Turismo

Chef encontra receita para equilibrar saúde, vida pessoal e turismo: pedalar pelo mundo

Rafael Costa
24/09/2017 08:00
Thumbnail

(Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo) | Gazeta do Povo

Não é demais afirmar que Dudu Sperandio gosta tanto de bicicleta quanto de cozinha. A paixão pelo pedal, aliás, veio antes: “Tem fotos minhas no tico-tico aos dois, três anos”, conta o chef curitibano, dono das casas Ernesto Ristorante e Bar, Funiculì e Quanta Basta. Eleito Chef 5 Estrelas em 2016 pelo Prêmio Bom Gourmet, ele foi vencedor da melhor massa na edição 2017 do Prêmio.
Fora do país nas últimas semanas, o chef embarcou em uma aventura de cerca de 2 mil quilômetros pedalando pela Noruega, Dinamarca e Alemanha — uma viagem de 36 dias que nem está entre as suas mais ousadas, porque ficou incompleta.
Foto: Acervo pessoal
Foto: Acervo pessoal
Paisagem registrada pelo chef durante sua última viagem de bicicleta. Foto: Acervo pessoal
Paisagem registrada pelo chef durante sua última viagem de bicicleta. Foto: Acervo pessoal
Sperandio já cruzou 5.700 quilômetros de uma costa a outra nos Estados Unidos, entre Nova York a São Francisco, em 2009. No começo de 2013, foi de Caiobá a Tocopilla, no Chile — 3.149 quilômetros, pelas suas contas, vencidos em 35 dias.
O resto da viagem pela Europa deve ficar para julho do ano que vem. Além de Noruega, Dinamarca e Alemanha, a rota vai avançar até o sul da Itália.
Puxado
É um jeito duro de se viajar. Em um dia bom, Sperandio pedala 150 quilômetros. Em dias difíceis, como os que enfrentou na Cordilheira dos Andes e no frio da Escandinávia, o corpo cede depois de 60.
Entre uma cidadezinha e outra, o melhor almoço às vezes é um macarrão instantâneo — “na estrada, é como um restaurante estrela Michelin”, brinca. Há noites em que não há jeito a não ser dormir na rua, na falta de um planejamento que resista aos imprevistos da estrada.
Foto: Acervo pessoal
Foto: Acervo pessoal
É desconfortável, penoso e, em alguns momentos, perigoso — mas é uma busca que o inquieta desde a infância, explica Sperandio.
“Quando criança, a gente sempre ia a Foz do Iguaçu para passar o Ano Novo. Íamos a Ciudad del Este, naquela partezinha da cidade em que todos estamos acostumados a ir. Eu queria descobrir o que tinha depois que acabava a cidade, ir além do conhecido”, conta.
“A essência das minhas viagens de bicicleta é a liberdade de conhecer os lugares que até mesmo as pessoas locais não conhecem”, explica.
Preparação
Mas só filosofia não empurra bicicleta. Sperandio diz que qualquer um com espírito aventureiro pode fazer o que ele faz, mas reconhece que é preciso se preparar — nem que seja ao longo do caminho.
Sperandio diz que qualquer um com "espírito aventureiro" pode tentar uma viagem de bicicleta. A prova: na última viagem, encontrou idosos cruzando a estrada. Foto: Acervo pessoal
Sperandio diz que qualquer um com "espírito aventureiro" pode tentar uma viagem de bicicleta. A prova: na última viagem, encontrou idosos cruzando a estrada. Foto: Acervo pessoal
Ele mesmo pratica triatlo desde 1999 e conta estar sempre treinando alguma coisa de bicicleta, corrida e natação. Para aguentar um projeto estafante como essas aventuras de costa a costa, precisa de disciplina para conseguir perder peso e começar bem.
Pode parecer um estilo de vida difícil de conciliar com a gastronomia, e é. “São duas paixões que brigam entre si”, conta.
“Tem horas em que viro um atleta que treina para o Ironman. Treino quatro, cinco horas por dia, seis vezes por semana, e levo isso à risca por oito meses. De repente, em algum momento, paro de treinar. Aí viro só chef de cozinha e dono de restaurante, que come, come e festa”, diz.
O chef diz que agora almeja um meio termo entre essa rotina regrada, acompanhada por nutricionista, e a vida regada a boa comida e bons vinhos, que ele mesmo supervisiona.
“Talvez eu seja exagerado. Quando faço esporte, talvez faça muito esporte. Quando fico no restaurante, acabo me dedicando demais ao restaurante e abandonando a parte pessoal”, confessa. “Como é muito bacana comer bem e tomar um bom vinho, às vezes isso acaba tirando o foco. O ideal é equilibrar.”
LEIA TAMBÉM