Uma questão de sobrevivência
A Arena Atletiba veio à tona pela primeira vez em agosto, na entrevista do Petraglia à Revista Ideias. A proposta, bombástica, vagou entre os esdrúxulo e o genial para a maioria da pessoas. Não fui a extremo algum. Considerei a ideia boa, como escrevi na época aqui no blog.
Há nove dias entrevistei Petraglia primordialmente sobre esse tema (também falamos muito de Copa e do futuro do futebol paranaense, tudo interligado, na verdade). Conversa que já era para ter ocorrido em janeiro, com mais gente da editoria, mas esbarrou em uma condição colocada por ele, de acertar a pauta previamente. A ideia foi congelada e reativada depois de a Arena Atletiba voltar à tona, no CAP4ever. Fiquei curioso por entender melhor o que motiva o cara que idealizou a Arena como é hoje a dividi-la com o maior rival.
Após três horas de conversa (metade gravada, de onde saiu a entrevista publicada hoje; metade em off), fiquei com a clara impressão de que Petraglia defende a Arena Atletiba porque é a maneira mais prática de concluir o estádio do Atlético. Ele percebeu que será difícil convencer o poder público a despejar dinheiro nos cofres do Atlético para concluir o estádio e que o clube irá se arrebentar se for pagar tudo sozinho. Assim, se o Atlético quiser ter um estádio de Copa do Mundo (e, bom que se frise, não precisa; pode concluir a Arena em um padrão de exigência menor e seguir feliz da vida, embora sem a Copa por aqui) precisará do rival: ou com ele como sócio ou que o poder público ajude, de alguma forma, Coritiba e Paraná a modernizar suas casas.
Foi assim, por exemplo, em Porto Alegre. O Internacional receberá investimento do BNDES para transformar o Beira-Rio em um estádio de Copa, enquanto o Grêmio terá sua arena erguida pela OAS, que recebeu um pacotão de vantagens do governo para fazer a obra valer a pena.
Estádio à parte, os nossos clubes precisam de uma sacudida para sair da mesmice. Do jeito que está, seremos leões na Segundona e gatinhos na Primeira Divisão, um melancólico retorno ao nosso estágio na primeira metade dos anos 90. Bem administrado, um estádio conjunto pode se tornar o vetor de uma nova fase para o futebol local. Mas essa transformação não depende unicamente do estádio, que seria a âncora disso tudo. A tão falada gestão profissional precisa chegar de vez aos nossos clubes, o senso de oportunidade dos nossos dirigentes precisa ser mais apurado. Aquele feeling de ver uma ideia no ar, agarrá-la e transformá-la em alguma coisa real.
A parceria entre Atlético e Coritiba é a opção natural, pois se tratam de times do mesmo porte, mas, fatalmente, acarretaria num encolhimento maior ainda do Paraná – algo na proporção de Cruzeiro e Atlético-MG para o América-MG em Belo Horizonte. Se um dos dois fraquejar, o Paraná pode e deve entrar no páreo – o compartilhamento de um estádio com o Tricolor provavelmente seria mais bem aceito pelo outro lado. Infelizmente, no estágio em que o mundo da bola está, é bem provável que a curto prazo Curitiba acabe tendo de sacrificar (não estou falando de extinção, sim de encolhimento irreversível) um clube para não acabar com os três vagando como zumbis pelas divisões de acesso do futebol nacional.
