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Moeda francesa retrata o Rei Luís XVI
Moeda francesa retrata o Rei Luís XVI, o último antes da revolução francesa| Foto: BigStock

Algo que deixava Tocqueville desolado quanto à centralização francesa é que ela aconteceu por mera frivolidade e autodemissão da parte dos nobres. Não foi necessário os Luíses arrancarem-lhe as cabeças nem nada: eles abriam mão das obrigações feudais para com os camponeses enquanto mantinham as benesses de nobre e corriam atrás de cargos decorativos com gordas remunerações. Abriram mão do poder e ficaram apenas com dinheiro. Poucos homens desejam poder; muitos homens desejam ser ricos. Assim, sendo ricos sem merecimento, ainda por cima atraem a ira dos que estão por baixo.

Se todas as camadas intermediárias de poder tinham aberto a mão deste para ficar só no bem-bom, era inevitável o colapso da ordem social estabelecida.

A questão das elites demissionárias pode como facilidade ser trazida para o Brasil do século XXI.

A universidade delega os próprios poderes à imprensa

Na pandemia, uma retumbante ausência chamou a atenção: a da universidade. Já vim escrevendo neste jornal sobre o processo de centralização das universidades federais imposto por Fernando Haddad – mas até mesmo a USP, que esteve fora desse rolo, se autodemitiu.

O tema dos tratamentos de covid e das vacinas experimentais dão muito pano pra manga. Caberia os professores universitários de elite se dedicarem a essas questões prementes e se manifestarem em público. Tal coisa, salvo raras exceções, não aconteceu. Em vez disso, os acadêmicos ficaram embolsando seus salários quietos sem sequer irem à universidade por causa da pandemia. Quando a Universidade aparecia na imprensa enquanto instituição, era apenas para panfletar contra o patrão (o presidente) e exigir férias remuneradas eternas em função da pandemia.

Na USP, um dos poucos professores que manifestou sua preocupação quanto à condução da pandemia pelas autoridades foi Paolo Zanotto. A USP reagiu tomando medidas contra o professor.

Estamos acostumados a falar mal das humanas. Estamos acostumados a reclamar do sucateamento das federais. A parte de biológicas da USP estar também comprometida é uma novidade perante os olhos do público. A USP escolheu se demitir do seu papel de formadora de lentos consensos científicos e delegá-lo à imprensa o seu papel.

Esta, a seu turno, pinça “especialistas” para martelar aquilo que ela decidiu ser verdade, a saber: que as vacinas não são experimentais, que o risco é raríssimo, que todos devem tomar mesmo que isso não os impeça de pegar covid nem desobrigue de usar máscara, e que todo tratamento pré-hospitalar é ineficaz, de modo que as pessoas devem esperar ficar mal para irem ao hospital ser intubadas. Friso outra vez que a seleção de “especialistas” inclui um ex-aluno de Zanotto que não seguiu com a carreira acadêmica e virou youtuber nerd.

A classe que se destacou no questionamento desses mantras foi a classe médica. Ela colocou a classe acadêmica no chinelo. A Universidade caiu na irrelevância ao se revelar, enquanto instituição (pois não me refiro a cada professor, claro), o playground de sindicalistas que só querem dinheiro no bolso e sossego

A imprensa delega os próprios poderes a agentes políticos

A difusão da internet tornou-se uma concorrência implacável para a imprensa tradicional. Ela poderia, como este jornal, se dar ao trabalho de tentar convencer o leitorado a continuar pagando pela informação. Dá trabalho e não é fácil. Se ela quiser ficar no bem-bom, há uma alternativa mais simples: tornar-se, integralmente, material publicitário. Assim, basta encontrar um ricaço – a China, por exemplo, ou a Pfizer, ou a Bill & Melinda Gates Foundation, ou a Fundação Ford – para encher os bolsos e ficar tranquilo.

As agências de checagem de fato são uma novidade que merece o nome de reacionária. Uma meia dúzia de veículos tradicionais quebrados foi escolhida pelas Big Techs para marcar informações potencialmente falsas. Assim, o Estadão passa a ganhar dinheiro censurando a internet. Recomendo este texto de Paula Schmitt a respeito, que foca no Estadão Verifica em particular.

Com as manifestações, vimos muito bem o grau de engajamento da imprensa tradicional com seus anunciantes. E vimos também que esses anunciantes, quem quer que sejam, gostam muito do STF. Cabe lembrar que Roberto Jefferson acusa o STF de ter sido comprado pela China. Mas cabe lembrar também que ele afirma isto sem evidências ou detalhes, que a China não é o único agente sinistro no mundo e que Roberto Jefferson não é exatamente um poço de idoneidade.

Políticos tradicionais delegam os próprios poderes ao STF

Para coroar, tivemos a câmara e o senado abdicando de suas prerrogativas para se submeter ao STF. O caso de Daniel Silveira dispensa maiores comentários. O Congresso, na prática, votou a favor de prisões ilegais e do fim da própria imunidade parlamentar. Os parlamentares vão continuar recebendo o seu dinheirinho todo mês, vão viver no bem-bom, e não têm a menor intenção de abrir a boca contra os abusos do STF.

Balanço

O problema que estamos vivendo não é peculiar ao Brasil. No Ocidente a pandemia foi tangida com mantras divulgados por uma ex-imprensa; e as universidades foram corrompidas há muito. (Inclusive o surgimento do coronavírus é uma consequência dessa destruição da universidade antiga, amante do conhecimento. Para a máfia da academia com o dinheiro público e patrocínios escusos, leia-se o texto indispensável de Nicholas Wade publicado nesta Gazeta.)

Agora é difícil enxergar as coisas com clareza. Creio que podemos dizer que surgiu uma nova espécie de guerra, uma guerra civil mundial, em que os ofensores não pegam em armas tão cedo; em vez disso, tomam as instituições de um país para dominar seus cidadãos, destruir sua economia e até reduzir sua população. (Não sabemos ainda o grau de letalidade das vacinas, e nada colabora para isso, já que os efeitos colaterais não são divulgados, e sua divulgação é fortemente desencorajada.)

No Brasil, o estrago já estava feito antes de Alexandre de Moraes resolver sair prendendo todo mundo. O único fator surpresa é o Povo brasileiro, que mostrou, nas ruas, não estar disposto a aceitar os desmandos do STF, nem de quaisquer forças estrangeiras que porventura estejam por detrás dele.

Não temos mais uma democracia funcional e é improvável que tenhamos no curto prazo. De minha parte, torço para que Bolsonaro consiga fazer bom uso do poder que o Povo nele investe e que nos liberte da tirania imposta pelo STF. Correremos o risco de centralizar o poder do Brasil nas mãos de Bolsonaro. De minha parte, considero este um mal menor do que a concentração do poder nas mãos de agentes internacionais cuja força é de magnitude desconhecida. Registro, de todo modo, que nem mesmo Bolsonaro deveria querer tal centralização: pois Luís XVI de França, após açambarcar todos os poderes, os viu transferidos para mãos inimigas.

Mas é claro que Alexandre de Moraes está mais para Luís XVI do que Bolsonaro.

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