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Quarentena, passado e futuro: leia a reflexão de Alexandre Garcia.
Quarentena, passado e futuro: leia a reflexão de Alexandre Garcia.| Foto: Orna Wachman/Pixabay

Em tempos de incertezas sanitárias e políticas, tem sido muito comum a conclusão de que "sei que estou certo e os outros estão errados”. Mas seria bom que se pensasse que também os outros têm certeza de que estão certos e que eu estou errado. Ou seja, cada um de nós é dono de sua própria verdade.

Existem verdades segundo o cérebro de cada um. O sol nasceu hoje é uma verdade. Mas o sol nascerá amanhã, já é uma verdade relativa.

Faço essa meditação de quarentena, porque noto que além do surto do coronavírus, somos pacientes de um surto de atividade de bolas de cristal.

O confinamento que nos deixa mais isolados das conversas com os amigos, das palavras que nos chegam aos ouvidos no elevador, na escada rolante, nos balcões das lojas, no ônibus, nos deixa ouvindo apenas as nossas frases e as das redes sociais - a maior parte com verbos  no futuro. O presente já nos exauriu e saltamos em fuga para o futuro, onde já nos contaram que haverá um “novo normal”.

Os profetas já revelaram como será o nosso trabalho, como passaremos a jantar, como nos divertiremos. Imagino se as pessoas que escrevem artigos sérios sobre isso, ou concedem sérias e longas entrevistas sobre o novo normal, se estão realmente falando sério ou se estão se divertindo com a nossa ingenuidade. Já previram que chegará logo uma vacina e até quem vai ganhar a próxima eleição presidencial americana.

Quanto mais Nostradamus é o futurólogo, mais atenção passa a merecer da mídia que sente necessidade de mudar de assunto, porque ninguém mais aguenta tanta notícia igual.

Mas o futuro real que nos espera é o tempo presente dos desempregados, das empresas fechadas, das contas públicas arrombadas, das novas corrupções viróticas e acusadoras perguntas que nos esperam, sobre o passado: se tudo isso salvou vidas ou foi inútil.

No ano passado, a média diária de mortes, segundo o Registro Civil, foi de 13.394; neste ano, baixou para 12.559. Vamos ter um futuro de análise sobre o que passou; sobre o que poderia ter sido feito e não foi; e sobre o que se fez e que não deveria.

Mesmo sem bola de cristal, é possível prever que esses últimos meses serão ainda muito discutidos nos próximos. Resta saber se teremos aprendido alguma coisa, para o futuro.

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