Calote para salvar o esporte. Vale a pena?
Quando o assunto é bola, os políticos e os cartolas andam de mãos dadas. Alguns, inclusive, tentam se tornar as duas coisas ao mesmo tempo… Na prática, salvo as exceções, ambos veem o futebol como uma ponte para alcançar notoriedade e/ou dinheiro. Alguns ganham voto se ‘apropriando’ do esporte, outros passam a viver como ricos.
Os representantes do povo, assim como os da torcida, não pensam no bem comum. Com a posse de uma paixão nacional, lustram a cara de pau na exata proporção dos gols sofridos por Ipatinga e Barueri — as piores defesas da Série B. Quer um exemplo? A constante ideia de anistiar os clubes das dívidas com a União. Quer outro? Os gastos públicos com a Copa.
No caso do ‘perdão’ aos débitos tributários e fiscais, algumas ideias circulam nos bastidores — uma perfeita aliança entre CBF, Ministério do Esporte e Câmara dos Deputados. A principal delas, o Programa de Fortalecimento dos Esportes Olímpicos (Proforte), projeta o abatimento para quem investir em modalidades olímpicas. Segundo reportagem publicada na Gazeta do Povo no domingo, a intenção seria transformá-la em medida provisória o quanto antes. A reformulação da Timemania, loteria criada em 2008 com a finalidade de sanear tais pendências, também está na pauta.
Segundo o balanço deste ano dos clubes da Primeira Divisão, o passivo geral dos 20 principais clubes do país com o governo entra na casa do bilhão. No caso dos paranaenses, o Atlético tem a saldar R$ 5,2 milhões com o governo federal, enquanto o Coritiba amarga R$ 21 milhões no vermelho. O Paraná deve R$ 5 milhões.
Em linhas gerais: políticos e cartolas propõem que gestões corruptas do passado sejam pagas por todos nós. Qual a bandeira: o crescimento do desporto nacional.
Para amaciar os críticos, há uma contrapartida interessante. Quem, a partir da vigência dessa proposta, der o calote vai perder pontos no campeonato em disputa. A lógica leva em consideração o viés econômico das competições. Parece lógico. Quem ignora os impostos entra em campo com substancial vantagem sobre um oponente em dia, se é que existe um. Na teoria, o time devedor pode oferecer melhores contratos e premiações, afinal ignora os passivos.
Um exemplo disso é Deivid, hoje no Coxa. Ele não tinha bola para ganhar o que ganhava no Flamengo. Mas os cariocas ofereceram uma grana desproporcional a ele. O jogador, claro, aceitou. Com isso, impossibilitou que concorrentes fechassem uma proposta à altura das leis de mercado com o camisa 9. Agora, para variar, o atleta vai buscar na Justiça do Trabalho o que teria a receber na Gávea. O Fla fará um acordo ou terá de pagar graças à força de uma sentença. Mas e o desequilíbrio que essa contratação trouxe ao campeonato? É correto sim punir quem se beneficiou dos gols e jogadas do centroavante.
O problema é acreditar que o Flamengo — ou outro gigante qualquer — será punido em campo por alguma dívida. Os políticos e os cartolas não vão deixar. Após “salvar o esporte”, vão querer também resgatar o maior patrimônio do futebol nacional: os grandes clubes. E assim vai…
