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Somos todos trouxas nas redes sociais?
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Dia desses fui convidada para um evento excelente, do Redes Cordiais, uma iniciativa excelente que dissemina entre influenciadores digitais conteúdos de comunicação não-violenta, combate a fake news e educação digital para redes sociais. Fui como interessada e saí fã não só pelo mérito da iniciativa, mas pelo altíssimo nível do conteúdo - eu, sinceramente, esperava um pouco mais do mesmo e fui surpreendida.

Ao final do encontro, pediram a cada influenciador que assumisse um compromisso e eu entendi que deveria tentar compreender melhor o lado das plataformas de redes sociais no caos de agressividade e erosão do diálogo democrático. Representantes do Twitter, Facebook, YouTube e Instagram estiveram ali respondendo perguntas e me pareceram, naquele evento, muito sérios e comprometidos no combate ao clima bélico e sádico que promovem.

Esses representantes pareciam preocupados principalmente com ameaças que começam nos chans (grupos de psicopatas que planejam e incentivam ataques e assassinatos) e acabam transbordando para as redes sociais que todos usam. As plataformas têm a exata noção do que ocorre, como é feito, quem são os envolvidos e seu grau de periculosidade.

Há, obviamente, espertões de praia que bradam: são só uns babacas, uns moleques falando bobagem. Sim, mas até que um deles resolva fazer um massacre em uma escola para virar herói no grupelho.

Tem histórico de comportamento anti-social e envolvimento com grupos de vagabundos na internet todos os responsáveis pelos últimos ataques do estilo "lone wolf" nos Estados Unidos. São os lobos solitários que disparam contra multidões tentando matar o máximo possível de gente. Os 3 grandes atentados a escolas no Brasil foram tramados em chans.

Muitos desses vagabundos acabaram entrando no embate político nas redes e eu não sei se eles realmente têm interesse nisso ou alguma ideologia. Sabe-se apenas que foram muito bem recebidos por políticos que, pela soberba, devem imaginar-se capazes de controlar a vilania e o ressentimento deles.

Se você não tem clareza para identificar esse grupelho de vagabundos, recomendo vivamente o artigo de Tiago Cordeiro para a Gazeta do Povo. "Palhaço, neon e vaporwave: entenda a estética por trás dos grupos de direita" dá várias dicas para identificar quem vestia a camisa do Brasil mas decidiu passar para o lado negro da força.

Acabou sendo criada uma relação simbiótica entre marginaizinhos agressivos e seus políticos de estimação. Se uma pessoa critica o político querido, os vagabundos promovem ataques em massa. Como não dão os próprios nomes para abrir as contas e, às vezes, controlam dezenas delas, transformam mentiras em consensos e é muito difícil chamá-los á responsabilidade.

Obviamente os políticos se beneficiam disso e retribuem. Mas, não apresse as conclusões, nem sempre a contrapartida é financeira. Óbvio que já existe a "House of Carguinhos" envolvendo esses vagabundos. O PSL, por exemplo, tem gabinetes abarrotados de virulentos virtuais unidos pelo despreparo. Muitos nunca tinham conseguido um emprego real na vida e agora ganham um salário e adquirem status para passar o dia perseguindo gente nas redes. Claro que estão felizes e agradecidíssimos aos patronos. Mas estes são minoria.

A maioria é daquele tipo de vagabundo tão xexelento que nem dá para arrumar emprego. Gente que dá vergonha de indicar e até de acomodar com um salário pequeno numa mesinha escondida no gabinete. É gente mais doida, que passa o dia na internet vendo fotos de corpos destroçados, planejando assassinatos, incentivando e dando dicas práticas para quem quer fazer massacres. São tão à margem da sociedade, tão patéticos e tão ressentidos que qualquer aceno de aceitação vale. Esses dias, o ministro da Educação mandou um abraço aos "guerreiros" do 55 chan - devem ter amado.

É no 55 chan - o número se refere a SS - que foram gestados os responsáveis pelos massacres do Realengo, Suzano e o esfaqueamento na escola no RS. O ministro da Educação mandou um abraço a eles dias antes do último atentado. O 55 chan é usado para muitas outras coisas, entre elas jurar de morte os filhos dos jornalistas críticos ao governo.

O @TwitterBrasil, o @YouTubeBrasil e o Facebook sabem quais são as contas anônimas usadas por esses psicopatas. Também sabem que uma única pessoa controla dezenas de contas para poder fazer volume nos debates, que consistem basicamente no espalhamento de informações falsas ou tentativas de assassinato de reputação. Além de antidemocrático, o comportamento é inconstitucional.

A Constituição Brasileira diz que a expressão é livre, sendo vedado o anonimato. Pode personagem humorístico e pseudônimo? Claro. O que não pode é se escudar em perfis apócrifos para cometer crimes ou eliminar o debate democrático.

Minha impressão é de que as plataformas de redes sociais não estão nem aí para miudezes como valores democráticos ou gente ameaçada de morte por um único motivo: é MUITA grana. As redes sociais ganham dinheiro com os nossos dados. Ouvem tudo o que falamos, acompanham nossas reações e utilizam as mesmas técnicas neuropsicológicas dos cassinos para nos manter plugados e entregando de graça a eles nossos dados. É da venda desses dados que eles vivem.

Se puderem adicionar a esse caldeirão componentes emocionais altamente mobilizadores como medo e ódio, mais tempo ainda plugados. E esses perfis anônimos, especialmente os mais nojentos, geram muito tráfego nas redes. Por que eles teriam de respeitar a lei e os cidadãos brasileiros se isso significa menos tráfego e, por consequência, menos grana?

Se as plataformas tivessem interesse de defesa da democracia, da civilização ou da condições humana, já teriam tomado providências contra os fakes. Poderiam permitir pseudônimos desde que checassem os dados do dono da conta. Como uma placa de carro: fez bobagem, a multa chega.

Por tudo o que eu vivenciei desde aquele dia muito especial com o pessoal do Redes Cordiais, sou infelizmente levada a concordar com os que já me alertaram antes: as plataformas não estão se esforçando para evitar o caos, as ameaças, a destruição de vidas. Estão fazendo um belíssimo esforço para melhorar as desculpas para não se mexer. Os representantes delas seriam, então, peixes ensaboados regiamente pagos para garantir que tudo continue como está para as empresas, ou seja desregulamentado e sem responsabilização? Um dia saberemos, mas não hoje.

Está instalada a CPMI das Fake News. Vocês devem ter visto a choradeira de quem passou os últimos anos se fantasiando de antifrágil. Eu não vejo a hora de ver as plataformas na CPMI das Fake News tendo de dar satisfações sobre o tanto que lucram com nossos dados às custas da nossa saúde e da nossa democracia. Que caiam as máscaras!

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