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André Pugliesi
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Como curar a abstinência futebolística e outras drogas possíveis

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André Pugliesi
27/12/2018 19:46 - Atualizado: 29/09/2023 23:39
Felipe Lima
Felipe Lima

A primeira tomada da América em missão estritamente paranaense, e a descoberta de um continente abundante em reggaeton e chimichurri, fechou o calendário de certames do futebol latino. Nunca mais haverá 2018 para a bola. A Copa Sul-Americana, adequadamente erguida aos céus pelos brazos delgados do argentino Lucho González, El Comandante, ingressou aos anais como o derradeiro ato e glória internacional original para o estado dos pinheirais e a renovada representação do Athletico, o ex-Atlético.

Ao mesmo tempo, o torpedo “embebido em ódio”, para homenagear o amigo Velho Cronista, desferido nos penales pelo zagueiro Thiago Heleno, o General, e chega de alcunhas militares, inaugurou um vácuo temporal no qual estão metidos os aficionados pelo esporte. Mais especificamente, pelo jogo jogado à moda sudaca, outrora afamado, e ainda marcado, como o teatro maravilhoso do drible, improviso, toco y me voy, da catimba e milonga, da violência nas bancadas e muitas, mas muitas, tretas e mumunhas dos cartolas.

E o que nos resta diante do inelutável vazio de partidas? Empreender uma espécie de gerenciamento de crise, algo como uma campanha de redução de danos, remediar o tanto quanto possível a fissura futebolística abraçando, com algum fervor, as “drogas” disponíveis. A começar pelos campeonatos europeus, pilares do soccer business e do fair play, com seleções transnacionais envergando o manto de equipes locais, estádios devidamente asseados e torcedores civilizados. É o jeito.

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Há, no entanto, usuários hardcore que, considerando a baixa oferta, a indisponibilidade do mosaicos de jogos do PPV, encarem, aprisionados pelo vício frenético, até mesmo aquela bituca jogada na rua manchada de batom. Assim, recorrem aos indefectíveis, e cada vez mais insistentes, amistosos de fim de temporada. Basicamente, duelos de amigos de alguém contra amigos de alguém, e é tocante como o Menino Neymar tem camaradas, aí incluídos os irmãos de fé e mesmo aqueles que só curtem viajar de jatinho.

Pois está justamente na origem do programa, disputado em caráter amistoso, o embaraço principal, entre tantos que se apresentam. Ora, é sabido que pega bom, jogo renhido, só se faz entre inimigos, desafetos, a turma da rua de cima contra a de baixo, o primeiro ano contra o segundo ano, e por aí vai. É quando se tem a chance, sem o perigo de comprometer o clima do churrasco, de levar para dentro de campo todas as diferenças e vinga-las, ao menos naquele instante, com uma boa entrada com força desproporcional.

Mas basta girar os canais e estão lá os horrorosos amistosos para preencher a grade, o tempo ocioso do telespectador e a vaidade dos participantes. Como ouvi certa vez, em definição que considerei curiosa, e notadamente polêmica, tais peladas são como o jazz: só quem está atuando está se divertindo. E, diferentemente do basquete, o futebol não permite encenação, o que faz da tentativa de criar jogadas e gols de bela feitura nada além de um espetáculo patético. Mas, para quem não vive sem, é mais uma saída.

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Não demora muito e, no alvorecer da nova temporada, logo no dia 2 de janeiro, começa a Copa São Paulo de Juniores. Disputa que já despertou fascínio, há mais de década, quando os times brasileiros dispunham de bons valores e, sem espaço entre os profissionais, a gurizada surgia mesmo é na Copinha. Agora, com passaportes sendo emitidos às pencas, e potenciais revelações já se mandando antes de tirar carteira de motorista, a competição teve de rejuvenescer mais e lembra quase um pebolim humano.

São formações com moleques entre 17 e 18 anos sem qualquer preparo físico, tático e psicológico. A esfera queima no pé e é arremessada em fúria adolescente por todos os cantos do quadrilátero verde. Há, também, a influência nefasta dos mais velhos, os técnicos, que, desde a tenra idade, inoculam nos imberbes candidatos a boleiro o vírus do “resultadismo”, do jogo pragmático, do preenchimento de espaços, da ocupação do último terço, do jogo apoiado e todos os novos jargões dos chamados professores.

Ajuda, entretanto, a ocupar a mente, e o controle remoto, pelo menos até a largada dos campeonatos estaduais, a partir do dia 23 de janeiro. Quando, efetivamente, os clubes voltam às atividades, mesmo que em ritmo de pré-temporada. E se há tempos os combates regionais perderam em relevância, seguem oferecendo porções de rivalidade, da sadia, passando pela insalubre até alcançar o antagonismo capaz de encharcar a sociedade de ignorância e as redes de memes sem a menor graça.

Felizmente, com o retorno do profissionalismo, mesmo que em escala local, e sob o signo da incompetência e falta de criatividade das federações estaduais, logo em seguida inicia a fase preliminar da Libertadores da América, no início de fevereiro, para as esquadras verde e amarelas. Junto, pinta a Copa do Brasil com seu charme de competição mais democrática do território nacional. Daí para os combates decisivos, ao final do ano, é um pulo, você sabe. E, então, aflição, abstinência e confusão mental voltam a explodir nas veias dos doentes por futebol.

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