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Apesar de fechar o ano com bons números de investimentos em startups, cenário não foi um mar de rosas. Demissões e crises internas marcaram empresas brasileiras e estrangeiras.

Anderson Godz

Desde 2016 Anderson Godz é investidor, conselheiro de administração e advisor para nova economia, projetos e governança corporativa. Autor de livro, criou uma comunidade de governança com mais de 12 mil pessoas. É conselheiro da Gazeta do Povo.

Cenário de crise

O ano que ninguém previu. Nem as melhores startups

28/12/2020 10:00
Nenhuma empresa, independentemente de tecnologia, porte ou modelo de negócio, está imune a uma crise endêmica. Só no primeiro semestre de 2020, 522 mil empresas fecharam as portas no Brasil devido à pandemia, segundo dados do IBGE. Entre as que continuaram abertas, quase 1 milhão delas realizaram demissões. 2020 será lembrado como um ano difícil para todas as companhias. E naturalmente também para as startups - muitas delas, até então, tidas como promissoras.
Foi o caso da Gympass - o primeiro unicórnio brasileiro de 2019, quando recebeu aporte do Softbank. Mas em um setor diretamente abalado, com academias menores chegando a relatar quedas de 70% a 80% do faturamento mensal, não havia modelo digital que pudesse sobreviver.
A estimativa da Forbes é de que, no auge da pandemia, a Gympass tenha cortado cerca de um terço do seu quadro funcional, estimado em 1,3 mil pessoas. Perdeu até sua emblemática sede, o antigo prédio do Cubo em São Paulo. Do dia para a noite, tudo mudou.
Mobilidade e turismo também foram, de fato, setores muito impactados. Promissora, a MaxMilhas, startup mineira de compra e venda de milhas aéreas, cortou aproximadamente 42% de sua equipe, afirmou a companhia ainda em abril. Mesmo empresas digitais bem cuidadas e com propósitos sérios, como a Rentcars.com e a Embarca.ai, precisaram de muitas readequações. Foi, enfim, a dura realidade de praticamente todas as companhias desses segmentos: desde a pequena brasileira Flapper até mesmo a gigante TripAdvisor, de Steve Kaufer, que demitiu 900 funcionários só no primeiro semestre.
As menores também não escaparam. Em Florianópolis uma startup promissora chamada Zygo começava a despontar como ferramenta de fidelização de clientes para restaurantes, tinha recebido aporte, estavam indo super bem… veio então a pandemia e a receita foi a quase zero. Em julho, porém, eles foram adquiridos pela PagSeguro.
E há impactos também em startups de setores menos óbvios. Foodtechs, Proptechs, Retail Techs, Adtechs… e até mesmo Fintechs, onde o unicórnio de pagamentos Stone demitiu cerca de 20% de seus colaboradores, decisão motivada pelo contexto de grande queda das vendas do varejo.
As digitais de SAAS, como os “mini-ERPs” Conta Azul, Omie e Nibo, sofreram devido a redução da atividade econômica no auge da pandemia. E até o Waze se perdeu: como nos conta a conselheira certificada em inovação Cris Tuna, Eric Yuan afirmou recentemente no Web Summit que o impacto foi de -70% globalmente e -85% nos EUA.

Impacto no setor de shows e espetáculos

Outro setor que sofreu foi o de entretenimento, afetando as tiqueterias. Da ingresse.com a T4F (Time 4 Fun), por exemplo, que organiza o gigante Lollapalooza e o badalado musical “O Fantasma da Ópera” no Brasil, todas enfrentaram grandes desafios. A T4F, por exemplo, no mesmo dia em que anunciou que paralisaria suas operações em decorrência da crise sanitária que então se instalava no país, demitiu muitos funcionários.
Centros de inovação também foram diretamente afetados pelas medidas de combate à pandemia. Desde março o Cubo praticamente congelou sua sede em São Paulo (SP) e colocou mais de mil colaboradores em regime remoto. “Não paramos, fizemos nossa própria transformação digital”, disse Renata Zanuto, diretora do Cubo e Master em Governança & Nova Economia, ainda em setembro. Já o promissor CRIA, de Curitiba (PR), infelizmente não resistiu à pandemia e fechou as portas no segundo semestre de 2020.

Startups e o cenário internacional

Mas não foram somente as empresas brasileiras que foram afetadas. Uber, Airbnb e Tripadvisor demitiram por volta de 25% do total de seus colaboradores. No começo de maio, o Uber encerrou os contratos de 3,7 mil funcionários. Semanas depois, anunciou mais 3 mil desligamentos e o fechamento de 45 escritórios ao redor do mundo.
Há muitos outros exemplos, infelizmente. Escrevi certa vez que no mundo digital as quedas também podem ser exponenciais. Desses casos podemos extrair ao menos duas reflexões: a primeira é que, em cenários de crise aguda, a conjuntura impacta muito mais do que a inovação ou o modelo em si. Os riscos de sobreviver são uma pauta pesada e recorrente do jogo quente e diário das decisões nas empresas digitais. Mas o que vivemos em 2020 também não poderia ser previsto nem mesmo nas mesas de apostas mais arriscadas.
A outra reflexão é que há esperança. Quando mergulhamos em grande parte desses casos observamos ativos de cultura, agilidade, modelos de negócio, tecnologia e um “quê” de “some control” - no melhor estilo Gonew.co - capaz de ajudar empresas a se reerguer mais rápido.
Há, sim, dissabores, como em muitos setores da sociedade, mas existem também muitas lições sobre como as empresas digitais reagiram. Mas isso é tema para uma próxima coluna, já lançando luz sobre 2021. Que o novo ano seja tão inovador a ponto de nos trazer, como diz a velha música, alívio imediato. Fiquem bem! #SpeedAndSomeControl

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