Turismo
Viagem dos sonhos pelos castelos do Vale do Loire da França
Sobre o rio Cher, o Castelo de Chenonceau é conhecido como “o castelo das damas”: foi propriedade da amante do rei Henrique II (Diane de Poitiers)e da rainha Catarina de Médici. Fotos: Bigstock
A monarquia terminou na França no século 18. Mas suas marcas seguem bem vivas no Vale do Loire, região que vai do centro do país ao Oceano Atlântico. Reis, rainhas e suas cortes estão presentes em dezenas de castelos, em fortalezas medievais e em construções renascentistas.
Guias locais estimam que existam quase inacreditáveis mil castelos ao longo dos 800 quilômetros quadrados da região. Número que tem explicação: em uma época em que o poder era descentralizado, reis e suas cortes, com centenas de integrantes, viajavam pelo país para conhecer o povo e mostrar autoridade política. A cada mudança, a realeza e os nobres trocavam de cidade e também de palácio. E havia ainda os casos em que a troca de moradia se dava por guerra ou para fugir de doenças.
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Diz-se, por exemplo, que o rei Francisco I (1494-1547), um dos personagens da monarquia francesa, nunca ficava mais de duas semanas num mesmo lugar. Passava 70% de seu tempo viajando. Uma de suas obras mais emblemáticas é o Castelo de Chambord, o mais estonteante da região. Em 1519, Francisco I mandou construí-lo para ser seu pavilhão de caça.
Rumo ao passado
“Vamos entrar na minha máquina do tempo”, brinca nossa motorista e guia na região, Stéphanie Ledonne. “Os reis e a nobreza escolheram construir castelos aqui por vários motivos. As cidades não são tão distantes de Paris, temos uma boa gastronomia, há muita floresta para caçar, e tem o Rio Loire, economicamente importante.”
O Loire não é mais usado para navegação, apenas para passeios. Mas sua importância permanece, é sentimental. Há quase uma reverência às águas do rio, perceptível no orgulho com que os franceses da região falam sobre ele: com adjetivos como magnífico e espetacular.
Parte dos castelos do Vale do Loire é de propriedade do Estado. Alguns mantiveram peças originais de suas épocas, mobiliário da realeza e obras de arte. Diversos são particulares – o roqueiro Mick Jagger tem o seu na charmosa cidade de Amboise –, outros foram transformados em museus ou hotéis – hospedar-se em castelos é muito comum na região.
Alguns dos mais importantes ficam próximos ao Rio Loire, o maior da França, com 1.013 quilômetros de extensão. É o caso do Amboise, do Royal de Blois e do Château de Chaumont. Outros estão ligados a rios menores. Chambord é vizinho ao Rio Cosson. Chenonceau, “o castelo das damas”, atravessa o Rio Cher.
Na estrada
Brasileiros usualmente chegam à França pelo aeroporto Charles de Gaulle, em Paris. Não há trem que ligue o aeroporto diretamente ao Vale do Loire. Fomos de van, em uma viagem de 2 horas por uma rodovia de seis pistas praticamente em linha reta, com muitas placas para facilitar a localização e sem trânsito pesado.
Stéphanie, a guia, conta que no tempo da realeza levava-se até 6 dias a cavalo no trajeto entre Paris e a cidade de Orléans, a 130 quilômetros.
Nosso roteiro abrange oito castelos em cinco dias, passando ainda por vilarejos e pelas cidades de Blois, Amboise e Tours. Paramos para dormir um dia em um hotel-castelo – onde quem dá as ordens é o rei-cão Othello –, em Contres. Fizemos quase todo o percurso de carro, terminando em Tours. Em Saint-Pierre des Corps, a 4 quilômetros de Tours, pode-se pegar um trem (sncf.com, a partir de 48 euros) de volta para o Charles de Gaulle.
O Vale do Loire tem praticamente a mesma temperatura de Paris, com variação de dois graus para mais ou menos. A primavera colore os jardins dos castelos e as florestas no caminho com flores de vários tons e gramados verdes; março a outubro costuma ser citado como o período mais bonito no Vale do Loire. Em determinados momentos, a paisagem se alterna com imensos campos, tão grandes que às vezes parecem se perder no horizonte. Não é à toa que o Vale do Loire é também conhecido como o jardim da França.