Turismo

Viagem dos sonhos pelos castelos do Vale do Loire da França

Estadão Conteúdo
06/05/2016 22:00
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Sobre o rio Cher, o Castelo de Chenonceau é conhecido como “o castelo das damas”: foi propriedade da amante do rei Henrique II (Diane de Poitiers)e da rainha Catarina de Médici. Fotos: Bigstock

A monarquia terminou na França no século 18. Mas suas marcas seguem bem vivas no Vale do Loire, região que vai do centro do país ao Oceano Atlântico. Reis, rainhas e suas cortes estão presentes em dezenas de castelos, em fortalezas medievais e em construções renascentistas.
Guias locais estimam que existam quase inacreditáveis mil castelos ao longo dos 800 quilômetros quadrados da região. Número que tem explicação: em uma época em que o poder era descentralizado, reis e suas cortes, com centenas de integrantes, viajavam pelo país para conhecer o povo e mostrar autoridade política. A cada mudança, a realeza e os nobres trocavam de cidade e também de palácio. E havia ainda os casos em que a troca de moradia se dava por guerra ou para fugir de doenças.
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Diz-se, por exemplo, que o rei Francisco I (1494-1547), um dos personagens da monarquia francesa, nunca ficava mais de duas semanas num mesmo lugar. Passava 70% de seu tempo viajando. Uma de suas obras mais emblemáticas é o Castelo de Chambord, o mais estonteante da região. Em 1519, Francisco I mandou construí-lo para ser seu pavilhão de caça.
Chambord: a grande estrela do Vale do Loire, declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco.
Chambord: a grande estrela do Vale do Loire, declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco.
Um dos quartos originais usados pela corte francesa no Castelo de Chambord.
Um dos quartos originais usados pela corte francesa no Castelo de Chambord.
Rumo ao passado
“Vamos entrar na minha máquina do tempo”, brinca nossa motorista e guia na região, Stéphanie Ledonne. “Os reis e a nobreza escolheram construir castelos aqui por vários motivos. As cidades não são tão distantes de Paris, temos uma boa gastronomia, há muita floresta para caçar, e tem o Rio Loire, economicamente importante.”
O Loire não é mais usado para navegação, apenas para passeios. Mas sua importância permanece, é sentimental. Há quase uma reverência às águas do rio, perceptível no orgulho com que os franceses da região falam sobre ele: com adjetivos como magnífico e espetacular.
Parte dos castelos do Vale do Loire é de propriedade do Estado. Alguns mantiveram peças originais de suas épocas, mobiliário da realeza e obras de arte. Diversos são particulares – o roqueiro Mick Jagger tem o seu na charmosa cidade de Amboise –, outros foram transformados em museus ou hotéis – hospedar-se em castelos é muito comum na região.
Alguns dos mais importantes ficam próximos ao Rio Loire, o maior da França, com 1.013 quilômetros de extensão. É o caso do Amboise, do Royal de Blois e do Château de Chaumont. Outros estão ligados a rios menores. Chambord é vizinho ao Rio Cosson. Chenonceau, “o castelo das damas”, atravessa o Rio Cher.
Quadros, tapeçarias e móveis de diversas épocas se espalham pelos três andares  de Chenonceau.
Quadros, tapeçarias e móveis de diversas épocas se espalham pelos três andares de Chenonceau.
A charmosa cidade de Amboise com seu castelo (à dir.) e o Loire à esquerda.
A charmosa cidade de Amboise com seu castelo (à dir.) e o Loire à esquerda.
Na estrada
Brasileiros usualmente chegam à França pelo aeroporto Charles de Gaulle, em Paris. Não há trem que ligue o aeroporto diretamente ao Vale do Loire. Fomos de van, em uma viagem de 2 horas por uma rodovia de seis pistas praticamente em linha reta, com muitas placas para facilitar a localização e sem trânsito pesado.
Stéphanie, a guia, conta que no tempo da realeza levava-se até 6 dias a cavalo no trajeto entre Paris e a cidade de Orléans, a 130 quilômetros.
Nosso roteiro abrange oito castelos em cinco dias, passando ainda por vilarejos e pelas cidades de Blois, Amboise e Tours. Paramos para dormir um dia em um hotel-castelo – onde quem dá as ordens é o rei-cão Othello –, em Contres. Fizemos quase todo o percurso de carro, terminando em Tours. Em Saint-Pierre des Corps, a 4 quilômetros de Tours, pode-se pegar um trem (sncf.com, a partir de 48 euros) de volta para o Charles de Gaulle.
O Castelo de Cloux, também em Amboise, foi a casa de Leonardo da Vinci na região.
O Castelo de Cloux, também em Amboise, foi a casa de Leonardo da Vinci na região.
O Vale do Loire tem praticamente a mesma temperatura de Paris, com variação de dois graus para mais ou menos. A primavera colore os jardins dos castelos e as florestas no caminho com flores de vários tons e gramados verdes; março a outubro costuma ser citado como o período mais bonito no Vale do Loire. Em determinados momentos, a paisagem se alterna com imensos campos, tão grandes que às vezes parecem se perder no horizonte. Não é à toa que o Vale do Loire é também conhecido como o jardim da França.