Turismo

A dificuldade em caminhar não o impediu de atravessar continentes e conhecer 122 países

Guilherme Grandi
13/06/2018 17:00
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Os médicos chegaram a recomendar a amputação de uma das pernas de Luiz. Mas ele não aceitou, e precisou passar por 43 cirurgias depois do acidente. Foto: acervo pessoal.

Em um dia normal de trabalho em 2003, entre idas e vindas de compromissos, o engenheiro agrônomo Luiz Thadeu Nunes e Silva viveu a pior experiência da vida dele, e que mudaria praticamente todo o seu futuro.
Um grave acidente de carro em São Luís (capital do Maranhão) o deixou de cama por quatro anos, quase custou a amputação de uma das pernas, o fez passar por 43 cirurgias e cessou totalmente os movimentos da perna esquerda — desde então, ele caminha com o auxílio de muletas.
Foi o estalo para  ver que a vida não precisa ser apenas casa-trabalho — ele então se jogou nas viagens pelo mundo, e já conheceu mais de 100 países, mesmo com as dores crônicas fortes na perna. “Eu não tinha nenhuma perspectiva de fazer o que eu faço hoje. A única coisa que eu queria era poder voltar a andar normalmente”, explicou  o engenheiro de 59 anos, em visita a Curitiba.

O começo

Luiz conta que, durante um período, ele não tinha sequer confiança de cruzar uma rua por conta da falta de mobilidade na perna esquerda. Hoje, “não há um oceano na Terra que eu não atravesse”. O início do gosto pelas viagens foi em 2009, quando um de seus filhos, Rodrigo, foi estudar em Dublin (Irlanda) e convidou o pai para fazer um roteiro de viagem pela Europa. “Você tá ficando louco?!” exclamou Luiz na época.

Um, dois, 122 países

O viajante das muletas é fascinado pela Ásia, em Bali fez este registro em um dos templos. Foto: acervo pessoal.
O viajante das muletas é fascinado pela Ásia, em Bali fez este registro em um dos templos. Foto: acervo pessoal.
A lista de países visitados por Luiz já soma 122 nos cinco continentes, e a meta é conhecer todas as 194 nações do mundo catalogadas pela ONU até os 65 anos. “Neste ano eu completo 60, e pretendo chegar a dezembro com 131 carimbos no passaporte”, explica ao detalhar o próximo roteiro: Salar de Atacama, no norte do Chile, já a partir do fim de junho; ilhas remotas da Oceania (Fiji, Vanuatu, Nova Caledônia e Samoa), Austrália, Nova Zelândia e seis países da América Central.
Ele planeja ainda ir para a Coreia do Norte até o fim do ano. “Este pode ser um pouco mais difícil. Não é certeza que eu vou conseguir, mas pretendo”. Nos planos de lugares fascinantes que ele diz que ainda precisa conhecer estão a Mongólia, Groelândia, Himalaia, Sibéria e as ilhas de Kiribati e Tuvalu – antes que elas fiquem completamente submersas por conta do aquecimento global.

Contratempos

Luiz explicou que não há nada no mundo que o faça parar de viajar. “Por incrível que pareça, eu só tenho dificuldades em andar de muletas aqui no Brasil. Lá fora nunca passei por nada que atrapalhasse meus deslocamentos”. Em uma das paradas para um café em Helsinque (Finlândia), ele conheceu um deficiente visual brasileiro que estava percorrendo a Europa com o cão-guia, e disse que no Brasil enfrentaria muitas dificuldades se tentasse fazer o mesmo (ainda que o acompanhamento do animal seja garantido por lei)

Na ponta do lápis

No leste europeu, Luiz foi até a Armênia, uma das ex-repúblicas soviéticas. Foto: acervo pessoal.
No leste europeu, Luiz foi até a Armênia, uma das ex-repúblicas soviéticas. Foto: acervo pessoal.
As experiências de viagem de Luiz duram entre um e três dias em cada localidade. Tudo meticulosamente planejado e pesquisado. “Eu comecei a juntar economias com 18 anos, mas era para a aposentadoria, não para viver viajando”, explica ele, ressaltando que isso não quer dizer que ele saia esbanjando a cada viagem.
Ele fica sempre atento para promoções e não liga muito para luxo. Também vasculha os sites das companhias aéreas e programas de milhagem. “Eu só saio da minha casa, em São Luís, com tudo pronto e pago. Se não estiver planejado, com tudo o que eu quero e pretendo fazer, eu nem vou”, salienta ele, que usa aplicativos no smartphone para ajudar no planejamento e monitorar as promoções.
A tecnologia também ajuda o engenheiro a seguir trabalhando a distância nas viagens. Na mala para despachar vão as [poucas] roupas, “apenas o necessário”, diz Luiz. Na de mão vão o computador e os remédios: “sou campeão em perder malas, então o principal vai comigo”.
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