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Mil dias se passaram desde que Bolsonaro tomou posse.
Mil dias se passaram desde que Bolsonaro tomou posse.| Foto: Agência Brasil

A palavra mais citada no discurso de mil dias do presidente da República foi liberdade. Por quê? A liberdade de expressão, garantida pelo artigo 220 da Constituição, está em perigo. E não é apenas a censura, que tem sido praticada, embora vedada no mesmo artigo. As liberdades estão sendo cerceadas, como se uma vontade totalitária estivesse agindo, para estabelecer uma ditadura do tipo soviético, do tipo exposto por George Orwell, no seu brilhante livro 1984.

Fico imaginando o inusitado que seria se o presidente, dias antes, na ONU, denunciasse que no seu país há censura, cerceamento de direitos fundamentais e presos por crime de opinião, sem o devido processo legal. Que aqui se estabelece o que pode ser dito e o que não pode. Certamente não denunciou isso porque viria prejudicar a imagem do país. Mas se o tivesse denunciado, esse não seria o inusitado maior.

O maior inusitado é que censura, cerceamento de liberdades e prisões não são atos de um presidente da República chamado de autoritário pelos seus opositores, mas atos que se originam de decisões da Corte encarregada de defender e guardar a Constituição e aplaudidos e apoiados por meios de informação e instituições de defesa das leis.

A pandemia foi o pretexto para pôr em prática a natureza totalitária que estava dormida. E até o Legislativo se curvou, quando recebeu ordem de abrir uma CPI no Senado e, depois, de prender um deputado. O Presidente da República resignou-se quando o Supremo decidiu que ele não poderia nomear o seu Diretor da Polícia Federal.

Lembro-me do Plano Cruzado, quando multidões se converteram em fiscais do Sarney e saíam a prender gerente de supermercado e de farmácia, como se fossem fiscais de quarteirão soviéticos ou Sturmabteilung de Hitler, enquanto a Polícia Federal entrava no pasto, sem mandado judicial, para prender boi gordo. E ninguém reclamou daquele totalitarismo.

Hoje temos agências de censura, também chamadas de agências de checagem, ressuscitando tempos sombrios da Humanidade. Uma inquisição sob o nome de CPI chama os investigados, que são desrespeitados por ironias e gritos. Rótulos de negacionista são aplicados aos que discordam de dogmas; youtubers são levados a depor na polícia, como parte de um aviso e intimidação. Esses mil dias lembrados pelo Presidente me faz pensar que nos meus quase 30 mil dias de vida não havia testemunhado liberticídio assim no nosso país.

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