Kelvin: o mais importante é dar aos poucos espaço para a jovem revelação, sem jogar todo o peso do mundo sobre ele
Por Leonardo Mendes Júnior –
leomendesjr@gmail.com
Bastaram seis minutos em campo para Kelvin ganhar ares de novo Messias tricolor. É verdade que a curta estreia em Guaratinguetá, com direito a um gol de muita personalidade, já foi bem melhor que o desempenho de boa parte dos jogadores que vagam pelo campo com a camisa do Paraná em 2010. Mas por enquanto ele é apenas um garoto de 17 anos que tem talento com a bola nos pés e que ainda precisa de um tempo para mostrar se realmente se tornará um grande jogador.
A única certeza que há em torno de Kelvin é de como a médio prazo a parceria com a Base não vale a pena para o clube. Pois por mais que Kelvin jogue bola e se valorize, apenas metade do lucro ficará na Vila Capanema. Isso enquanto os 50% seguirem nas mãos do Tricolor. Aquilino Romani garante que a fatia do clube segue inabalável, embora fale em necessidade de aporte financeiro quando questionado sobre o repasse de parte deste porcentual.
O fato é que um Kelvin bastará para pagar o investimento no Ninho da Gralha. Os outros Kelvins serão lucro líquido para os parceiros. Uma conta que nunca fechará plenamente no azul para quem interessa, o Paraná.
Talvez por mostrar isso que incomode tanto reportagens como a publicada na quinta-feira por esta Gazeta do Povo, mostrando de forma crua a situação da potencial promessa tricolor, sem se render ao caminho fácil do oba-oba, do aplaudir à espera de um aplauso em troca.
E que ninguém venha de falso puritanismo diante do termo mercadoria, lamentavelmente a maneira como estes garotos são tratados no meio do futebol. Desde as divisões de base, onde são chamados de 93, 94 e 95, em referência ao ano de nascimento, como se fossem carros recém-saídos da linha de montagem, até as reuniões entre dirigentes e empresários, negociando porcentuais como se tratassem de ações da bolsa, não de pessoas.
Muito mais alentador para a torcida seria se a manifestação oficial do clube fosse garantindo, com todas as letras, que
Kelvin não sairá do Paraná pelos próximos três anos, pois há um projeto bem definido para que ele se desenvolva e ganhe títulos pelo Paraná.
Infelizmente, Aquilino não pode prometer isso. Precisa pagar a conta gorda deixada pelos seus antecessores, cujos juros lhe corroem as economias mês a mês.
Resultado direto de maus negócios. Seja a folclórica venda de 107% dos direitos do atacante Ilan, seja o repasse de metade de Thiago Neves à L.A. Sports em troca de alimentação para as categorias de base, seja pela perda lenta e gradual do poder sobre Giuliano. Mesmo com tantas barbeiragens, o destino ainda coloca mais um Kelvin no caminho do Paraná. Que pelo menos este seja bem aproveitado.
Leonardo Mendes Júnior é jornalista, editor da revista ESPN e do blog bolanocorpo.com
