porque eles precisam criar sua própria consciência alimentar e saber que podem fazer a composição dos pratos da melhor maneira possível e corretamente, sem ter alguém diariamente monitorando. Toda mudança parte muito mais dos pacientes”, explica Karla Trevisan, nutricionista funcional.

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