Turismo

Caçador de auroras boreais mostra onde observar o incrível fenômeno pelo mundo

Guilherme Grandi
05/05/2018 17:00
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Marco Brotto começou a caçar auroras boreais em 2008, mas a primeira experiência como “turista” não foi bem sucedida. Foto: acervo pessoal. | Marco Brotto

O passaporte do curitibano Marco Brotto impressiona pela quantidade de carimbos de países pouco usuais para a grande maioria dos turistas do mundo. Islândia, Groenlândia, Noruega, Suécia, Finlândia, Rússia, Alasca (EUA) e Canadá se destacam nas páginas. Já se sabe: ele não é um turista comum.
Marco é um caçador profissional de auroras boreais, o fenômeno da natureza que pinta os céus da região do Círculo Polar Ártico com tons de roxo e verde durante as madrugadas. Na verdade, cientificamente falando, é o impacto de partículas dos ventos solares na atmosfera da Terra, canalizadas pelo campo magnético do planeta. É algo que muita gente tem vontade de ver pelo menos uma vez na vida, mas que Marco já “caçou” em 51 expedições.
A última passagem dele foi pelo Alasca no último dia 10 de abril. Foi o 10º passeio em busca de auroras apenas neste ano e já há mais 12 programados (veja no fim da reportagem como participar). “Eu passo seis meses em Curitiba e seis meses viajando”, conta o empresário de 47 anos que tem uma loja de móveis na capital, mas passa a maior parte do tempo analisando gráficos e planejando as próximas jornadas.
A paixão de Marco pelas auroras boreais começou em 2007, quando ele viajava com amigos pela região do Vale da Morte, na Califórnia. Numa noite quente, quando contemplavam o céu estrelado, ele escutou o que daria origem a uma odisseia especial: “se o céu já é lindo assim, imagina com aquelas luzes que dançam no céu no Polo Norte”.
Ao voltar para o Brasil, Marco correu passou a pesquisar pacotes de viagens que tivessem passeios para avistar as auroras boreais. Na busca, ele encontrou um cruzeiro pelo Alasca de menos de US$ 100 por dia e que incluía hospedagem, alimentação e transporte. “Parecia perfeito, mas foi frustrante. Não vi nada e só choveu” lamenta. Foi aí que ele aprendeu que a ‘Dama da Noite’ não é assim tão fácil de se encontrar.
O Alasca é um território americano colado no Canadá, e a poucos quilômetros da Rússia. Foto: acervo pessoal.
O Alasca é um território americano colado no Canadá, e a poucos quilômetros da Rússia. Foto: acervo pessoal.

Paixão e obsessão

O primeiro fracasso em busca das auroras boreais se transformou em uma paixão compulsiva impossível de descrever. Para Marco, a aurora boreal “é um espetáculo magnífico e único para interagir com o universo”. E depois da experiência do Alasca, ele nunca mais errou a mão. Já foram mais de 400 avistamentos.
Em 2011, sob um frio de -17° na região norueguesa de Tromso, ele viu o céu se enfeitar pela primeira vez. Foram dias no meio da neve viajando de ônibus e de navio pelos fiordes, “e então a noite escura ficou verde às três da manhã”. “O cansaço compensou”, completa o caçador ressaltando que as auroras boreais não funcionam como um clique no interruptor da parede.
Não há um manual de instruções que explique como faz para ver a aurora boreal, e nem uma ‘previsão do tempo’ indicada pela moça da tevê. Ele explica que “não é só chegar e olhar para o céu. Há vários fatores que influenciam na formação delas, como a direção dos ventos, a formação dos buracos coronais (a fonte dos ventos solares que irradiam na atmosfera da Terra), o campo magnético, e por aí vai”. E tudo isso pode mudar de uma hora para outra, inclusive no meio do caminho de um avistamento.
A Islândia marca algumas das principais lembranças do caçador de auroras boreais. Foto: acervo pessoal.
A Islândia marca algumas das principais lembranças do caçador de auroras boreais. Foto: acervo pessoal.

‘Perrengues’

São essas experiências mais difíceis que marcam cada caçada à aurora boreal. A que ele fez na Islândia no ano passado, por exemplo, foi inesquecível. “Viramos a madrugada gelada em busca da aurora boreal. Todos os grupos locais desistiram da caçada, mas o meu seguiu firme por mais de cinco horas até que conseguimos ver as luzes dançando no céu.
Quando nós voltamos ao hotel, por volta das 4h da manhã, havia uma placa informando que a busca tinha sido cancelada naquela noite, que não daria em nada. Aí o Francesco [um dos participantes do grupo], pegou a placa e mostrou para a recepcionista, contestando isso”, lembra.
Com um passaporte tão recheado de carimbos de lugares inóspitos, a coleção de ‘perrengues’ também rende uma longa conversa. No arquipélago de Svalbard, o único lugar do mundo mais perto do Polo Norte em que é possível chegar de avião, Marco ficou extremamente perto do perigo: “eu estava passeando de motosky perto de uma geleira, quando a nossa guia nos mandou chegar para mais perto dela. Foi nesse dia que aprendi que a velocidade de ataque de um urso polar pode chegar a 60 quilômetros por hora, então caso um urso estivesse naquele momento iniciando o ataque, ele me pegaria antes de eu conseguir voltar para a moto, ligar e atingir a velocidade necessária para fugir dele”.
Uma das espetaculares paisagens da Groenlândia. Foto: acervo pessoal.
Uma das espetaculares paisagens da Groenlândia. Foto: acervo pessoal.

E a próxima?

A próxima jornada do caçador de auroras boreais será um pouco diferente das que ele já fez. No dia 20 de maio ele embarca em busca das ‘auroras austrais’, ou seja, as que ocorrem no hemisfério sul do planeta. “Eu vou para a Nova Zelândia fazer uma viagem de inspeção, para conhecer o lugar e pesquisar onde encontrar os fenômenos”, conta.
Marco Brotto conta que as auroras austrais não são tão brilhantes como as do hemisfério norte. “É porque o continente está longe do círculo polar”, completa. As aventuras do ‘caçador de auroras boreais’ estão explicadas com muitos detalhes no blog dele.
Os passeios para avistar as auroras boreais custam a partir de US$ 4.490. Foto: acervo pessoal.
Os passeios para avistar as auroras boreais custam a partir de US$ 4.490. Foto: acervo pessoal.

Quanto custa o passeio?

Os passeios que Marcos organiza para conhecer as auroras boreais duram em média nove dias, e ocorrem principalmente entre os meses de setembro e abril em países do hemisfério norte. As jornadas custam a partir de US$ 4.490 e podem ser consultadas no site da operadora de turismo parceira dele.
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