Turismo

Do Chile à Argentina correndo: conheça o trajeto de 3 dias da corrida El Cruce

Monique Portela, especial para Gazeta do Povo
20/11/2018 17:30
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Na chegada, corredores vão apreciar o Vulcão Vilarrica.

Com paisagens deslumbrantes, a corrida El Cruce chega a 17ª edição com a mesma proposta que a originou: desafiar corredores de todo o mundo a fazerem, em três dias, um percurso de 100 quilômetros entre o Chile e a Argentina pela Cordilheira dos Andes.
No trajeto, que este ano será entre os dias 6 e 10 de dezembro, os participantes encontram vales, lagos, picos nevados, bosques, áreas rochosas e até vulcões. Depois do primeiro trecho, que é de cerca de 40 quilômetros, um acampamento no alto da montanha recebe às margens de um rio os corredores exaustos, com toda a infraestrutura para que passem a noite com conforto.
Os participantes passam duas noites em acampamentos no meio da Cordilheira dos Andes. Foto: El Cruce Oficial/Reprodução Facebook  OU (Se usar A FOTO 1 EXTRA) Foto: Tayana Damiani Pontarolli/Arquivo pessoal
Os participantes passam duas noites em acampamentos no meio da Cordilheira dos Andes. Foto: El Cruce Oficial/Reprodução Facebook  OU (Se usar A FOTO 1 EXTRA) Foto: Tayana Damiani Pontarolli/Arquivo pessoal
Na manhã seguinte, os participantes refazem as duas malas — uma que levam consigo com equipamentos de segurança, outra que deixam no acampamento para que seja transportada pela organização até o próximo destino — e se preparam para correr até o segundo acampamento, também alocado às margens de um rio. Por fim, correm até o ponto de chegada, na cidade de Pucón.
O churrasco de fogo de chão, assim como frutas e outros alimentos, são servidos à vontade, e o clima de confraternização e relaxamento prevalece. Foto: Tayana Damiani Pontarolli/Arquivo pessoal
O churrasco de fogo de chão, assim como frutas e outros alimentos, são servidos à vontade, e o clima de confraternização e relaxamento prevalece. Foto: Tayana Damiani Pontarolli/Arquivo pessoal
“É muito legal. Você chega no acampamento e as barracas já estão todas montadas, as malas já estão todas organizadas e tem comida o dia inteiro. Tem churrasco de fogo de chão à vontade, então você pode levar quatro ou sete horas para chegar que não é prejudicado”, relembra a curitibana Tayana Damiani Pontarolli, que em 2017 participou da corrida com o marido, Leonardo Pontarolli.

Viver a montanha

Para a maioria dos participantes amadores, o objetivo da corrida não é fazer o trajeto no menor tempo possível. O clima é menos de competição e mais de contemplação: é possível fazer pausas para tirar fotografias, se alimentar ou apenas curtir a paisagem.
“O conceito deles é um pouco diferente. Não é uma prova só para ganhar, é para viver a montanha. Então tem muita gente que faz a prova toda praticamente em caminhada forte. O objetivo é a confraternização, a conquista, a superação. Conquistar esses 100 quilômetros em três dias em um lugar muito bonito, onde o pessoal pode aproveitar uma paisagem diferente”, explica Leonardo.
Tayana fez a prova com tranquilidade: na companhia do marido Leonardo, fez algumas pausas para registrar a paisagem. Foto: Tayana Damiani Pontarolli/Arquivo pessoal
Tayana fez a prova com tranquilidade: na companhia do marido Leonardo, fez algumas pausas para registrar a paisagem. Foto: Tayana Damiani Pontarolli/Arquivo pessoal
Este ano, participam do El Cruce corredores de mais de 40 países diferentes — um recorde na competição. Só de brasileiros são cerca de 700 participantes, de acordo com a organização do evento.
Leonardo participa da prova pelo segundo ano consecutivo. Para ele, os principais atrativos são o desafio e a beleza do percurso. Foto: Tayana Damiani Pontarolli/Arquivo pessoal<p></p>
Leonardo participa da prova pelo segundo ano consecutivo. Para ele, os principais atrativos são o desafio e a beleza do percurso. Foto: Tayana Damiani Pontarolli/Arquivo pessoal<p></p>

É preciso muito treino

“Temos muitas expectativas. Vamos passar três dias em um clima que a gente não sabe qual é, mas vão ser dias que a gente não vai esquecer. Estamos treinando faz tanto tempo. Então torcemos para que façam dias bonitos, com sol, para que as fotos fiquem bem bonitas”, comenta o designer Álvaro Gusso, de 55 anos, que há cinco meses está treinando para a competição.
Mesmo quem pretende apenas caminhar para aproveitar a paisagem não pode dispensar os treinos — que, aliás, são rígidos e intensos. Para ter companhia, Álvaro escolheu correr em grupo, com uma assessoria esportiva. Às quartas e sextas, ele pratica às 6h30 da manhã, no Parque Barigui. Já aos sábados e domingos, os treinos acontecem nas montanhas próximas a Curitiba e duram entre quatro e seis horas. Em 20 semanas de treinamento, Alvaro conheceu 15 montanhas ao redor de Curitiba, como o Anhangava, Camapuã, Caratuva e o Capivari.

“A dedicação é total. Por ser uma prova difícil, você não vai querer arriscar. A gente treina bastante para a prova deixar de ser um sofrimento, algo que que possa machucar. Só assim você consegue curtir a prova”, aponta Alvaro.

De acordo com o técnico de corrida Leonardo Pontarolli, um dos pré-requisitos para quem deseja participar do El Cruce é estar acostumado com volume de corrida. Uma pessoa em nível amador pode levar entre cinco e sete horas para terminar a prova, então é preciso estar habituado ao esforço físico. Além disso, por ser um terreno montanhoso, é exigida uma preparação de força específica para suportar as subidas e descidas e evitar a sobrecarga dos joelhos e da coluna.
“É uma prova que você precisa estar preparado, e a preparação é física, de tempo e financeira, para custear a viagem, a inscrição e os materiais que a prova demanda”, explica Leonardo.

Quanto custa?

A inscrição custa US$ 700 (aproximadamente de R$ 2.600,00) — motivo que fez com que Álvaro adiasse para este ano o sonho de participar do El Cruce. Apesar do valor ser salgado, os entrevistados foram unânimes em dizer que a organização e a estrutura do evento fazem valer o preço. “Quando eu fui me inscrever eu achei caro. Depois que eu voltei, eu pagaria de novo”, comenta Tayana, que neste ano só não vai participar da prova por conta da gestação recente, que impediu treinos mais intensos.
No valor estão incluídos a taxa de inscrição, um kit de prova com materiais como jaquetas e acessórios, além de toda a infraestrutura dos acampamentos, postos médicos, segurança, alimentação e o transfer das mochilas, que são despachadas pela organização entre os acampamentos e a chegada. Mas além disso, é exigido dos participantes alguns itens de segurança. A check-list geral de Álvaro conta com 125 itens, entre opcionais e obrigatórios, como cobertor de emergência e kit sobrevivência.
Quem já está habituado às corridas de montanha certamente terá boa parte dos materiais solicitados. Mas quem for começar um projeto para a corrida e precisar comprar todos os itens pode gastar na casa de R$ 2 mil, de acordo com Leonardo.

As belezas de Pucón

São 100 km entre o Chile e a Argentina pela Cordilheira dos Andes. Foto: Tayana Damiani Pontarolli/Arquivo pessoal
São 100 km entre o Chile e a Argentina pela Cordilheira dos Andes. Foto: Tayana Damiani Pontarolli/Arquivo pessoal
Como todos os anos a chegada acontece em uma cidade diferente, quem participa do El Cruce geralmente estica mais alguns dias para fazer turismo com amigos e familiares, como Leonardo e Tayana, que este ano viajam com um grupo de 15 pessoas. Dentro do roteiro, um pulo nos principais pontos da cidade chilena, como o vulcão Villarrica e as águas termais.
O vulcão Villarrica é o mais ativo da América do Sul e impressiona pela altura: seu cume se encontra a 2847 metros de altitude. Localizado em uma reserva ambiental junto a outros dois vulcões, o Quetrupillán e o Lanin, o Villarrica é muito procurado por turistas que desejam fazer um passeio de aventura moderado: a escalada do vulcão na verdade é uma caminhada morro acima que oscila entre os níveis fácil e médio. A caminhada dura cerca de 5 horas e está disponível em diversas agências de passeios, a partir de 90 mil pesos chilenos (em torno de R$ 500).
Do outro lado do vulcão, a cerca de 80 quilômetros de Pucón, as Termas Geométricas são o ponto de parada para quem deseja relaxar. Além de poder curtir mais de 60 piscinas naturais de águas quentes e frias, os turistas conhecem a beleza e a excentricidade deste bosque dentro do Parque Nacional Villarrica. Com projeto de Germán del Sol, passarelas vermelhas feitas de madeira e materiais naturais cortam a mata nativa do parque, criando formas geométricas. As entradas custam entre 20 e 28 mil pesos chilenos (cerca de R$ 130), dependendo do horário. Quem não for de carro pode comprar o pacote com agências de turismo, a partir de 35 mil pesos chilenos (cerca de R$ 190).
Serviço
El Cruce 2018
De 6 a 10 de dezembro
Pucón, Chile. Mais informações pelo site da corrida. 
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