Turismo

Novo roteiro turístico resgata a colonização negra em Curitiba

Guilherme Grandi
14/07/2018 08:00
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Os principais pontos da Linha Preta estão no Centro Histórico, e seguem em paralelo com o roteiro turístico dos colonizadores. Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo.

Conhecida mais pela colonização de imigrantes poloneses, ucranianos, alemães e italianos, Curitiba também teve uma forte presença de negros antes mesmo da fundação da cidade em 1693.
A história mostra que os primeiros africanos subiram a serra do mar em busca do chamado “ouro de aluvião” nos rios que cortavam o primeiro planalto. E foi a partir disso que Curitiba começou a tomar forma.
Agora é possível passar pelos 21 pontos por onde passaram estes primeiros imigrantes pelo roteiro turístico Linha Preta (criado durante o 2º Congresso de Pesquisadores/as Negros/as da Região Sul, organizado pelo  Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Federal do Paraná).
O trajeto inicial da Linha Preta abarca 13 pontos, entre eles as Ruínas de São Francisco, a Igreja do Rosário, o Memorial de Curitiba, a Praça Tiradentes e a Sociedade 13 de maio. O roteiro ficará em constante aperfeiçoamento e seu traçado deve abarcar, em breve, o interior de museus, galerias de arte, prédios históricos e teatros.

História e pesquisa

De acordo com a diretora do Centro Cultural Humaitá, Melissa Reinehr, “os negros trouxeram as técnicas de extração de ouro dos rios e da construção de taipa, que dura até hoje”.
Durante as pesquisas feitas pelo Centro junto de um projeto dos alunos do curso de Jornalismo da UniBrasil, se descobriu importantes traços da colonização negra em Curitiba. “Até mesmo o Marco Zero da capital, na Praça Tiradentes, não foi escolhido à toa”, explica o pesquisador Adegmar Silva, conhecido como Candiero — ele se refere ao conjunto de árvores gameleiras com forte significado cultural para os primeiros colonizadores.
O principal marco do roteiro é o conjunto das Ruínas do São Francisco, construídas com técnicas africanas. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo.
O principal marco do roteiro é o conjunto das Ruínas do São Francisco, construídas com técnicas africanas. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo.

Cada pedra uma história

A maior parte do roteiro da Linha Preta está no Centro e no Centro Histórico de Curitiba, como o Largo da Ordem, a Igreja do Rosário (que um dia foi chamada de Igreja do Rosário dos Homens Pretos de São Benedito), as Arcadas do Pelourinho (atrás da antiga Prefeitura, hoje o Paço da Liberdade), entre outros.
Mas há também marcos mais distantes como o Memorial Africano, na Praça Zumbi dos Palmares, e o Viaduto do Capanema (onde nasceu a primeira escola de samba de Curitiba).
Veja os 21 pontos que fazem parte do roteiro da Linha Preta:
A Linha Preta percorre 21 pontos de Curitiba com vestígios da presença negra na cidade. Foto: reprodução/site Humaitá.
A Linha Preta percorre 21 pontos de Curitiba com vestígios da presença negra na cidade. Foto: reprodução/site Humaitá.
É possível fazer o passeio a pé por conta própria ou com guias, que precisam ser agendados previamente pelo site do projeto.
Além da Linha Preta, a história da colonização negra em Curitiba é contada em uma exposição na Casa Romário Martins, no Largo da Ordem. A mostra possui itens interativos e retrata negros carregadores, extratores e beneficiadores de erva mate, além daqueles que tiveram outros ofícios, como os irmãos Rebouças, que construíram a centenária ferrovia que liga Curitiba à Paranaguá.
Os lançamentos de ambos os projetos coincidem com as comemorações dos 130 anos da Abolição da Escravatura, os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e os 30 anos da Constituição de 1988.
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