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Cena emblemática: Arouca tenta segurar Iniesta no massacre catalão. (Foto: Albert Olivé/ EFE)
Cena emblemática: Arouca tenta segurar Iniesta no massacre catalão. (Foto: Albert Olivé/ EFE)| Foto:
Cena emblemática: Arouca tenta segurar Iniesta no massacre catalão. (Foto: Albert Olivé/ EFE)

Cena emblemática: Arouca tenta segurar Iniesta no massacre catalão. (Foto: Albert Olivé/ EFE)

Coluna publicada na Esportiva impressa desta terça-feira

As vitórias do Corinthians sobre o Chelsea e da Seleção sobre a Espanha criaram uma falsa impressão de que o futebol brasileiro equiparou-se ao praticado na Europa. O Chelsea é uma das forças da liga mais evoluída taticamente do planeta. A Espanha é o modelo de jogo mais admirado mundo afora. Era só aproveitar o caminho pavimentado por alvinegros e canarinhos para, enfim, voltar ao topo do futebol. Uma ilusão desfeita pelo barulho das oito vezes em que a bola estufou a rede do Santos, no massacre imposto pelo Barcelona.

A distância do futebol jogado no Brasil para o europeu não é tão grande como indica a derrota santista. Nem tão pequeno como sugerem os triunfos no Mundial de Clubes e na Copa do Brasil.

Ao derrotar o Santos no fim de 2011, Guardiola estipulou um marco zero interessante para uma comparação: o Flamengo campeão mundial de 1981 e a seleção brasileira de 82. Disse que o seu Barcelona jogava como aquelas duas equipes.

Ao longo dessas três décadas, o futebol brasileiro de clubes avançou de bonde e o europeu, de trem bala. A importação cada vez maior de jogadores de todos os continentes permitiu à Europa incorporar ao seu jogo antes predominantemente físico e tático características próprias de outras regiões: criatividade, habilidade, velocidade etc.

O futebol inglês talvez seja o que melhor sintetize essa transformação. Trocou o estereótipo dos chutões por um jogo extremamente veloz, com uma sintonia perfeita entre disciplina tática e capacidade individual. É o mesmo caminho que a Alemanha vem seguindo. A Espanha reduziu a intensidade do seu jogo e passou a tocar mais a bola. A Itália, mesmo com os apelos constantes pela volta ao catenaccio, incorpora o jogo ofensivo às suas seleções, por obra de Arrigo Sacchi e Cesare Prandelli.

Ficar somente nos gigantes europeus é fácil? Então vamos a outros exemplos. Após cair na primeira fase da Euro-2000, da qual foi anfitrião ao lado da Holanda, a Bélgica padronizou o sistema de jogo de todas as suas seleções. Seja qual for a categoria, joga-se no 4-3-3. O resultado é que os Diabos Vermelhos devem vir ao Brasil ano que vem, após duas Copas de ausência, com uma geração brilhante, capaz de levar o país sem sustos às quartas de final e de sonhar com a terceira semifinal da sua história. Excelente para os belgas.

O Uruguai voltou a entender que futebol se ganha jogando, não apenas brigando, quando Óscar Tabárez implantou a mesma padronização a todas as seleções. A Celeste foi semifinalista da Copa-2010, da Copa das Confederações deste ano e venceu a Copa América. Na base, é o atual campeão sub-17 e sub-20.

Dado Cavalcanti, técnico brasileiro com cabeça europeia. (Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo)

Dado Cavalcanti, técnico brasileiro com cabeça europeia. (Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo)

Em todos os casos, a mudança é gradual e leva tempo. No Brasil, começar um trabalho agora só dará frutos realmente maduros na próxima década. Precisamos ter essa paciência. O primeiro passo para a transformação já foi dado. Novos treinadores, como os locais Marquinhos Santos e Dado Cavalcanti, têm a cabeça totalmente alinhada ao futebol jogado lá fora. Estão anos-luz à frente das gerações anteriores, que salvo exceções como Cuca, Tite, Ney Franco, Caio Júnior e Mano Menezes, ainda pensa o futebol como um jogo em que você primeiro se preocupa em como não perder e depois acende uma vela para o craque do time resolver tudo sozinho.

O passo seguinte é essa consciência passar a existir na CBF e, depois, se disseminar pelos clubes, com a formação de jogadores realmente seguindo uma nova cultura, em que trabalho tático, preparação física e uso do talento individual são vistos como itens inseparáveis. Somente a partir deste momento o Brasil criará condições para que vitórias como a do Corinthians sobre o Chelsea ou da Seleção sobre a Espanha sejam um retrato verdadeiro. E que vexames como o do Santos deixem naturalmente de existir.

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