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A hora da política
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No cenário otimista que prevê eleições em outubro de 2022, o Brasil terá que decidir se continua mentalmente preso entre Lula e Bolsonaro ou se está aberto a alternativas. Um segundo turno que repete os nomes dominantes na política nacional desde o impeachment de Dilma Rousseff será um recado claro: nossa imaginação, assustada, embotada e infantilizada, só aceita brincar no cercadinho de casa. O medo não costuma ser um bom conselheiro.

A culpa deste segundo turno “do fim do mundo” não é só do eleitor, mas também da classe política oportunista, calculista e alienada do país que se recusa a fazer política. Mesmo faltando mais de 500 dias para o primeiro turno das eleições do ano que vem, as discussões continuam girando em torno de nomes e não de projetos, ideias e propostas inovadoras, ousadas e desafiantes para o Brasil. Não é à toa que, neste reality show macabro, os personagens mais conhecidos e lembrados levam vantagem.

Quais são as novas ideias da chamada “terceira via”? Ela nega Lula e Bolsonaro e o legado de ambos? O que estes pretendentes ao cargo mais alto do executivo oferecem de tão novo que justifique a troca do “mal conhecido” pela alternativa, a despeito do risco do salto no escuro? O eleitor, ao colocar dois presidentes no topo da preferência, deixa claro que ainda não se convenceu de que mudar é melhor, mesmo com o desastre sanitário, político e econômico que vivemos. No mínimo, um puxão de orelha nos que sonham destronar os líderes atuais das pesquisas.

Que fique claro para quem sonha com o Palácio do Planalto: quem não mostrar a que veio e em que é radicalmente diferente de Lula e Bolsonaro, apenas oferecendo o próprio rosto num jogo de cartas marcadas, está trilhando o caminho mais curto para a derrota.

Este é um ano sem eleições em que a última discussão deveria ser sobre nomes. Se um ano e meio antes das eleições não há debate sobre as grandes questões do país, quando haverá? Que fique claro para quem sonha com o Palácio do Planalto: quem não mostrar a que veio e em que é radicalmente diferente de Lula e Bolsonaro, apenas oferecendo o próprio rosto num jogo de cartas marcadas, está trilhando o caminho mais curto para a derrota.

Segundo a última pesquisa PoderData 360, amplamente analisada em artigo e vídeo neste espaço, Bolsonaro está 18 pontos atrás do ex-presidiário na simulação de segundo turno e perde para o insosso apresentador Luciano Huck que sequer admite abertamente ser candidato. O presidente não vence um único adversário e aparece com 56% de rejeição. Uma derrota de goleada contra ninguém.

O resultado não poderia ser mais convidativo para outros nomes entrarem na disputa. O eleitor está na janela de casa, insatisfeito com os pretendentes atuais e suspirando para que novos nomes venham cortejar seu coração. Não há desculpa para que as campanhas da “terceira via” sejam tão personalistas, tímidas e desprovidas de ideias, ousadia, coragem, criatividade e poder de sedução. Para o eleitor, antes mal casado do que só.

Há tempo suficiente para que partidos e políticos acordem do torpor e apatia que estão imersos e partam para o confronto democrático que caracteriza a política com “p” maiúsculo. Quase metade dos eleitores, segundo a mesma pesquisa citada acima, sequer desaprovam a atual condução da vacinação no país pelo governo federal. Se a oposição não consegue mostrar o caos na gestão do combate à pandemia para o eleitor e colar mais de 350 mil cadáveres no governo, já perdeu a disputa antes mesmo de começar.

Não há desculpa para tamanha timidez, inação e falta de arrojo, ânimo e audácia. Alguém sinceramente acha que o eleitor vai mudar seu voto por conta de lives e entrevistas esporádicas com pré-candidatos que não vão além de platitudes ou muxoxos contra o governo sem apresentar críticas contundentes, persuasivas e inteligíveis, sem inovar nas propostas e promessas? Você sabe a resposta.

Há todo espaço possível para que 2022 não repita 2018, como as pesquisas deixam claro e cristalino. Se Lula e Bolsonaro ainda lideram, não se pode culpar o eleitor. Como dizia Margaret Thatcher, “primeiro vença a discussão, depois conquiste o voto”. É hora dos políticos fazerem a boa política, sem menosprezar a inteligência e a sensibilidade do eleitor. Antes tarde do que nunca.

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