Turismo

Eles são loucos pelos brindes de hotéis e companhias aéreas, mas isso pode acabar

Guilherme Grandi
31/07/2018 17:00
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De olho no desperdício, hoteis já estão deixando de oferecer os mimos. Foto: Bigstock

Levar um dos pequenos frascos de shampoo ou mini sabonetes que os hotéis deixam no quarto a cada nova reserva é uma prática comum. Eles podem ser bonitos, com um design elegante, mas, assim como os canudos de plástico se tornaram os grandes vilões dos últimos anos, estes ‘mimos’ também estão na mira contra o desperdício e o acúmulo.
E não é difícil encontrar gente que não tenha pelo menos um ou outro brinde de um hotel em que se hospedou. Seja para guardar como lembrança, levar para a academia, viagens curtas e oferecer a amigos que passam uma noite em casa.
Pelo menos é o que o arquiteto curitibano Ronnie Ricardo Guimarães faz quando viaja ou recebe amigos. Ele tem uma coleção de mais de 30 mini sabonetes que só leva “para não usar sabonetes de amigos, e também na maioria das vezes utilizo pra lavar mãos”.
O professor universitário Alex Franz também é desses. Ele era consultor de hotéis e arrecadou uma porção deles ao longo da vida, que usa em viagens e “no dia a dia, ofereço para visitas que acabam tendo que dormir em casa”.
Vai levar para casa? Fique atento à data de validade. Foto: VisualHunt.
Vai levar para casa? Fique atento à data de validade. Foto: VisualHunt.

Acúmulo

O problema maior é quando os mimos dos hotéis vão se acumulando no armário e depois são simplesmente jogados fora. E os números não mentem.
O mercado de amenities só no Brasil gira em torno de R$ 3 bilhões ao ano para suprir mais de 350 milhões de reservas em hotéis e pousadas de todo o país. Um mercado bilionário que, tal qual os canudinhos de plástico, também geram montanhas de lixo.
Tanto na Europa como nos Estados Unidos, grandes redes de hotéis estão começando a substituir os amenities por dispensadores de shampoo e sabonete líquido. Ou mesmo limitando a distribuição destes produtos a apenas um frasco a cada dois dias. Pelo menos três hotéis visitados recentemente pelo Viver Bem já fazem essa limitação.
A tendência é de que os amenities sejam substituídos por dispensadores como estes. Foto: VisualHunt.
A tendência é de que os amenities sejam substituídos por dispensadores como estes. Foto: VisualHunt.

Fim de uma era?

Enquanto os aficionados por amenities podem ficar sem seus mimos no futuro, a ONG Argilando vai perder os produtos de um dos seus principais projetos sociais: o Mini Gentilezas.
Este projeto começou a ser desenvolvido em 2016 como uma ideia de uma ação social que acabou viralizando na internet. A ONG arrecada os amenities e os distribui no formato de kits para pessoas em situação de rua em 62 cidades do país, além de localidades nos Estados Unidos e no Canadá.
A coordenadora do projeto, Karina Rocha, acompanha a tendência de acabar com os amenities, mas não vê isso como um problema para as ações. “O projeto ganhou uma credibilidade muito maior do que apenas doar os shampoos e sabonetes. Depois que ele começou, algumas pessoas começaram a doar espontaneamente em grandes quantidades”, explica ela afirmando que o projeto vai continuar em pé.
A ONG já fez mais de 84 mil atendimentos com os amenities doados. Em Curitiba há 12 pontos de coleta nos bairros Água Verde, Alto da Glória, Mossunguê, entre outros, que podem ser consultados pela fanpage do projeto Mini Gentilezas.
Os shampoos e sabonetes de hotéis podem provocar problemas de pele se usados dom frequência. Foto: Unsplash.
Os shampoos e sabonetes de hotéis podem provocar problemas de pele se usados dom frequência. Foto: Unsplash.

Não pode no dia a dia

Apesar de alguns terem um design elegante e até mesmo decorativo, os amenities de hotéis não podem ser usados pelas no dia a dia ou com muita frequência. É o que explica o médico dermatologista Gustavo Saczk.
De acordo com ele, os shampoos e sabonetes podem ser um problema para a pele. “Como são colocados à disposição para qualquer hóspede, pessoas com pele sensível ou que apresentem irritação ao produto podem desenvolver descamação na pele, coceira ou piorar lesões faciais e corporais”, analisa.
Gustavo Saczk conta que nada que é feito para o grande público deve ser usado por um viajante com a pele sensível sem orientação prévia. “Nesses casos, sempre indico a meus pacientes levarem na mala os seus produtos de higiene pessoal. Porque nessas horas, usar algo indevido pode acabar com sua viagem antes do tempo”, completa.
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