Turismo

Piloto entrega controle de avião ao filho e provoca um dos mais bizarros acidentes

Guilherme Grandi
23/03/2018 16:30
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O A310-300 da Aeroflot, fotografado no aeroporto de Paris. Foto: Wikimedia Commons.

Um adolescente de 16 anos transformou o acidente do voo 593 da Aeroflot em um dos mais bizarros e surreais da história da aviação mundial. Há exatos 24 anos completados nesta sexta-feira (23), o Airbus A310 despencava do céu com 75 pessoas a bordo, entre elas os dois filhos do comandante Yaroslav Kudrinsky, que foram fazer uma visita à ele na cabine de comando no meio da madrugada. Era um voo tranquilo sobre as montanhas geladas, o avião estava no piloto automático, e a rota para Hong Kong, no sul da China, estava tranquila.
Com tudo tão tranquilo, o comandante Kudrinsky decidiu mostrar aos filhos como que se pilota um avião, e colocou Yana (12) e Eldar (15) em sua poltrona. Ele programou o piloto automático para fazer uma curva suave, e colocou as mãos de Yana no manche para simular que ela estaria controlando o gigante voador. Foi a maior alegria da vida da criança.
Depois, para não deixar o irmão enciumado, Kudrinsky colocou Eldar para fazer a mesma manobra. No entanto, o jovem realmente quis sentir toda a força do Airbus, e foi virando o manche até um ponto que desligou parcialmente o piloto automático. Na mesma hora, o avião fez uma inclinação aguda de 45 graus no limite do recomendado pelo fabricante para ela continuar voando. No entanto, ainda havia chance de salvar o voo 593 da Aeroflot.

“Potência máxima! Potência máxima!”

Após uma queda repentina provocada pela curva, um dispositivo automático conseguiu corrigir a posição do avião e permitiu que ele voltasse à sua rota original. Então o copiloto Igor Vasilyevich Piskaryov retomou o controle do Airbus e o manobrou para ganhar a altitude prevista.
Já o piloto Yaroslav Kudrinsky ainda se recuperava do susto quando assumiu seu posto, e fez a mesma manobra de Igor. Dados revelados pela caixa preta apontam que as duas manobras fizeram com que o avião subisse muito rapidamente inclinando o nariz além do limite estabelecido. Com isso, o A310 perdeu sustentação e começou um mergulho em parafuso.
O voo da Aeroflot caiu próximo à cidade de Mejdurechensk, na região da Sibéria. Foto: Wikimedia Commons.
O voo da Aeroflot caiu próximo à cidade de Mejdurechensk, na região da Sibéria. Foto: Wikimedia Commons.

“Devagar! Droga, de novo não…”

O diálogo dos pilotos revelou que eles conseguiram corrigir a queda em parafuso e tentaram retomar a altitude. No entanto, já não dava mais: o A310 estava muito próximo do solo, não tinha mais como subir.
Trinta segundos depois, o voo 593 da Aeroflot desapareceu completamente dos radares ao bater em uma montanha de 600 metros próxima à cidade russa de Mejdurechensk. 63 passageiros e 12 tripulantes morreram.
As primeiras equipes de resgate foram acionadas duas horas depois da perda de contato, mas a nevasca e o local da queda, de difícil acesso, atrasaram o resgate dos corpos e destroços.

Se o avião fosse russo…

As autoridades russas tentaram esconder que o acidente com o voo 593 foi causado por imprudência do piloto, e que se fosse um avião russo isso jamais teria acontecido. No entanto, as investigações e os dados da caixa preta comprovaram que era o filho dele que ‘pilotava’ o Airbus quando a queda começou.
A partir disso, a indústria aeronáutica e as companhias aéreas intensificaram os treinamentos das tripulações para não deixar que pessoas inabilitadas toquem nos comandos dos aviões. Também foram introduzidos mais alarmes para o caso de desligamento parcial do piloto automático.
O acidente foi tão marcante na história da aviação mundial que foi retratado na série Mayday – Desastres Aéreos do canal por assinatura National Geographic.
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