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Juninho durante a coletiva em São Januário. (Foto: Divulgação/ Vasco)
Juninho durante a coletiva em São Januário. (Foto: Divulgação/ Vasco)| Foto:
Juninho durante a coletiva em São Januário. (Foto: Divulgação/ Vasco)

Juninho durante a coletiva em São Januário. (Foto: Divulgação/ Vasco)

O grande fato da segunda-feira no futebol brasileiro foi a aposentadoria do Juninho Pernambucano. Um dos maiores craques do futebol brasileiro nos 20 últimos anos. Uma das grandes cabeças que já passaram pelos nossos gramados. Não surpreende que Juninho seja um dos líderes do Bom Senso FC, movimento ao qual ele poderá se dedicar um pouco mais a partir de agora.

 

Entrevistei o Juninho em junho de 2011, no Rio de Janeiro. Um papo de mais de uma hora, que virou entrevista do mês na revista ESPN de agosto de 2011. Vasculhando os arquivos digitais, encontrei a entrevista. Tanto a versão editada, que foi publicada, como a completa, com o triplo de tamanho. Fiz um mix das duas. Sobre temas mais datados (volta ao Vasco), deixei a versão curta. Para assuntos mais atemporais, as respostas estendidas.

 

Fiquei impressionado ao rever o bate-papo. Juninho falou abertamente de questões como bebida e a má convivência entre jogadores brasileiros. Lembrou sua mais marcante passagem pela seleção brasileira, o choro no hino antes do Brasil x França de 2006. Antecipou temas muito atuais, como o calor insuportável do Catar para se jogar lá uma Copa no meio do ano e os perigos que se colocavam diante do Brasil para o Mundial de 2014. De quebra, uma breve aula sobre vinhos. Lê aí.

 

Como está sendo sua readaptação ao Brasil?

Fora de campo é como se eu estivesse aqui o tempo todo. Nunca viajei para canto nenhum. Acabava a temporada, eu já estava no primeiro voo para o Brasil. Lógico que em dez anos muda tudo, principalmente de trânsito. Levo até 1h30 para chegar a São Januário. Mas não é uma coisa que me incomoda. Estou curtindo acordar mais cedo, sair mais cedo. Não é sacrifício nenhum. É um privilégio jogar futebol ainda aos 36 anos. Logo, logo vou parar e quero aproveitar tudo isso.

 

De onde vem esse apego às raízes?

Eu tive uma infância bem difícil como a de muita gente. Graças a Deus nunca passei fome como alguns amigos meus, jogadores que conheço, mas a minha vida no valor material sempre foi bem difícil. Meus irmãos são mais velhos que eu, sou o caçula de cinco e eles me ajudavam, compravam chuteira quando meus pais não podiam. Tenho 12, 13, 14 anos de diferença para os meus irmãos. Em casa sempre tive muito carinho, disciplina. Meu pai é militar da marinha e sempre tivemos muita disciplina em casa, respeito à família. Sempre tivemos essa ligação muito forte, em que aprendi a dar valor à família e sempre quis voltar para casa muito rápido. Vem da base familiar, educação bem rígida. Acabei o segundo grau, diferente de alguns jogadores amigos meus que pararam de estudar bem cedo.

 

Preservar o sotaque faz parte desse processo de preservar as raízes?

Não é questão de preservar. Cheguei aqui com 19 pra 20 anos, é muito difícil perder o sotaque. É uma coisa natural que me acompanha. Não preservo o sotaque por obrigação, continuo falando da forma que sempre falei. Chama mais atenção por nosso sotaque ser bem mais arrastado que da Bahia, do Ceará, cada um tem suas diferenças. O pernambucano tem esse sotaque mais forte. Todo mundo brinca um pouco. Alguns amigos de quando joguei fora me apelidaram de Paraíba, todo mundo acha que quem vem do Nordeste é Paraíba. Mas não pejorativamente, não tem problema nenhum entre os amigos. No Lyon, o Edmilson, o Caçapa e o Anderson me chamavam de Paraíba, acabou ficando, sendo meu apelido quando cheguei.

 

Essa disciplina foi decisiva para você estar jogando aos 36 anos?

Disciplina com sacrifício. Nunca fui um cara muito rápido, então sempre precisei estar na ponta dos cascos para jogar bem. Fui aprendendo a disciplinar tudo: treinamento, alimentação, recuperação. Isso fez diferença.

 

Quando você foi para o Catar, muita gente questionou se realmente era necessário ir para lá. Por que essa passagem de dois anos pelo Oriente Médio?

Eu dou graças a Deus de ter passado estes dois anos no Catar, por isso eu consegui voltar. Não é questão de precisar ou não ir para o Catar, mas uma questão também de planejamento. Eu tinha um ano de contrato com o Lyon ainda, só acabaria em 2010, e o meu último ano na França foi muito desgastante, coisa que ninguém imaginou. O francês tem a cultura do você ganhou, agora é a vez do outro ganhar. Eu me senti muito marcado por ser o último ano. Eu era sete vezes campeão nacional, 34 anos, jogando bem e o Lyon acabou em terceiro. Fiquei um pouco decepcionado porque imaginava com sete títulos seguidos e colaborando com o futebol francês, eu merecia um pouco mais de respeito. Uma grande parte da imprensa achava que meu ciclo tinha encerrado. Foi um ano desgastante, sofrido. Fui duas vezes assaltado na França, entraram duas vezes na minha casa. Eu não queria mais viver um ano assim, estressante, e considerado o final de um ciclo, em que o time jogava para mim. O time jogava no 4-3-3 por mim. Eu não concordava com algumas coisas, então achava que era o momento de sair do Lyon. O presidente aceitou me liberar do último ano de contrato se eu voltasse para o Brasil ou fosse para outro país fora da Europa. E a proposta do Catar era muito boa e acho que eu tinha o direito de aceitar aquela proposta. Pensei em mim e na minha família. Eu não tinha condição de recusar aquela proposta, como agora eu tive condição de recusar a renovação e voltar para o Vasco. Foi um planejamento, projeto de vida pensando em mim e na minha família. Tenho certeza de que fiz a melhor escolha. Continuei jogando futebol, fui muito bem recebido por eles, fui campeão, ajudei o time a crescer. Tive qualidade de vida, passei dois anos sem viajar muito, fiquei mais tempo com a minha família e me permiti ter condições físicas de continuar jogando e voltar agora para o Vasco. Talvez se eu não tivesse ido naquele momento, tivesse voltado imediatamente para o Brasil, a pressão seria muito grande e eu não conseguisse render o esperado. O Catar é muito bom. Aconselho a todo o jogador do Brasil que tiver a oportunidade de ir para lá não pensar duas vezes.

 

O Catar vai fazer uma boa Copa em 2022?

O que eles acharem que tiverem de construir, será construído. Mas, na época da Copa, o calor será insuportável. O estádio pode ser climatizado, mas o torcedor também fica na rua e não é agradável um calor de até 48 °C. Talvez o ideal fosse fazer a Copa em janeiro, dentro de um calendário mundial unificado. É muito melhor para o futebol europeu fazer o nosso calendário do que a gente fazer o deles. Eles teriam mais tempo de gramados em boas condições e poderiam passar as férias de dezembro em países onde seja verão.

 

O Brasil consegue fazer uma boa Copa em 2014?

O Brasil tem a obrigação de fazer uma grande Copa do Mundo. O Brasil hoje vive um momento econômico em que todo mundo está sofrendo e dizendo que o Brasil não sofre, vive um momento de crescimento. A gente vê o euro sofrendo, os Estados Unidos com o dólar sofrendo, vários países da comunidade europeia sofrendo, crise na Grécia e Portugal. Se o Brasil não fizer direito a Copa do Mundo, corre o risco de o Brasil inteiro sofrer de novo. A gente tem obrigação de mostrar o melhor. Estou preocupado em que as coisas andem mais rápido, com menos burocracia e que a gente saiba mais facilmente o que está sendo feito. Em 2013, na Copa das Confederações, já é importante o funcionamento. Eu disputei a de 2005 e a Alemanha já estava preparada para receber uma Copa do Mundo que foi excelente. Não vi na África do Sul como foi. O Brasil vai ser invadido por muita gente, que já sonha conhecer o Brasil. Nos oito anos em que vivi na França, conheci muita gente que sonhava conhecer o Brasil, mas tinha receio e de repente vai aproveitar a Copa do Mundo… Tem o receio da violência. Muita gente ainda liga o Brasil a Carnaval e futebol e não é bem assim que acontece. A gente tem muita coisa mais legal para mostrar do que carnaval, futebol e mulher. Às vezes se explora muito isso e eu sou muito contra. Espero que a gente dê a resposta não só no campo, mas em termos de estrutura também, que a gente permita ao visitante ter facilidade em se locomover, ir aos estádios de segurança de ônibus, de trem, de metrô, de táxi, de carro. Que a gente abra bem os olhos, que todos os políticos aceitem que talvez seja o momento de confirmar o Brasil no cenário internacional em todos os sentidos. De educação, em que a gente precisa melhorar, segurança, que o turista aproveite o fato de sermos um país que tem sol o ano inteiro, mas não curta só praia e futebol, também curta outras coisas. O Brasil vai ter oportunidade de mostrar ao mundo que está no caminho certo, em um crescimento verdadeiro que vai continuar por muitos e muitos anos. Por ser um país jovem que está no momento da mudança. O brasileiro tem uma coisa que o europeu não tem, que eu acho fundamental: calor humano. O europeu não tem muito calor humano, é muito frio no relacionamento, tem que conhecer muito a pessoa para se relacionar bem com ela. O brasileiro, se ele não sabe falar a língua do outro, faz mímica, dá cambalhota, isso é muito legal. Uma coisa que também sofri muito no início na França, no dia a dia. De ir no supermercado e encontrar uma pessoa que não fale a minha língua, mas queira me ajudar e não foi tão fácil no início. Mas foi fácil em outras coisas, da educação básica de dar um bom dia, dizer obrigado e por favor, coisas que eu levo comigo e quero passar para as minhas filhas. O Brasil tem que dar essa resposta em tudo. Estou um pouco preocupado, espero que em 2014 esteja tudo bem. Mas eu sei que vai ser um risco muito grande para o nosso país.

 

A sua imagem mais marcante pela Seleção foi o choro durante o hino, antes do jogo com a França, em 2006. O que significou aquele momento?

Jogar uma Copa é privilégio para poucos, uma luta muito grande até chegar lá, ser convocado, se firmar no grupo e saber que vai disputar uma Copa do Mundo. Estudei em uma escola chamada São Luís, em Recife. Em datas marcantes e principalmente na Semana da Pátria a gente ficava em pé na sala, antes da aula, e ouvia o hino. E já nessa época, com 12, 13, 14, 15 anos, toda vez que eu me levantava para ouvir o hino eu me imaginava jogando pela seleção. Então foi essa a imagem que passou pela minha cabeça, eu cantando o hino naquela época imaginando ser um jogador da seleção e não um aluno naquela sala. Não sei o que os outros pensavam, mas eu pensava que estava em um campo jogando. Eu passava o hino todo cantando e me imaginando jogando. Foi essa a imagem que me veio à cabeça e acabou que me emocionei. Eu sou um cara emotivo demais. Tudo que eu faço é com o coração, senão não funciona pra mim. Eu sou muito estressado e ansioso, esse é o lado negativo. O tempo passa e eu tenho que trabalhar mais isso. Foi isso que aconteceu. Fiz bons jogos na Copa, um grande jogo contra o Japão, não tão bom contra a França, como todo mundo. A nossa equipe não conseguiu render o esperado naquela Copa do Mundo. Foi a emoção de passar toda aquela história na minha cabeça, passar a imagem da minha família, dos meus amigos que estavam em Recife, uma mistura de tudo que veio natural. Mas não influiu em nada no meu rendimento em campo, quando acabou eu estava pronto para jogar. Pelo contrário, até serve de motivação a mais. Já me emocionei outras vezes antes de jogos que ninguém viu. No caminho do hotel até o estádio, pensando em tudo que podia fazer. Me emocionei em várias conquistas, em algumas derrotas marcantes. O brasileiro tem muito isso e eu sou um brasileiro nato por isso.

 

O que deu de errado naquela Copa?

Já faz cinco anos e sempre me recusei a falar sobre isso. É uma decepção que vou carregar comigo pelo resto da vida. Fiquei triste e com raiva, porque achava que a gente podia ser campeão. No Brasil, chegam a diminuir a história de alguns jogadores só porque não foram campeões do mundo. O Zico, o Roberto, o Júnior – um cara que eu sempre quis ser igual –, o Sócrates, o Falcão, nenhum deles foi campeão. Mas todos foram fenômenos, extraterrestres, jogando futebol.

 

Você teria voltado ao Vasco se o Eurico Miranda ainda fosse presidente?

Voltaria. Eu voltei para o Vasco e queria voltar para o Vasco. Eu vou passar, o Eurico passou, o Roberto vai passar. O clube e a torcida são maiores que qualquer um. Sempre admirei o Roberto como jogador. Ele foi fundamental para a minha volta. Foi na minha casa, tem um coração espetacular. É lógico que pesou e muito ser ele o presidente.

 

Nos últimos anos o Brasil repatriou alguns jogadores. Todos ganhando muito, a partir de engenharias financeiras que geravam críticas sempre que eles jogavam mal.

[interrompendo] No meu caso não vai ter isso, não.

 

Não se sujeitar a esse tipo de crítica pesou no tipo de contrato que você fez com o Vasco?

O Ronaldo, por exemplo, foi uma engenharia, mas entrou muito dinheiro no Corinthians com a imagem dele. Todos esses voltaram mais novos do que eu, então eu não queria voltar com a mesma responsabilidade deles. Se não der certo, ninguém vai dizer que estou sendo um prejuízo econômico para o clube. Se o salário do time atrasar, não vai ser por minha causa. Eu vou sair pela porta da frente. Minha história com o Vasco era muito legal e vai continuar sendo porque eu sei que vou jogar bem. E se eu renovar, não vai ser nessas condições. Claro que algum jogador pode falar: “Que merda o Juninho fez, vai complicar todo mundo que está voltando”. De repente, eu vou me arrepender e o arrependimento é uma forma de aprendizado. Posso daqui a dois meses voltar pra casa, puto pra caramba por ter perdido um jogo, todo mundo me xingando, olhar pra minha esposa e dizer: “Que merda eu fiz. É foda, né?” Pode acontecer, mas estarei tranquilo por ter dado o meu melhor em campo, estarei levinho, vou chegar em casa e tomar minha cerveja.

 

Você bebe?

Todo mundo acha que jogador não bebe, que eu também não bebo. Eu bebo minha cerveja, sei o momento de fazer e não me incomodo em falar… Agora tu vai me perguntar sobre isso.

 

Não ia, mas vou. Jogador brasileiro sabe a hora de fazer festa?

Não. É isso que falta para eles. Tem hora para tudo na vida. O jogador europeu bebe muito mais que o brasileiro. Na Europa se fuma e se bebe muito mais que no Brasil, mas os caras são muito mais disciplinados que a gente. Talvez a cultura, eles aprenderam isso muito cedo. Mais da metade do time do Lyon fumava e os caras corriam pra caramba. Muitos também bebiam. O europeu bebe muito, tem muito menos lazer que a gente. A gente ainda tem a praia, é fogo você passar oito meses do ano sem sol, com frio. Às vezes o cara busca a solução numa garrafa de vinho, é um momento de descontração. É saber o momento. Eu falei de cerveja, mas gosto muito mais de vinho, aprendi a beber vinho em Lyon. A maioria dos jogadores bebia e eu comecei a beber com 30 anos, quatro anos depois de chegar. Sempre fui aquele cara estressado, vai fazer mal, não sei o quê. Hoje eu curto ir comprar um vinho. Às vezes estou em casa de tarde, compro um vinho e trago para beber com a minha esposa do jantar. É o momento. Não dá para fazer isso todos os dias. Mas não vejo nada demais depois do jogo. Depois de jogo, eu não consigo dormir. Não vejo nada de mais tomar três, quatro cervejas pequenas depois de jogo. Mas é lógico que eu não vou tomar dez, porque sei que vai prejudicar na minha recuperação do dia seguinte. Eu sei o meu limite, talvez quando parar eu não saiba mais. Mas isso aí também não tem problema. Sei que é gostoso pra caramba beber um vinho, uma cerveja, curtir os amigos, estar ali numa roda. Eu, graças a Deus, nunca gostei de sair de noite. Gosto de sair para comer, para um cinema. Hoje eu vou jantar com o Juan e a esposa dele, um cara que esteve comigo na Copa de 2006 e eu não vejo há muito tempo e gosto muito. Gosto dos meus amigos. Um negócio que você não faz muito no futebol é amigo de verdade. A gente está muito junto sempre. O europeu lida muito mais fácil com a concorrência, acaba que aqui a gente não faz muita amizade verdadeira. Meus grandes amigos são os da infância, gostaria de feito muito mais no futebol. É muito triste eu falar sobre isso, mas é a realidade. Tem espaço para todo mundo e cada um vai ter sua hora, sua oportunidade de falar. São coisas do futebol que eu nunca falei e hoje tenho mais experiência pra falar. Eu sou muito grato ao futebol. O futebol me deu tudo, mudou a minha vida. E eu também dei muito ao futebol.

 

Os jogadores são muito mimados?

Talvez sejam mais protegidos. Às vezes o jogador tem que saber viver mais com a realidade, conviver mais facilmente com a crítica. Se sacrificar um pouco mais. Saber que o que ele faz dois dias antes de um jogo vai pesar. Quem trabalha diretamente com o jogador precisa dizer mais a verdade, não o que ele quer ouvir.

 

Mesmo com os jovens?

Aí tem que ter sensibilidade. Às vezes tem que mentir um pouco e dizer que está bom quando não está. Em compensação, ele é posto à prova mais cedo aqui que na Europa. Aqui, vocês [jornalistas] não aliviam, não importa se tem 10 ou 40 anos. O cara estreia com 18 anos e vocês metem a pancada. Quantos jogadores ficaram no meio do caminho injustamente, marcados por causa de um jogo?

 

Vai concentrar antes dos jogos?

Uma coisa que cheguei a conversar com o Rodrigo [Caetano, à época gerente de futebol do Vasco]. Serão 4, 5 meses só de competição e o Vasco só concentra na véspera. Minha preocupação era concentrar dois dias antes. E eu acho que vai valer esse sacrifício de concentrar com o grupo. Não que eu precise e também não sou de acordo. Mas vai ser assim até dezembro. É lógico, se começar dois, três dias de concentração eu vou conversar com eles porque é algo que atrapalha até meu rendimento.

 

Perdeu o hábito também?

Eu durmo melhor na minha casa e vou estar descansado no dia jogo. Não sei como os jogadores vão receber isso. Na França a gente quase não concentrava em casa, no Catar nunca. O Caio Júnior gostava de concentrar, mas não tinha viagem, só jogava à noite e voltava de carro depois de jogo. Mas vou curtir o futebol e de repente até gostar disso aí também. Se começar a me incomodar, converso abertamente disso aí.

 

Depois de tanto tempo de França, virou um especialista em vinhos?

Não estudei. Sou curioso. Quando vou comprar eu pergunto. Sei entrar na loja e comprar um vinho. Não posso dizer que sou especialista, mas eu consigo me virar bem. Se eu pudesse eu bebia todo dia, a verdade é essa. Mas sei que não posso.

 

O Vasco campeão brasileiro de 1997 seria qual vinho?

Era um grande vinho, talvez mais leve porque tinha jogadores jovens, mas não deixaria de ser um grande vinho. Eu tomei alguns vinhos da região do Rone Chateauneuve du Pape e tomei Chatô Raias que é, se eu não me engano, de uma uva só, chamada grenach, e gostei muito. Um amigo me indicou, eu comprei e era uma vinícola bem difícil de comprar. Gostoso, seja para jantar ou tomar como aperitivo. Até tenho uma garrafa ainda. Conseguia se impor e pode guardar muitos anos, como esse time ficou guardado na memória.

 

O Lyon heptacampeão francês.

Vai ser até estranho eu falar que seria um grande Bordeaux. Tomei um na região do Rone, se eu não me engano Chateau Guigot Cot. Vinhos marcantes, diferentes da região de Bordeaux. Cot-Rotie. A uva é syrah. Esse produtor tem três vinhos marcantes, muito difíceis de comprar. O Cris foi visitar. Até o Fred me falou: “Tomei um vinho, Paraíba, que se chama Cot-Rot-Latreaux e só quero tomar ele agora”. Vinho excelente que pode guardar por 15, 20, 25 anos e que ele vai se tornar melhor ainda. Quando quero conhecer o vinho pego a garrafa, vou no Google e assim vou conhecendo.

 

E gastronomia? Aprendeu a cozinhar na França?

Já tentei, mas não tenho facilidade. Aprendi a comer na França. Eu fui criado com feijão e arroz todos os dias. Comecei a comer a salada quando vim para o Rio. Aqui tem a cultura de comer em quantidade e o francês come em qualidade, eu quero dizer nesse sentido. Estou aqui e comi feijão todos os dias. Aprendi a comer salda de entrada e estar mais preocupado em manter o meu peso. Todo mundo falava que em Lyon se comia muito bem e lá você entra numa brasserie, mesmo num restaurante pequeno tem comida boa. Vai comer muito bem e não pagando carro. E vai entrar num Bocuse, que eu só fui uma vez e paguei caro pra caramba. Tive a oportunidade de conhecer o senhor Bocuse, ele era torcedor do Lyon. Fui no tradicional. Quis ir para conhecer e comi muito bem. Lyon realmente se come muito bem, mas não sou especialista de estar indicando para alguém. Troquei seis vezes por semana carne vermelha por comer seis vezes na semana peixe ou frango. Hoje eu como mais saudável. Tenho problema de colesterol, nem parece, descobri há dez anos que meu colesterol é alto, genético. Quando parar vou ter que me cuidar, mas já comecei por isso também. Mesmo sendo magro, tenho de me cuidar.

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