Turismo

10 dicas fundamentais para percorrer o Caminho de Santiago de Compostela

Guilherme Grandi
23/08/2018 17:00
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Daniel Agrela, autor de "O guia do viajante do Caminho de Santiago", faz um check list para quem quer ter a experiência. Foto: acervo pessoal.

Para fazer o Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha,  é preciso muito mais do que uma mochila nas costas. Afinal, os mais de 800 quilômetros da rota entre o sul da França e a histórica cidade exigem no mínimo 30 dias de caminhada e um preparo físico à altura do esforço.
O caminho clássico começa no município francês de Saint-Jean-Pied-Port, acessível através das cidades de Roncesvalles (Espanha) ou Bayonne (França). Elas são ligadas às capitais Madrid e Paris, respectivamente, por trens e companhias aéreas de baixo custo.
Há 12 séculos os peregrinos percorrem o Caminho em busca de autoconhecimento, superação ou para pagar pecados e promessas. E muitos até repetem a rota, como o chef e empresário paranaense André Luiz Furlaneto.
Ele já foi à Compostela quatro vezes desde 2004 — a  viagem mais recente foi neste ano. A primeira caminhada foi por um objetivo muito pessoal: superar o câncer. Depois para agradecer a cura da doença.
O empresário André Luiz Furlaneto já percorreu o caminho quatro vezes, em algumas delas ajudando outros peregrinos. Foto: acervo pessoal.
O empresário André Luiz Furlaneto já percorreu o caminho quatro vezes, em algumas delas ajudando outros peregrinos. Foto: acervo pessoal.

Superar limites

Os peregrinos costumam brincar que não é a pessoa que escolhe o Caminho. “É ele que nos escolhe”, diz Daniel Agrela, que encarou a jornada pela primeira vez em 2007 e resolveu escrever o livro “O guia do viajante do Caminho de Santiago – uma vida em 30 dias”. Ele foi tocado pela vontade de percorrer a rota de uma hora para outra, e embarcou em apenas quatro dias.
Furlaneto contou ao Viver Bem que viu pessoas superando sérias dificuldades durante a caminhada. “Já vi gente sem o movimento das pernas pedalando bicicleta com as mãos, vi gente de muletas andando, e até um casal com um bebezinho de colo percorrendo o Caminho”, completa.
Na cidade de Pontes de Lima, o albergue recebe os peregrinos do Caminho. Foto: André Luiz Furlaneto/acervo pessoal.
Na cidade de Pontes de Lima, o albergue recebe os peregrinos do Caminho. Foto: André Luiz Furlaneto/acervo pessoal.

Corpo e mente

Antes de comprar uma passagem e embarcar para a jornada, o candidato a peregrino precisa se preparar muito. “Eu tinha medo do que viria, não sabia o que iria enfrentar, então coloquei como meta ir com o corpo completamente resistente”, conta Furlaneto.
E isso incluiu muito condicionamento físico e a escolha da época para viajar. Daniel Agrela, explica que a primavera e o outono europeus são as melhores épocas, por conta das temperaturas mais amenas.
“No inverno neva na região, o que acaba encobrindo ou até mesmo apagando as marcas que sinalizam o Caminho. E no verão as temperaturas são muito altas, mas há gente que encara sem medo”, diz.

Viver com o essencial

Os peregrinos contam que percorrer o Caminho de Santiago de Compostela é aprender a desapegar de tudo o que realmente não precisa. E isso reflete no que será levado para a jornada.
O autor do guia conta que são necessários três itens fundamentais para a peregrinação:
– uma bota confortável que você comece a usar ainda durante a preparação. “Assim a bota vai se moldando ao seu pé, para não chegar na caminhada com um calçado duro e desconfortável”, explica Daniel. Ele recomenda comprar o calçado com um ou dois números maiores, para ter uma folga.
– um saco de dormir que aguente temperaturas de 0°. “As camas nos albergues ao longo do Caminho não têm lençóis, cada um dorme no seu próprio saco”, conta.
– uma mochila com alças que prendem no quadril, para distribuir bem o peso pelo corpo. “E só levar o que é realmente necessário, pois você irá percorrer 800 quilômetros com ela nas costas”, completa.
Na mochila ainda vão comidas que ajudem a manter o corpo bem nutrido em trechos mais longos, para aguentar a caminhada. Frutas secas, água e todo tipo de alimento que não faça muito peso. “Nos vilarejos e nos albergues já há uma boa estrutura para receber os peregrinos com as principais refeições do dia”, explica Daniel Agrela.
Remédios de uso frequente, analgésicos e filtro solar também devem estar na mochila.
A peregrinação termina na Catedral de Santiago de Compostela. Foto: VisualHunt.
A peregrinação termina na Catedral de Santiago de Compostela. Foto: VisualHunt.

Check list

Veja o que é preciso fazer para a peregrinação do Caminho de Santiago de Compostela, segundo Daniel Agrela:
1- Tenha um motivo realmente forte que te faça sair da zona de conforto para percorrer a jornada.
2- Informe-se bem sobre o Caminho, como é a trilha e o que vai encontrar lá.
3- Prepare-se fisicamente  para aguentar os altos e baixos da rota.
4- Faça um check-up e converse com o seu médico.
5- Consulte sua conta bancária. Você vai precisar se alimentar e dormir em albergues. Daniel explica que algo como 1.400 Euros (R$ 6.314) é o suficiente para os 30 e poucos dias de caminhada – a duração vai depender do seu preparo físico. Alguns restaurantes no caminho servem o “Menu do Peregrino”, com menus de entrada, prato principal e sobremesa em torno de 15 Euros (R$ 67).
6- Aprenda a viver com o essencial, leve apenas o que vai realmente usar.
7- Respeite os seus limites, não force uma caminhada que seu corpo não aguenta.
8- Não esqueça o cajado, ele é muito importante em subidas, descidas e terrenos acidentados. Há locais, como o início da rota nos Pirineus, que a altitude varia de 200 a mais de 1.200 metros.
9- Vá com a mente aberta para conhecer novas culturas, pois você encontrará pessoas do mundo todo com motivos bem diferentes.
10- Controle a ansiedade e a paciência: a jornada é longa, mas a satisfação ao final dela vale todo o esforço.
O caminho clássico começa no município francês de Saint-Jean-Pied-Port, acessível através das cidades de Roncesvalles (Espanha) ou Bayonne (França). Elas são ligadas às capitais Madrid e Paris, respectivamente, por trens e companhias aéreas de baixo custo.
“Depois de uma jornada dessas, o único sentimento que fica é a gratidão, nada de ruim”, finaliza André Luiz Furlaneto.
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