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Walter Souza Braga Netto e o presidente Jair Bolsonaro, durante cerimônia de posse no palácio do Planalto
Walter Souza Braga Netto e o presidente Jair Bolsonaro, durante cerimônia de posse no palácio do Planalto| Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Quem me acompanha por aqui, na Gazeta do Povo, ou na CNN Brasil sabe que nunca comprei a tese de que Tereza Cristina seria escolhida como vice na chapa de Jair Bolsonaro para a reeleição. Ele não daria essa “fraquejada”, para usar seu próprio vocabulário, num momento de confronto direto com as instituições e com a própria democracia do país. O roteiro foi o mesmo com Janaína Paschoal e Hamilton Mourão em 2018.

A convocação do general da reserva Walter Braga Netto, 65, para mais uma missão bolsonarista não espantou ninguém, mesmo que apoiadores ligados ao Centrão estejam rangendo os dentes. Os profissionais da política sabem que esse fiel escudeiro do presidente nunca embarcaria num processo, mesmo que legal, de impeachment do chefe, uma mensagem fundamental a ser passada em tempos tão turbulentos.

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Braga Netto ganhou notoriedade nacional ao chefiar a Intervenção Federal no Estado do Rio de Janeiro em 2018, mesmo ano que elegeu Jair Bolsonaro presidente da República numa conjunção inédita e improvável de fatores: o auge da popularidade da Lava Jato, a prisão do líder das pesquisas, um atentado próximo à eleição, com direito a semanas de uma convalescença midiática que humanizou o candidato para uma parte do eleitorado.

A intervenção no Rio não costuma ser lembrada como um fator, mas ajudou a ressuscitar a ideia, para um determinado segmento do público mais reacionário, de que o país vive um caos comunista e só um general patriota, com plenos poderes, pode colocar ordem na casa.

O governo Bolsonaro, em seu primeiro ano, sofreu com a nefasta influência da chamada “ala ideológica”, meninos maluquinhos que colocaram todos contra todos e instauraram o clima de polarização e radicalismo com que infelizmente temos que lidar até hoje.

Como nem o presidente conseguiu suportar aquela turma por muito tempo, em 2020 os militares passaram a ter um papel preponderante.

Braga Netto assumiu a Casa Civil, o que significa na prática se tornar uma espécie de superministro e braço direito do presidente, enquadrando e escanteando os ideológicos. Sua função como principal nome de Bolsonaro na política estava se iniciando oficialmente.

Foi também em 2020 que outro general, Eduardo Pazuello, assumiu o Ministério da Saúde. Sob sua gestão, houve uma das maiores tragédias de saúde pública da nossa história, com picos de mais de três mil mortes diárias, o massacre provocado pela falta de oxigênio em Manaus, a produção em escala industrial de cloroquina, os atrasos mal explicados na compra de vacinas Pfizer e a preferência ainda mais estranha pela Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech. Um dia, ainda investigaremos direito essa tragédia.

Pazuello não estava sozinho como czar da pandemia. Braga Netto não apenas deu suporte às decisões do companheiro de farda e ministério como foi o cão de guarda institucional do governo. É notório que os senadores não convocaram Braga Netto para depor na CPI da Covid por se sentirem intimidados, o que certamente conquistou ainda mais pontos com o comandante-em-chefe.

A figura do generalíssimo, associada a ditadores como o espanhol Francisco Franco, está ligada a chefes de estado fardados que assumem a função de “general dos generais”, um papel que Bolsonaro adoraria exercer mas que sua tortuosa carreira militar e sua patente de capitão não permitem. Braga Netto vem preencher este espaço, sendo o avatar de Bolsonaro com quatro estrelas no uniforme.

Os militares do atual governo acreditam, erroneamente, que servir às agendas políticas do presidente da república, como no infame desfile de blindados fumacentos em frente ao Congresso no dia da votação da PEC do voto impresso, é de alguma forma servir ao país.

Não é, mas hoje os militares verdadeiramente patriotas, que sabem que servem à Constituição e ao país, estão infelizmente omissos ou negligentes no seu papel vital de mostrar ao povo que as Forças Armadas não embarcarão em aventuras antidemocráticas ou em chamar às falas seus companheiros aloprados. O retrocesso democrático e institucional, seja qual for o desfecho, está na conta deles.

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