Turismo

Antes de ir para Portugal, saiba o que está acontecendo com os turistas por lá

Guilherme Grandi
30/06/2018 12:00
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Portugal recebeu mais de 18 milhões de turistas só no ano passado. Um aumento de 16,96% em comparação com 2016. Foto: Bigstock

Barcelona, na Espanha, já viveu isso. Veneza e Florença, na Itália, também. Agora é a vez de Portugal sentir o fenômeno da ‘turismofobia’, ou a aversão aos turistas. Isso acontece porque o alto número de estrangeiros que visitam o país ou decidem estabelecer residência por lá tem alterado a rotina da população portuguesa.
Essa aversão dos moradores locais aos visitantes é um fenômeno reconhecido pelo governo português, tanto que o país começou a traçar estratégias para evitar que protestos contra turistas comecem a tomar conta das grandes cidades.
Filipe Silva, porta-voz do conselho de administração do Turismo de Portugal, ameniza a situação e avalia que é preciso diálogo e união dos moradores para aceitar os benefícios do mercado turístico. “As pessoas precisam sentir que o turismo é um negócio que vai acrescentar valor para a comunidade e para a região, e portanto precisam perceber essa lógica e fazer parte da equação, participar desse movimento”, explica.
O aumento de turistas em Portugal também é resultado do investimento na área. O país vem investindo em torno de 50 milhões de Euros (R$ 220 milhões) ao ano desde 2014 na promoção turística internacional. Mais pessoas, mais reclamações.

Mudança negativa

Portugueses ouvidos pelo Viver Bem dizem que o país está passando por uma gentrificação, que é quando uma região se valoriza muito mais do que o poder aquisitivo de quem vive ali. “E os moradores locais, que são os que realmente consomem no dia a dia, acabam tendo que gastar mais do que podem ou mesmo se mudar para imóveis mais baratos, longe dos centros turísticos”, reclamou um agente que preferiu não ser identificado, já que esteve no Brasil para promover o turismo português.
Cartaz do movimento "Lisboa does not love" no bairro de Alfama, em Lisboa. Foto: reprodução Facebook.
Cartaz do movimento "Lisboa does not love" no bairro de Alfama, em Lisboa. Foto: reprodução Facebook.
Os destinos que mais sofrem com a turismofobia são Lisboa e Porto. Na capital há até um movimento chamado de ‘Lisboa Does Not Love’ (Lisboa não ama), que afirma não ser contra o turismo, mas contra os abusos que vieram com a massificação e a “falta de vontade político-urbana e da atitude desrespeitosa de certos turistas”, relata a página do movimento no Facebook.
No Porto, a segunda maior cidade portuguesa com 895 anos de história, o jornalista português Luís Octávio Costa conta que o turismo ajudou a economia local, mas afastou os moradores e pequenos comércios da região central – a mais visitada. “Por um lado está sendo bom, está tudo sendo valorizado, mas por outro está provocando uma gentrificação muito forte. Tenho muitos amigos que tiveram que sair do centro por não conseguirem mais pagar os alugueis”, explica.

Invasão de brasileiros

Relatório divulgado recentemente pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras de Portugal (SEF) aponta que o país recebeu mais de 18 milhões de turistas só no ano passado. Um aumento de 16,96% na comparação com 2016. Destes, quase 1,3 milhão eram brasileiros.
O aumento do fluxo turístico também fez crescer a quantidade de pessoas barradas na fronteira. A SEF aponta que 2.269 estrangeiros foram impedidos de entrar em Portugal, sendo 1.336 brasileiros, um aumento de 37,1% na comparação com 2016.
Uma das principais consultorias de turismo do mundo – o IPK International – afirma que 24% dos viajantes internacionais sentem que determinados destinos estão saturados demais de pessoas, e 9% deles dizem que a presença massiva de turistas afetou a qualidade da viagem. A pesquisa, apresentada em fevereiro deste ano, aponta que o fenômeno da turismofobia também está cada vez mais forte no México (Cidade do México), China (Xangai, Pequim e Hong Kong), Itália (Veneza e Florença), Turquia (Istambul), Amsterdã (Holanda) e Espanha (Barcelona).

O que o país está fazendo?

A cidade do Porto se tornou o segundo destino turístico no país, atrás apenas de Lisboa. Foto: Unsplash.
A cidade do Porto se tornou o segundo destino turístico no país, atrás apenas de Lisboa. Foto: Unsplash.
Como o movimento maior de turistas está centrado nas grandes metrópoles portuguesas, uma estratégia que começou a ser adotada pelos órgãos turísticos é a de incentivar que regiões menores também tenham programas de atração de visitantes.
O porta-voz do conselho de administração do Turismo de Portugal Filipe Silva afirma que uma das prioridades parte da necessidade de garantir uma melhor coesão territorial, trazer mais negócios para outras regiões do país, mas não tirar dos grandes centros. Estamos tentando fazer combinações entre os grandes e pequenos, para descentralizar o fenômeno turístico e espalhar por todo o território.
No começo de junho, no entanto, o Banco de Portugal emitiu um relatório que mostra uma certa preocupação com a possibilidade de uma bolha na economia do país, com o turismo sendo responsável por mais de 7% do PIB (Produto Interno Bruto). Só no ano passado, os estrangeiros deixaram uma média de 41,5 milhões de Euros (R$ 182 milhões) por dia durante visitas à Portugal. O certo, é que o país continua sendo o “queridinho” dos turistas de todo o mundo.
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