Quando modernidade demais atrapalha
Se tem algo que não falta na Baixada é espírito inovador, um desejo incontrolável de dar um passo à frente do próprio tempo. Alguns tiros foram extremamente certeiros, é verdade. Aí estão a Arena e o CT para provar. Mas outros…
Não vou nem lembrar o Lothar Matthäus, que é covardia. Vou me prender só ao que esteve vigente até bem pouco tempo atrás.
Se o futebol é caro – e manter um estádio moderno mais ainda –, que se repasse o custo para o torcedor. Foi com essa filosofia que os ingressos na Baixada orbitaram entre R$ 30 e R$ 40 nos últimos anos. Mesmo que recentemente o futebol apresentado em campo não valesse nem um tostão furado.
Também foi pensando em ser moderno que Bolinha – sob a justificativa de ser submetido a um necessário tratamento médico para perder peso – foi mandado mais cedo para o chuveiro. No lugar dele, um fisioterapeuta diplomado, uniforme engomado, sapatos impecavelmente engraxados, uma jóia.
E se é para ser moderno mesmo, por que não um diretor desportivo? Nome pomposo, importado da Europa. Para ocupá-lo, que tal um parente do presidente da CBF. Além de exercer a função, ainda abre as portas no Rio de Janeiro. Se não deu certo, chama o Oscar Yamato. Não é nenhuma Brastemp, nenhum diretor de última geração, mas também não do século passado. Para emprestar um termo do mercado automobilístico, um semi-novo com cara de zerinho.
Pois a modernidade enguiçou. E só restou recorrer “à velharia”:
O bom e velho ingresso a quinzão, daqueles que faz o setor atrás dos gols lotar e pulsar como foi desde sempre na Baixada.
Também o Bolinha, mais leve no peso, como leve também fica a arquibancada ao reverenciar o ídolo nada vanguardista que nunca chutou uma bola na vida.
E o Maculan, diretor à moda antiga, com seu cigarrão inseparável, sempre uma palavra amiga com a boleirada e disposto a conversar com a imprensa – algo tão antiquado no projeto do moderno CAParananse.
Domingo, contra o Galo, a “velharia” deu certo. “O Atleticão está de volta”, anunciou Maculan. Só o tempo dirá se o dirigente está certo. Por hora, só uma coisa é cera: modernidade demais atrapalha.
