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SINTONIZANDO: “Eta Mundo Bom” acerta com história simples e escapista

Willian Bressan
22/01/2016 16:00
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Sérgio Guizé conquista o público com sua composição para o caipira Candinho, de "Eta Mundo Bom", estreia da Globo no horário das seis. (Foto: Divulgação / Globo)

Depois da história espírita de Elizabeth Jhin, a Globo resolveu escalar uma novela com mensagem otimista e que fizesse o telespectador sonhar um pouco. A estreia de “Eta Mundo Bom” nesta semana na RPC juntou uma receita infalível: uma boa – e simples – história a um time vencedor: Walcyr Carrasco é autor dos maiores sucessos da faixa nos últimos 15 anos como “O Cravo e a Rosa” (2000), “Chocolate com Pimenta” (2003) e “Alma Gêmea” (2005) e Jorge Fernando, diretor das duas últimas tramas.
Carrasco, que escreveu a adulta e aclamada “Verdades Secretas” no horário das 23h no ano passado, buscou inspiração em “Cândido, ou o Otimismo”, de Voltaire e no clássico filme de Mazaroppi, levado às telas em 1954. A mocinha sofredora clássica da novela das 18h deu lugar a um herói desajeitado, caipira, e com bom coração.
Telespectadores notaram semelhanças entre a vilã Sandra, de "Eta Mundo Bom" (2015), e a Cristina, de "Alma Gêmea" (2005), à direita.
Telespectadores notaram semelhanças entre a vilã Sandra, de "Eta Mundo Bom" (2015), e a Cristina, de "Alma Gêmea" (2005), à direita.
Os primeiros capítulos mostraram uma história simples e sem inovações mirabolantes: é o bom e velho folhetim de volta à faixa com tudo que se espera deles: amores impossíveis, vilanias, desencontros, e o charme dos anos 40 e muito escapismo.  Tudo que a dupla Walcyr e Jorge está acostumada e o que acaba por dar aquela sensação de deja vu, especialmente pela “reprise” de Flávia Alessandra no papel de vilã (ela viveu Cristina em “Alma Gêmea” e hoje é Sandra em “Eta Mundo Bom”). Além disso, o telespectador deve esperar por torta na cara: uma marca da dupla. Mas isso não é necessariamente ruim. Como já falei na crítica de”Totalmente Demais”, mais vale um clichê bem feito e repetido do que uma trama mirabolante e sem atrativos.
Elizabeth Savalla, um “pé de coelho” de Walcyr, que esteve em quase todas as suas novelas na Globo, brilhou logo no primeiro capítulo: a “jeca” Cunegudes que não apoia o amor de sua filha Filó (Débora Nascimento) pelo por Candinho (Sérgio Guizé), que foi criado como um empregado da fazenda Dom Pedro II. Outro destaque da primeira semana foi o retorno de Marco Naninni às novelas após 16 anos – a última participação tinha sido em “Andando nas Nuvens” (1999), no horário das sete, e depois dedicou-se por 14 anos ao papel de Lineu em “A Grande Família”. Sábio, Pancráceo dará conselhos ao protagonista caipira e também promete render boas risadas.
E, embora seja uma trama de época, Carrasco acertou ao inovar e criar uma novela dentro da novela. Os personagens acompanham um radionovela chamada de “Heranças do Ódio” e os telespectadores podem acompanhar o trabalho artesanal realizado naquela época nos rádios brasileiros. A estética da imagem lembra os filmes Techinocolor do começo do século passado e incomoda à primeira vista, mas dá uma roupagem diferente à novela. A trilha sonora, bem como a abertura foram acertos da história.
A escalação de Sérgio Guizé para o papel foi acertada, como mostram os dados da estreia. Logo no primeiro capítulo, os internautas elegeram Candinho como o personagem favorito da trama  e a cena final em que chega a São Paulo foi a mais comentada do capítulo. A frase dele “tudo o que acontece de ruim na nossa vida é ‘pra meiorá'” foi repertuciu entre os internautas e a novela conquistou 25.940 impressões no Twitter, o que fez a hasthtag #EtaMundoBom para os Trending Topics mundiais. Na TV, a audiência também foi boa: a melhor estreia dos últimos seis anos: com média de 25 e picos de 27 pontos em São Paulo. Certamente um recado da audiência à Globo: chega de realidade, favelas e tramas “pesadas”. É hora de sonhar – como diz a autora Gloria Perez –  e “se desligar” para aproveitar uma boa ficção.