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O filósofo israelense Yuval Noah Harari é o autor do best-seller Sapiens – Uma Breve História da Humanidade.

Anderson Godz

Desde 2016 Anderson Godz é investidor, conselheiro de administração e advisor para nova economia, projetos e governança corporativa. Autor de livro, criou uma comunidade de governança com mais de 12 mil pessoas. É conselheiro da Gazeta do Povo.

Provocação

O que Harari diz sobre ESG, ditaduras digitais e bigtechs

03/03/2021 15:45
Há quem critique o filósofo israelense Yuval Noah Harari. Eu mesmo tenho minhas ressalvas sobre algumas de suas ideias, mas antes de preferências pessoais prezo também pelo espaço ao contraditório.
O autor do best-seller Sapiens - Uma Breve História da Humanidade esteve na noite da última terça-feira (2) no Expert ESG, evento realizado pela XP Investimentos e dedicado a discutir a construção de um futuro sustentável por empresas e investidores, e provocou: “O que aprendemos com a pandemia do novo coronavírus e quais serão seus impactos na sociedade sob o prisma da tecnologia?”. Algumas de suas reflexões, aliás, já estavam presentes em um artigo recente de Harari publicado no Financial Times e foram debatidos em nosso podcast diário em Gonew.co.
Para ele, epidemias não são mais apenas forças da natureza e não há possibilidades da quebra de fronteiras no pós-pandemia, fazendo-se necessária uma maior integração entre as nações. “A globalização não é a razão para essas pandemias, é potencialmente a solução”, afirmou.
Em seguida, Harari defendeu também um sistema global conjunto de informações, que colete dados e dispare alertas, para que seja possível tomar melhores decisões com mais rapidez, questão que discutimos avidamente em nossa comunidade. A falta desse elemento ao final de 2019, à época do registro dos primeiros casos da Covid-19 em Wuhan, na China, pode ter sido crucial para a proporção que o novo coronavírus tomou. É preciso, portanto, trocar “desinformação” por “cooperação”. “A verdadeira solução para as pandemias não é isolamento, mas compartilhar conhecimento”, disse o escritor.
A provocação seguinte do filósofo também é de crucial importância: se as nações não foram capazes de se unir diante da ameaça de um vírus extremamente mortal, como poderão se unir diante de outras “ameaças” globais, como a inteligência artificial ou a biotecnologia?
Governos que não têm a democracia como base, ou mesmo aqueles democráticos por “conveniência”, por assim dizer, podem lançar mão de smartphones, monitoramento de dados e sistemas analíticos para acompanhar os passos dos cidadãos em tempo real e, claro, decidir o que fazer com essas informações. É por isso que repetimos centenas de vezes que os dados são o “novo petróleo”. Não se trata de uma mera frase de efeito; é um resumo do que se tem acompanhado na prática.
Nesse sentido, Harari faz um alerta para o enorme “Big Brother”, potencializado pela pandemia, organizado por governos e bigtechs, que já estamos vivendo e que com certeza será potencializado nos próximos anos. O filósofo sugere, então, três pontos para combater o que chamou de “ditadura digital”:
a) dados devem ser coletados para ajudar a população, e não para controlá-la;
b) a transparência deve funcionar em uma via de mão dupla entre governos e cidadãos;
c) um certo nível de ineficiência nas bases de dados (a não integração de grandes bases de dados, por exemplo) deve ser encarado como uma proteção, e não como um problema.
Em tempo de novos atores sociais, do “quinto (e digital) poder” e, já batendo à nossa porta um sexto poder, alicerçado em micropoderes, movimentos e hiperativismo, como tratamos no Programa C2i, é interessante (e talvez polêmico) observar como Harari reclama da ausência de uma liderança global no combate à pandemia e, claro, questiona a ausência dos Estados Unidos em assumir esse papel, que o país desempenhava desde o fim da Segunda Guerra Mundial – os autodenominados “líderes do mundo livre”. Esse vácuo de liderança, para Harari, causou um efeito dominó sem precedentes, desestabilizando um sistema de contrapesos que já estava consolidado.
Diante de todas essas reflexões provocadas pelo escritor, fica claro que não é a tecnologia que nos leva para o “bom” ou para “mau” caminho, mas sim as escolhas que fazemos sobre como iremos usá-la. E é por isso que, desde o início de nossa formação intelectual, deveríamos aprender a lidar com a overdose de informações a que inevitavelmente seremos expostos e construir uma noção crítica sobre a fonte dessas informações – e não apenas nos bombardeamos com mais e mais informação, consumida sem critério nas redes sociais e nos aplicativos de trocas de mensagem.
No fim do dia, não devemos atribuir a tarefa do discernimento aos algoritmos das redes sociais. Compreender o que é certo ou errado deveria partir, primeiramente, do senso crítico de cada indivíduo. Feliz de escutar mais vozes pregando a razão pela qual criamos a Gonew.co: acreditamos que não será por meio de regulação ou do mero avanço tecnológico, isolados, que encontraremos o equilíbrio e o bom senso, mas sim por meio de uma sociedade preparada e capacitada para tomar melhores decisões digitais.

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