Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Remédios demais são risco a idosos

Amanda Milléo
21/11/2013 02:12
Prática comum entre brasileiros de qualquer idade, a automedicação é ainda mais perigosa em idosos. Por frequentemente apresentarem condições crônicas, que exigem o uso de vários remédios ao mesmo tempo, eles correm mais risco de reações adversas perigosas, levando-os a outros problemas de saúde ou a ainda mais remédios. Para tanto, os familiares devem ficar de olho na caixinha ou bolsa de remédios deles, buscando aqueles fora de validade e variações genéricas e similares de uma mesma fórmula.
Segundo o diretor clínico da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Breno Barcelos, é muito comum geriatras terem de tratar efeitos colaterais de medicamentos prescritos por outros profissionais ao idoso. “O paciente passa por diversos especialistas, que receitam muitas vezes remédios iguais: um comprimido de um genérico, outro do original e um terceiro do similar. Aí acontece a superdosagem, que ocorre também em tratamentos com antidepressivos ou antipsicóticos”, diz.
Além da superdosagem, as interações medicamentosas podem provocar importantes reações adversas, que conduzem a outros problemas de saúde e ao consumo de mais e mais medicamentos. “Essas interações decorrem tanto de medicamentos prescritos como pelos provenientes da automedicação, além de chás e fitoterápicos, que podem interferir na eficácia e segurança dos remédios”, diz a doutora em gerontologia biomédica e coordenadora do grupo de Assis­­tência Farmacêutica da SBGG, Maria Cristina Werlang.
A ação dos medicamentos em idosos pode ser diferente da inicialmente esperada ou descrita na bula pelas alterações fisiológicas decorrentes do envelhecimento, bem como a reação do organismo. “A avaliação da melhor prescrição deve ser individual e decorrer de aspectos genéticos, das associações evidenciadas entre diferentes remédios, e também da forma de armazená-los e ingeri-los”, diz Maria Cristina.
A higiene da prescrição – uma avaliação realizada quando o paciente manifesta um sintoma –, busca descartar que a causa seja uma reação adversa ao fármaco. “Tontura, confusão, zumbidos, boca seca, entre outros, podem ser causados pelo uso de medicamentos. A frequência de idosos que buscam pelos serviços de emergência nos hospitais, por reações adversas a medicamentos, é elevada”, diz ela.
Acompanhado
Quando o idoso apresenta dependência cognitiva, ele pode confundir medicamentos e tomar doses excessivas de um único remédio. Nesses casos o médico deve recomendar que dali para frente ele vá às consultas acompanhado. “Se o paciente está lúcido, confiamos no depoimento dele. Mas é sempre interessante que um familiar esteja presente. Alguém que você possa orientar sobre as medicações. A gente tem de garantir que mais alguém entenda as recomendações. Às vezes o idoso escuta, chega em casa e não lembra mais nada do que o médico falou”, diz a geriatra Débora Lopes.
Medicação para humor deve ser controlada
Os antidepressivos são eficazes tanto no tratamento da depressão quanto da ansiedade em idosos e devem ser preferidos em relação aos ansiolíticos como os benzodiazepínicos, explica o médico psiquiatra Pedro Antônio Schmidt do Prado Lima, pesquisador de distúrbios neuropsiquiátricos, psicofarmacologia e psicobiologia da PUCRS. “Alguns benzodiazepínicos, como lorazepam e bromazepam, podem causar dependência, diminuir a capacidade de memória e favorecer o desenvolvimento de demência, segundo dados recentes”, aponta.
No entanto, nem todo antidepressivo é recomendável aos idosos. “Devem ser evitados os que tenham o efeito anticolinérgico, que provocam boca seca, constipação, visão borrada, retenção urinária no homem e, mais importante, confusão mental. A mistura de desorientação com alucinações ocorre mais frequentemente à noite”, afirma. Esses, segundo o médico psiquiatra, são possíveis sintomas decorrentes do uso de antidepressivos clomipramina e amitriptilina, conhecidos como tricíclicos.
O psiquiatra informa ainda que os representantes desta classe de antidepressivos são mais agressivos ao coração e podem ocasionar súbitas perdas de sentido quando o idoso se levanta ou senta à cama, causando quedas. “Os outros antidepressivos não provocam esses efeitos”, diz ele.