Turismo

Beleza sem fim dos cânions gaúchos

Felippe Aníbal
18/07/2015 15:23
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Visual único no topo do Cânion Fortaleza, no Parque Nacional da Serra Geral: impossível não parar para contemplar. (Foto: Felipe Anibal/Gazeta do Povo)
Lá do alto, a sensação é de paz e deslumbre. De cima do Cânion Fortaleza, entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, é possível admirar os paredões verticais que chegam a 700 metros de profundidade e que se estendem por mais de sete quilômetros, a se perder de vista. Em dias de sol, o horizonte oferece um espetáculo à parte, em diversos matizes de azul. A contemplação – com direito a vento no rosto – se torna quase que um imperativo.
“É impressionante ver os tons de azul que se formam lá embaixo”, observa a médica gaúcha Andrea Santini, que apresentava a região ao estudante alemão Philipp Altendorf. “É muito bonito”, definiu o rapaz, com um português arrastado, de quem está há apenas sete meses no país.
A formação geológica de cânions na qual se encontra o Fortaleza é mais extensa da América Latina: são 250 quilômetros de paredões, ao longo do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que se formaram há pelo menos 130 milhões de anos. Por ali, se espalham 62 cânions e 38 grand cânions (estes, com paredões de mais de 700 metros). Dois deles estão em parques nacionais, administrados pelo Instituto Chico Mendes, o que facilita a visitação – e a preservação.
O Cânion Fortaleza fica no Parque Nacional da Serra Geral, a 22 quilômetros do centro de Cambará do Sul (RS), por uma estrada de terra (é possível fazer o trajeto com carro ou contratar uma empresa especializada). A Trilha do Mirante – a principal – conduz ao topo do cânion, por um trajeto pedregoso de 1,7 quilômetro. A caminhada, no entanto, não é das mais difíceis e – não custa lembrar – permeada de visuais encantadores.
Em alguns pontos, é possível avistar a Cachoeira Fortaleza – localizada no desfiladeiro oposto – e, mesmo de longe, ouvir o barulho da água contra as rochas. A visão que se tem do vale, lá embaixo, com o rio que vem serpenteando, também é uma recompensa.
Itaimbezinho
No Parque Nacional dos Aparados da Serra, a 18 quilômetros de Cambará do Sul, se desvenda o Cânion Itaimbezinho (em Tupi-Guarani quer dizer “pedra afiada”). A estrutura para receber os aventureiros é bem melhor: o local conta com uma casa de orientação aos turistas e parte da trilha é pavimentada.
Os imensos paredões do Cânion Itaimbezinho, no Parque Nacional Aparados da Serra: no vale profundo corre o Rio do Boi. (Foto: Felipe Anibal/Gazeta do Povo)
Os imensos paredões do Cânion Itaimbezinho, no Parque Nacional Aparados da Serra: no vale profundo corre o Rio do Boi. (Foto: Felipe Anibal/Gazeta do Povo)
São 5,8 quilômetros de paredões, a uma largura entre 200 e 600 metros. Pela Trilha do Vértice chega-se ao ponto onde os desfiladeiros se encontram. Um pouco adiante, tem-se uma visão privilegiada da Cachoeira Véu de Noiva, que cai a 700 metros de altura, no fundo do cânion, onde corre o Rio do Boi.
A impactante Cachoeira Véu de Noiva, que cai a 700 metros de altura. (Foto: Felipe Anibal/Gazeta do Povo)
A impactante Cachoeira Véu de Noiva, que cai a 700 metros de altura. (Foto: Felipe Anibal/Gazeta do Povo)
No verão, os turistas com espírito mais aventureiro podem se arriscar pela Trilha do Rio do Boi, em um trajeto de oito quilômetros, pelo interior do cânion e com travessias por rios e piscinas naturais de águas bem geladas.
CHARMOSO HOTEL AO LADO DOS CÂNIONS
Cambará do Sul é uma típica cidadezinha de interior. Localizada a 185 quilômetros de Porto Alegre, está longe do ritmo agitado dos grandes centros. A rua principal, a pracinha da igreja e a falta de prédios conferem um ar tranquilo ao município (que abriga quatro mil moradores na zona urbana, além de outros dois mil na área rural). Nem por isso, no entanto, os visitantes deixam de ter acesso a opções mais sofisticadas, com conforto e estilo.
As cabanas têm comodidades como calefação e paredes térmicas. (Foto: Felipe Anibal/Gazeta do Povo)
As cabanas têm comodidades como calefação e paredes térmicas. (Foto: Felipe Anibal/Gazeta do Povo)
Um dos mais charmosos é o Parador Casa da Montanha, um hotel localizado em uma fazenda a nove quilômetros do centro – próximo à região dos cânions. O empreendimento apostou em chalés rústicos, mas confortáveis. Construídas próximo ao Rio Camarinhas e com vista para panorâmica para araucárias, as cabanas oferecem decoração caprichada e comodidades como calefação e paredes térmicas.
Uma das confortáveis cabanas do hotel em Cambará do Sul. (Foto: Divulgação)
Uma das confortáveis cabanas do hotel em Cambará do Sul. (Foto: Divulgação)
Deque com lounge para apreciar a paisagem. (Foto: Divulgação)
Deque com lounge para apreciar a paisagem. (Foto: Divulgação)
Gastronomia
Outro ponto forte do Parador é a gastronomia. O hotel oferece café da manhã, jantar, chá da tarde (com direito a waffles e geleias orgânicas) e jantar. Os pratos seguem a linha do “rústico, mas refinado”, como define o gerente Marcelo Sartori.Neste sentido, o estabelecimento tem apostado em carnes de caça, acompanhadas de um toque gourmet. Um dos exemplos é o javali com purê de batata baroa e gorgonzola. Também há opções vegetarianas. Aos sábados, é oferecido o tradicional churrasco gaúcho, com costela bovina e pernil de carneiros, assados ao fogo de chão. A noite do fondue também ganhou o gosto dos visitantes.
O tradicional churrasco gaúcho sendo preparado em frente a estrutura principal do Parador Casa da Montanha. (Foto: Divulgação)
O tradicional churrasco gaúcho sendo preparado em frente a estrutura principal do Parador Casa da Montanha. (Foto: Divulgação)
Passeio de quadriciclo. (Foto: Felipe Anibal/Gazeta do Povo)
Passeio de quadriciclo. (Foto: Felipe Anibal/Gazeta do Povo)
Além de estar perto dos cânions, o Parador oferece – em parceria com a Coiote Adventure – passeios que colocam o turista em contato com a natureza. Não dá para perder a trilha de quadriciclo, por um trecho que inclui a passagem por pontes e mata. Também há a opção de fazer um passeio de cavalo, por cerca de três horas.
GELEIAS E OUTRAS DELÍCIAS COM SABOR DA TERRA
Próximo aos cânions, uma alternativa sustentável floresce na área rural de Cambará do Sul, que merece ser visitada: um sítio que produz geleias e antepastos de forma 100% sustentável. Os produtos da “Sabores da Querência” – marca criada pelo casal Vico Martins Júnior e Cláudia Dreher – são feitos com ingredientes cultivados ali mesmo, sem uma gota de agrotóxico ou aditivos químicos.
“Nós somos ‘anti-ante’. Não usamos nada de antioxidante, conservante, acidulante… Tudo é natural”, diz Vico.
Todas as frutas – amora, mirtilo, physalis, framboesa e bergamota – são cultivadas em pomares, pelas mãos dos donos do espaço. O clima – frio e propício às variedades plantadas – favorecem as plantas, que se desenvolvem em um colorido de encher os olhos. As geleias são feitas sem adição de açúcar, a partir da própria fruta. Só na última safra, cinco toneladas de frutas foram usadas nos produtos finais.
Geleias artesanais da região. (Foto: Felipe Anibal/Gazeta do Povo)
Geleias artesanais da região. (Foto: Felipe Anibal/Gazeta do Povo)
O cuidado do casal se mantém até na adubação dos pomares. Para isso, criam 40 ovelhas da raça texel, responsável por produzir material orgânico para humidificar a terra. O mesmo rigor é adotado no preparo dos antepastos, a partir de abobrinha e berinjela orgânicos. Os turistas que visitam o sítio ganham direito a um tour pelo sítio, com explicação detalhada de Vico e Cláudia, além de uma degustação dos produtos.
SERVIÇO
Parador Casa da Montanha, Rodovia RS429, Morro Agudo, Cambará do Sul (RS). Reservas: (054) 3504-5302.
Coiote Adventure, transfers, passeios e trilhas, com preços a consultar. Informações e reservas: contato@coioteadventure.com.br ou (054) 9611-0426 e 3504-5302.
Sabores da Querência, Rodovia RS427, KM , Cambará do Sul (RS). Informações: (054) 9976-3313.
*O jornalista viajou a convite do Parador Casa da Montanha.