No último dia 1.º de abril, o supercampeão de vale-tudo Wanderlei Silva lançou um desafio bem-humorado aos leitores da Gazeta do Povo: “Se tiver alguém lendo a Gazeta do Povo e estiver sem fazer nada, vamos lá para o Japão fazer um “peguinha” com o Silva”, “intimou Wanderlei.
Pois o ator Chico Pennafiel entrou no espírito da brincandeira e topou o desafio do lutador. Claro, só pediu um tempinho para se preparar. Confirma a íntegra da carta de Pennafiel, publicada em versão compacta na Gazeta Esportiva dessa segunda-feira.
“Caro Wanderlei,
Como todo mundo que gosta de lutas, também sou seu fã. Vibro com as tuas vitórias e me entristeço com as derrotas. Quando li na Gazeta de domingo que você está desafiando qualquer um para um “peguinha”, me animei. Que melhor forma de demonstrar o carinho por um ídolo das lutas do que levar um nocaute dele? Já vou avisando: não sou lutador, sou ator. Para chegar ao seu patamar levarei, sei lá,… uns 60 anos. Então já fica marcado: em 2067 acontecerá a nossa luta. Teremos em torno de 90 anos, o que deve melhorar as minhas possibilidades de vitória.
Comecei hoje mesmo a minha preparação, trocando um copo de Coca normal por uma Coca Light!
Se prepara, meu chapa, que o bicho vai pegar, a cobra vai fumar e o saci vai chupar Cornetto! Não vou te dar moleza!
Desde já, fico imaginando a luta, os golpes que vou usar. No auge dos meus 90 anos já deverei ser o rei do low-kick com bengala! Vou apresentar, pela primeira vez, meu golpe secreto, o “xazão” na fralda geriátrica! E terminar a luta a la Mike Tyson, na dentada. É só colocar uma dose extra de Coréga na dentadura e mandar ver. Tô avisando, vai ser um massacre!
Sem essa de encerrar a carreira aos 35. Vai ser nos noventão, parceiro, porque eu já tô vivendo em função dessa luta.
A gente pode até comparar nossos cartéis: você é das Artes Marciais, eu sou das Artes Cênicas. Você tem umas 30 lutas, eu já fiz uns 300 comerciais. Você já lutou com o Cro Cop, eu já trabalhei com o Paulo Autran (que é uma espécie de Randy Couture do teatro). Você é de Santa Felicidade, mas eu sou do Guabirotuba. Isso mesmo, pode tremer, do Gua-bi-ro-tu-ba! Você é coxa, eu sou paranista! Você foi balconista do bar do teu pai, eu fui balconista do bar do Sêco! Você já lutou no Japão e nos Estados Unidos, mas eu já fiz uma peça em Assunción, Paraguay e um filme de terror em Cascavel!! Sentiu a pressão? Quem mandou fazer um desafio público? Agora não venha desconversar!
Que luta vai ser essa! No meu córner, meu irmão Augusto, faixa-preta de Muay Thay, só pra você ver que, na minha família, a luta tá no sangue. Ao lado dele, o Maurício Shogun. Isso mesmo ! O Shogun que você tanto elogia, estará a meu favor. Como ele está iniciando uma carreira no cinema, em 2067 ele, provavelmente, estará em cartaz nos Multiplex com “Shogun XII – A vingança ! “. E torcerá pela classe dos atores, claro!
O local da luta você pode escolher. Se for no Japão, sem problemas. Já vou começar a fazer uma poupancinha que a passagem deve ser cara. Mas eu preferia que fosse no Passeio Público, perto daqueles tabuleiros de xadrez, ao lado do lago. Se a gente desistir da luta, dá pra rolar um xadrezinho, damas ou dominó. Acho que teremos uma platéia cheia, porque, além dos velhinhos do Passeio, ainda vou levar a galera do asilo em que estarei internado. Sem falar na minha família que estará segurando, angustiada, o meu testamento, que assinarei antes de entrar no ringue, já que nesse negócio de luta nunca se sabe, vai que dá uma zebra e eu levo uma surra daquelas…
Por falar em família, para te desestabilizar psicologicamente, vou tentar marcar a luta na mesma semana que o teu 11º filho estará disputando o título mundial, já que os outros dez já conseguiram os seus cinturões. Vou me aproveitar que você estará todo babão de orgulho do caçula, e levar pra casa o tão sonhado prêmio da disputa: duas cartelas de Viagra e um potinho de geléia de mocotó!
Nem pense em amarelar! Da minha parte, vou esquecer por uns 15 minutos a minha idolatria, me segurar pra não pedir um autógrafo ( pra não te dar moral ) e vou partir pra dentro!
Se eu me ferrar nessa luta, já vou avisando, quero revanche. E ela será a duas quadras dali, no palco do Guairão. Pode ir decorando, no terceiro ato, cena 1, do Hamlet de Shakespeare, o monólogo do “ ser ou não ser”. Quero ver você se virar num palco, platéia lotada, dentro de uma calça de malha justinha, filosofando sobre crise existencial! Surpreso? Pois eu sou assim: vingativo e mau-perdedor!
Portanto, te cuida, Silva! A tua hora vai chegar! E é em 2067!”
