Fazia exatos 25 anos desde que havia esquiado pela primeira e até então única vez na vida e isso não dá a ninguém a credencial de saber esquiar. Mas, disse-me o instrutor de esqui Dave Rob, um senhor nos seus 60 anos, esquiar é como andar de bicicleta, nunca mais se esquece, “apenas lembre-se: cair faz parte do esporte”. Foi exatamente o que aconteceu.
Mal me animei no primeiro deslizar, e em segundos estava procurando inutilmente pelo equilíbrio de 1/4 de século atrás para, na seqüência, me estatelar no chão coberto de neve. Pernas para um lado, esquis para outro e nenhum pouco de vergonha; levantei-me com a ajuda do instrutor (pensa que é fácil erguer-se com aqueles esquis enormes presos aos pés?) e vamos lá, nova tentativa.
Segui as instruções de Dave e de repente lembrei da inclinação das pernas, de como me di-vertia ao frear de lado – a gente derrapa e os floquinhos de neve sobem e você fica se sentindo numa propaganda de cartão de crédito. Toda essa emoção numa pistinha de 200 metros onde eles ensinam as crianças.
Como Dave estava certo sobre bicicletas e esquis, me convidou para fazer uma pista mais longa, mas ainda para iniciantes. Pensei, “descer eu desço, nem que seja comendo neve a cada cinco minutos”. No começo o corpo fica tenso e no lugar de curtir a neve, você fica mais preocupado em não sair rolando ladeira abaixo infinitamente. Segurava os bastões como quem puxa um freio de mão, esquis em posição de V que é a maneira mais lenta de descer. Depois, com a ajuda das palavras de estímulo do instrutor, o medo de cair se vai, aliás, cair na neve é uma delícia. Você se deixa então deslizar e começa a perceber por quais o caminhos pode fazer as curvas, onde deve diminuir a velocidade e onde pode se deixar levar, curtir o vento e os flocos de neves tocando a pele. É quando no lugar de medo de cair, você é tomado pelo desafio de manter-se de pé para poder simplesmente continuar curtindo a montanha, dançando com a neve, aí sim, você se sente esquiando. (CB)
