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Imigrantes puros de origem
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A Holanda fica a pouco mais de 150 km de Curitiba. A Ucrânia, a 200 km. Nos Campos Gerais, interior do Paraná, ainda é possível visitar a Alemanha. E, em todos os casos, serão viagens ao passado. Nas colônias de imigrantes, o visitante vai encontrar o estilo de vida dos primeiros descendentes de alemães, holandeses, ucranianos e outros povos europeus que chegaram a terras paranaenses há mais de 50 anos. Muitas vezes, com hábitos e tradições que os antepassados faziam quando chegaram aqui e que não são mais comuns hoje em dia nem mesmo nos países de origem, como as danças típicas e o artesanato.

Os produtos turísticos de inspiração eslavo-germânica da região estão reunidos na Cooperativa Paranaense de Turismo (Cooptur). A cultura de agregar pequenos empreendedores para trabalhar juntos e fortalecer a cadeia está no DNA de cada empresário local. “Formar a cooperativa para divulgar nossas etnias foi uma consequência da nossa trajetória”, explica o presidente da Cooptur, Dick Carlos de Geus.

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A colônia mais expressiva é a holandesa. No Paraná, ela se divide entre Carambeí, Castrolanda e Arapoti. Mas é na região dos Campos Gerais que o laranja da bandeira da Holanda tem status de cor nacional. A pátria de origem está nos nomes dos moradores, no alarido das conversas, na arquitetura, na gastronomia e na organização da cidade. Essa herança é o maior patrimônio turístico de Carambeí e Castrolanda, distantes 25 km uma da outra.

O núcleo urbano de Carambeí é o mais antigo. As primeiras famílias holandesas chegaram em 1911. Sustentados pelos pilares da educação, religião e cooperativismo, formaram a vila que deu origem ao município, hoje com 17 mil habitantes. A base da economia é a pecuária leiteira, e as famílias pioneiras fundaram a primeira cooperativa do país, a Batavo.

Toda a história da colonização é contada no Parque Histórico Carambeí, fundado em 2011. O antigo curral da família de Geus, uma das seis pioneiras da cidade (há ainda os Vershoor, Vriesman, Voorsluys, Harms e Los), foi transformado na Casa da Memória, com uma mostra permanente de objetos e réplicas de imóveis da época da imigração. Na cafeteria, outro exemplo da herança com marca da Holanda: saborosas tortas doces que hoje são referência da culinária local. É só o primeiro desafio à mesa, sempre farta e com alimentação baseada em laticínios e tubérculos.

O parque foi inspirado em uma área semelhante de origem ucraniana que existe no Canadá. Uma ponte doada pelo governo holandês abre passagem para um cenário amplo de terras cultivadas a perder de vista e leva o visitante à vila histórica de Carambeí. Imóveis de época foram reproduzidos no local, contando a moradores e visitantes a história vitoriosa dos pioneiros. Igreja, escola, estábulo, leiteria, abatedouro, casa dos colonos. Móveis, utensílios e objetos que ganham vida nas edições do museu interativo, realizado aos feriados por colonos de verdade, vestidos com roupas típicas e que reproduzem a rotina centenária que deu origem ao município.

A partir do fim de novembro, o Parque Histórico ganha novas atrações. A ideia é transformar o local no polo natalino da região. O evento é realizado há dois anos, com decoração especial e apresentação de corais. Mas em 2013 serão realizados espetáculos de grande porte, com cenografia e participação de atores, com ênfase na comemoração religiosa da data.

Uma nova edição holandesa

Atraídos pelo sucesso da colônia em Carambeí e por um plano de ocupação territorial que previa acordos de cooperação entre a Holanda e o Brasil, 50 famílias chegaram a Castro, nos Campos Gerais, em 1951. Vieram de mala cheia: mil cabeças de gado leiteiro, maquinário, trator, engenheiros, veterinários e disposição para o trabalho. Assim surgiu a Castrolanda Agropecuária, que também batiza a área de 5 mil hectares onde os fazendeiros se instalaram, a 7 km do centro de Castro e onde hoje moram 3 mil pessoas, grande parte descendente dos pioneiros.

Na região central da colônia, onde estão instalados a cooperativa, bancos, escola, igreja e as casas dos moradores mais antigos, fica também O Imigrante, moinho símbolo da colonização, inaugurado em 2001. Construído por um especialista holandês, “importado” especialmente para a missão, o moinho tem 39 metros de altura e toda a estrutura feita em madeira, sem uso de pregos. O lugar abriga um centro de eventos e exposições permanentes que contam a ocupação da área e o desenvolvimento da cooperativa. Vale percorrer os andares até conhecer o equipamento de moagem, em perfeito funcionamento.

Outra visita indicada é o museu do colono, do outro lado da rua. A antiga casa de fazenda reproduz os ambientes em detalhes. A inspeção minuciosa leva a uma divertida viagem no tempo.

Os passeios na região – com visitas a leiterias e estufas de flores – estão na agenda da pousada Oosterhuis, de Willemien Strijker, empresária de 27 anos, entusiasta da atividade turística na colônia. We, como é chamada pelos amigos e clientes, montou a pousada na antiga casa dos pais. Faz questão de manter a decoração típica e o cardápio holandês no café da manhã. E um triciclo para passeios em família, especialidade da casa.

Vida no campo
De ascendência mista, menonitas abrem a porteira

Quem visita a Colônia Witmarsum pode até não gostar de queijo – e não fazer ideia do que está perdendo –, mas, se curtir uma boa história, já ganhou a viagem. O responsável pelo museu local, o historiador Heinz Egon Plilippsen, é capaz de discorrer horas sobre a origem do seu povo e a formação da colônia menonita – de origem holandesa e alemã – de todas, a mais ligada às orientações da religião. Mas também pode falar de geologia para estudantes universitários, que visitam o lugar por conta das formações rochosas de Vila Velha. Seja qual for o tema, a conversa vai ser uma das boas recordações da viagem.

O museu foi montado na casa da Fazenda Cancela, comprada pelas famílias que vieram de Santa Catarina em 1950 e dividiram os 7.800 hectares para criação de gado leiteiro e lavoura. Os dois mil moradores se dedicam à pecuária de leite e à produção de queijos finos, segmento que salvou a colônia da falência, há 15 anos.

Os menonitas recebem para comer – para almoços e cafés coloniais – e para hospedar, com direito a passeios nas propriedades. A empresária Evelyn Janzen Hamm, da Pousada Campos Gerais, é uma das grandes incentivadoras do turismo local. Há oito anos, montou a pousada na casa da família, onde recebe hóspedes que desfrutam a vida do campo em passeios a cavalo e piqueniques na beira do rio, a bordo de um trator. A comida típica menonita ela prepara com ingredientes que compra na própria colônia, incentivando os outros moradores a entrarem no circuito. Assim fica fácil levar para casa um pouco da broa, queijos, requeijão ou linguiça que são degustados no café da manhã.

Emoções
Religião e aventura nas cachoeiras para conhecer Prudentópolis

A Igreja de São Josafat e os demais 33 templos bizantinos de Prudentópolis são exemplos da dedicação religiosa dos primeiros ucranianos que chegaram à região. A matriz, no centro da cidade, tem decoração impecável, feita com painéis de madeira de lei com passagens bíblicas. Ícones religiosos ornamentam o templo, e o jardim é um convite à oração e ao recolhimento.

Na área rural do município, onde vive 70% da população, igrejinhas de madeira reforçam a religiosidade dos moradores. A cidade mantém tradições ligadas à fé, como a produção das pêssankas, ovos coloridos, pintados à mão com bico de pena e cera de mel, símbolo da Páscoa e usado para presentear amigos e familiares.

Além de conhecer mais das tradições ucranianas, como o artesanato e templos religiosos, o visitante pode esquentar o sangue em aventuras radicais. O relevo acidentado e a rede hidrográfica são ingredientes para formação de cachoeiras gigantes. No parque Ninho do Corvo, tirolesas e a descida de 70 metros de altura por rapel proporcionam novos pontos de vista para observar quedas d’água no meio da área de dez hectares. Indispensável usar roupas confortáveis, que possam ser molhadas, e levar uma troca de roupa, para voltar seco e extasiado para casa.

Outra dica de curtição em Prudi, como é carinhosamente chamada pelos moradores, é o hotel fazenda Ózera. Pedalinhos, bicicletas, caiaques, cavalgada, piscina aquecida e pescaria estão na lista de atividades oferecidas aos hóspedes.

Velhíssima jovem senhora de 60 anos

Os arenitos já passaram, e muito, das seis décadas que o Parque Estadual de Vila Velha completou neste mês. As formações rochosas que estimulam a imaginação dos visitantes têm mais de 300 milhões de anos. Aqui não há influência de colonizações étnicas. Mas a proximidade do parque das colônias é um bom motivo para visitá-lo.

A visitação está mais organizada, limitada a 800 pessoas por dia. O controle é feito no Centro de Visitantes, de onde partem os micro-ônibus do transporte interno que levam os turistas para as três principais atrações locais: os arenitos, as furnas e a Lagoa Dourada. Como parte das comemorações pelos 60 anos da assinatura do decreto que criou o espaço, mais três produtos estão sendo lançados, e devem aumentar o tempo de permanência no local, de três horas para dois dias. A caminhada noturna, o cicloturismo e a trilha da Fortaleza vão levar os visitantes a experiências diferentes dentro do mesmo cenário.

A visita aos arenitos é feita em trilhas e acompanhadas de perto pelos monitores. A cada passo, é possível observar as pedras gigantes, muitas em formatos inusitados, que são esculpidas diariamente pelo vento.

Depois de circular entre as rochas, o visitante pode conhecer as furnas, imensas crateras com profundidade de 100 metros, formadas por fissuras no solo. Por fim, a Lagoa Dourada, cuja superfície está na mesma altitude do nível da água das furnas. A água cristalina seria um excelente convite para um banho, mas isso é proibido, assim como pescarias no local.

A jornalista viajou a convite da Cooperativa Paranaense de Turismo e do Sebrae.

Colônias étnico religiosas nos Campos Gerais

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