Turismo

Todos os tons de Utah

Suzana Camargo, especial para a Gazeta do Povo
27/12/2012 02:02
O cenário é de um filme de faroeste americano: montanhas em tons avermelhados, descampados, o sol escaldante batendo sobre plantas desérticas. Se fechar os olhos, o visitante pode imaginar índios cavalgando no horizonte. Essa é apenas uma das sensações ao conhecer Moab, Goblin Valley ou alguma outra região de Utah pela primeira vez. O estado não está entre os roteiros mais visitados pelos turistas brasileiros. Arizona, onde fica o Grand Canyon; e Nevada, com a capital Las Vegas, são mais procurados. Entretanto, com custos bem menores, Utah oferece um leque enorme de atrações naturais, atividades esportivas e passeios históricos.
A natureza exuberante e inóspita de Utah pode ser contemplada em cinco parques nacionais e 45 estaduais, com cânions, vales, florestas, desertos e monumentos naturais.
Salt Lake City, a capital, é o ponto mais fácil de chegada. De lá, o ideal é cruzar o estado de carro pela I-15. Com poucas horas de viagem é possível ver como a vegetação mudando rapidamente. Em algumas áreas, as montanhas são verdes com árvores altas. Subitamente, elas desaparecem por completo e formações rochosas dominam a paisagem.
Zion, Bryce Canyon, Arches, Canyonlands e Capitol Reef são os cinco parques nacionais localizados no estado de Utah. Arches é o parque com a maior quantidade de arcos naturais de arenito do mundo: 2,5 mil, na última contagem. A ação da água, do gelo e do vento modificam permanentemente as estruturas. O parque fica ao lado de Moab, uma cidade em que a rua principal concentra hotéis, restaurantes e lojas.
Logo na estrada de acesso, imensas torres e prateleiras de arenito de uma beleza espetacular acompanham o trajeto. As cores das pedras variam de acordo com a luz do sol: oscilam do laranja ao rosa e para o vermelho intenso. Um folheto gratuito mostra os horários e locais indicados para fotos. O início e o final do dia oferecem a melhor iluminação para capturar imagens únicas.
Diversas trilhas cortam o parque, divididas pelo grau de dificuldade e esforço. Algumas não exigem mais do que 15 minutos de caminhada, como a que dá acesso a Balanced Rock, uma pedra gigante equilibrada sobre um monte, parecendo estar prestes a cair. Mas são os arcos que realmente encantam. Devils Garden é a mais longa das trilhas, com 11 quilômetros de extensão e duração de três a cinco horas. Em algumas partes, o caminho é estreito e com pedregulhos, mas nada menos que oito arcos podem ser vistos por ali. O mais fotografado é o Delicate Arch, símbolo de Utah. Há dois locais em que ele pode ser visto de longe, mas para tocá-lo é preciso encarar uma caminhada de mais de duas horas, entre ida e volta.
Parques oferecem experiências distintas
A pouco menos de 15 quilômetros de Moab está o Parque Nacional de Canyonlands. Em uma área de mais de 1.300 km2, os rios Green e Colorado recortaram as rochas, formando caminhos sinuosos. Os principais atrativos são o Lago Powel, para prática de pesca, caiaque e waterskiing, e a vista panorâmica do alto do mirante Grandview, onde se chega de carro.
Dead Horse Point fica a 15 minutos dali. Trata-se de um platô a mais de 600 metros de altura, de onde podem ser vistos os canyons esculpidos pelo Rio Colorado nos últimos 15 milhões de anos. O nome do parque (local de cavalos mortos, em tradução livre) deve-se à lenda sobre a morte de cavalos selvagens que ficavam encurralados na beira do penhasco e morriam de sede. As cenas finais do filme Thelma e Louise, de 1991, foram gravadas ali.
Na direção oeste, a duas horas de carro, está Goblin Valley. A estrada que leva até lá fica, literalmente, no meio do nada. Mas, como o próprio nome sugere, esse parece ser um vale de duendes. As criaturas de arenito fazem lembrar os montes de areia feitos por crianças na beira da praia. Há evidências geológicas que essa área esteve próxima a um antigo mar e sofreu com a influência das marés.
No extremo mais a sudoeste de Utah ficam Capitol Reef, Brice Canyon e Zion, o mais popular dos três parques nacionais. Formado há mais de 250 milhões de anos pela força da água, Zion já foi coberto pelo mar e também um enorme deserto. Hoje, suas diferentes altitudes oferecem o habitat perfeito para mais de mil espécies de plantas e mais de duzentas de animais. Não é raro encontrar veados, esquilos e lagartos. Um ônibus circula por dentro do parque e deixa os turistas perto das entradas das principais trilhas do cânion. Alguns paredões, que chegam a atingir 600 metros de altura, podem ser escalados. Uma das atrações mais procuradas em Zion é a caminhada pelos narrows. A trilha no rio entre as paredes de pedra do desfiladeiro tem 25 quilômetros de extensão e em alguns pontos chega a ser tão estreita que somente uma pessoa passa por vez. A água gelada e as pedras escorregadias só aumentam a emoção. Entretanto, quando chove na cabeceira do rio a água ganha força rapidamente, podem ocorrer inundações instantâneas. Sempre que há probabilidade de chuva forte, a trilha é fechada.
Cidade-fantasma conta história dos colonizadores
Próximo ao Sand Hollow State e ao Zion National, Saint George é um ótimo local de pernoite. A maior cidade da região, com 72 mil habitantes, foi fundada pelos colonizadores mórmons, em 1861. Perto dali, seguindo pela rodovia I-15, chega-se à Rockville Bridge, construída em 1924. Foi o primeiro acesso entre o Zion National Park e o norte do Grand Canyon, no Arizona. As vigas de ferro ficam sobre o rio Virgin, que corta a região. A ponte é a única desse tipo ainda em funcionamento no estado de Utah.
Pouco mais adiante ficam o cemitério e a cidade fantasma de Grafton. As primeiras cinco famílias de mórmons vieram para essa área em 1859, para plantar algodão próximo ao rio. Três anos depois, uma enchente acabou com a vila. Em 1862, os colonizadores escolheram a área de Grafton, mais distante da água, onde construíram escola, casas e igreja. Acredita-se que chegaram a viver ali 128 pessoas, que desistiram do algodão e investiram na agricultura de subsistência. O pior ano para os moradores locais foi 1866. Crianças morreram de difteria e febre escarlate e os adultos foram assassinados pelos índios. No começo do século seguinte, os poucos habitantes da cidade mudaram-se para Hurricane. Hoje, é possível caminhar pela pequena vila preservada e imaginar como era a vida num lugar remoto, entre as montanhas, sem eletricidade e qualquer contato com a civilização.
Bem mais comercial, mas não menos interessante, é o Fort Zion. Localizada bem na beira da estrada, a loja reproduz o cenário do Velho Oeste. O turista pode tirar fotos em meio ao saloon, o banco, a prisão e a carroça. As crianças alimentam os animais da região e tocam em cactos de verdade. Dentro da loja há botas e chapéus de couro, artefatos indígenas e suvenires. São lembranças de como foi a vida um dia no Old Wild West.

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