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Anderson Godz

Desde 2016 Anderson Godz é investidor, conselheiro de administração e advisor para nova economia, projetos e governança corporativa. Autor de livro, criou uma comunidade de governança com mais de 12 mil pessoas. É conselheiro da Gazeta do Povo.

Se der errado, tudo bem

Girl from Nubank: Anitta é um marco da nova governança e pode dar errado. E daí?

23/06/2021 11:00
Em 2019, dividi o palco com a Anitta. Explico: com a empresária Larissa. Ela falando sobre negócios em um evento para milhares era tão ou mais estranho que eu tentando tornar a governança pop, com camiseta de banda de rock (de startup!), pregando #SomeControl.
Não concordo com alguns de seus valores e posturas. Mas isso não traz vieses que me ceguem e me impeçam de aprender com a entrada dela no Conselho de Administração do Nubank. O caso saiu das salas dos conselhos e trouxe a discussão de governança para o gueto. Só isso já valeu. Ou achamos que vamos tornar as práticas e os bons valores da governança difundidas para uma tempestade de novos empreendedores deste país sem “rebolar”?
Em Gonew.co, estamos rebolando há 3 anos nos palcos desses boards – algo que está no meu livro escrito ainda antes, em 2017: o empoderamento e propósito (“empurpose”) pode ser um ativo de empresas conectoras, aquelas que colocam claramente seus posicionamentos em relação aos conflitos que nos cercam. Se bem orquestrado com um propósito de transformação massiva, pode ser uma ferramenta muito poderosa, que vai além do fundamento de relacionamento com partes interessadas. E pode (também) responder à hiperexposição digital, dominando a rebeldia de outliers a favor do negócio.
Pois bem, parece até que o Nubank nos ouviu: “Por sua trajetória, Anitta, que cresceu em Honório Gurgel, no subúrbio do Rio de Janeiro, também conhece de perto as dificuldades enfrentadas por milhões de brasileiros no dia a dia – incluindo as burocracias e taxas abusivas que impedem o acesso a uma vida financeira melhor”, pontuou o Nubank em texto de apresentação da nova conselheira, o maior ícone pop da América Latina atualmente, segundo a própria fintech.
A adição da cantora ao conselho coloca a startup em um movimento que vem sendo seguido por empresas como a Saks, gigante do varejo de luxo norte-americano, que recentemente anunciou o astro do basquete e investidor James Harden como membro independente de seu board. Já a apresentadora e empreendedora Oprah Winfrey passou a integrar, há alguns anos, o board do Vigilantes do Peso (Weight Watchers nos EUA). Cabe citar ainda o caso de Henrique Dubugras no Mercado Livre e na Stone.
E, convenhamos, como dizemos em Gonew: “nada é tão novo, nada é tão velho”. Esses movimentos todos não são muito diferentes do que víamos anos atrás, quando figurões da política ou da economia eram chamados para tomar cafezinhos e dar pitacos recheados de egos em salas sofisticadas.
A novidade, é claro, incendiou as discussões em Gonew e foi pauta no encontro desta terça-feira (22) do “Bom Dia & Some Control”, nossa conversa diária no Clubhouse – que pode ser conferida também no Spotify.
Vale trazer alguns ganchos dessa discussão aqui. Para um negócio digital como o Nubank, esse é um fit muito interessante. Há uma série de artimanhas nesse jogo e Anitta com certeza entende disso. Ainda, muitos dos seus milhões de seguidores são o público-alvo do Nubank – jovens com pouco score de crédito e que buscam “algum relacionamento” bancário.
Pode até ser que falte formação técnica à artista, mas ela tem vivência e experiência. Anitta gerencia a própria carreira e, sejamos justos, mais acertou do que errou nesse processo, já acumulando uma fortuna estimada em US$ 100 milhões aos 28 anos. Tem sucesso, alcance e inovação.
Houve quem dissesse se tratar de pura jogada de marketing. É claro que há marketing aí e o poder de influência dela é grande. E isso definitivamente faz parte do jogo. Mas reduzir a discussão a somente esse elemento – e ignorar o restante por não concordar com os valores da pessoa – é falta de visão ao não contemplar o novo jogo do principal ativo da nova economia: a atenção.
Anitta representa diversidade, não apenas no que diz respeito à sua orientação sexual. É uma mulher jovem, antenada e que construiu a carreira “do zero” – tem origem humilde, não veio de família influente. Em um momento em que se fala tanto em ampliar a diversidade nos conselhos de administração, trazer mulheres e pessoas mais jovens para as empresas é uma decisão ousada e sem dúvida acertada. Afinal, o que é exatamente diversidade para nós? É um caminho sem volta e uma tendência que os mais de 600 cocriadores que participaram dos programas Gonew já sabem: #AgoraSãoOutrosConselhos.
Há riscos? Sem dúvida! Pode dar errado? Claro. Aliás, é provável que dê, pois os riscos reputacionais digitais que a cantora oferece ao se expor são grandes. Mas a mitigação desses mesmos riscos se dá por dois caminhos. E eles exigem de nós novos olhares e repertórios: primeiro, pelo já citado “empurpose”, que se soma ao sexto poder, das massas, que se mobilizam hiperconectadas por excentricidades de pessoas de qualquer espectro da sociedade, quase que independentemente do que essa pessoa faça – são os "amigos dos novos reis exponenciais".
Segundo, porque o mundo hiperconectado é o mundo da “ousadia do zero”. Você pode, como eu, discordar totalmente de Anittas ou Elon Musks, mas eles não estão nem aí para o que pensamos: eles se arriscam e se posicionam intensa e insanamente. Enquanto isso, nós estamos aqui, aumentando seus valuations como marionetes, todos os dias, quando tentamos compreender esses movimentos. Conselheiros, como Anitta e Musk, jogam dados – em todos os sentidos – e torcem para que tudo seja online enquanto dure.
#SpeedAndSomeControl.

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