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Se você der brigadeiros aos seus filhos, eles se sentirão tentados a virar militares, em vez de aderirem à lógica do assalto.
Se você der brigadeiros aos seus filhos, eles se sentirão tentados a virar militares, em vez de aderirem à lógica do assalto.| Foto: Pixabay

Venho, por meio deste, em conformidade com as mais modernas teorias adotadas por sindicalistas da universidade e por grandes empresários, clamar para que o iFood deixe de vender brigadeiros. Esmurrar batatas indefesas é um crime de pequena monta em comparação ao fomento do militarismo e do neoliberalismo.

As modernas teorias apontam que etimologia, falsa ou verdadeira, é tudo. Pois saibam vocês que brigadeiro é um posto militar, o homem que comanda brigadas. Só as Forças Armadas têm brigadas no Brasil. O tráfico não tem. Ele tem vítimas da sociedade que seguem a “lógica do assalto” (TIBURI, 2018) e não tem brigadas nem brigadeiros. Só as Forças Armadas, que instauraram no Brasil a ditadura mais opressiva das galáxias, têm brigadeiros e brigadas.

O que quer dizer que, se você der brigadeiros aos seus filhos, eles irão subliminarmente se sentir tentados a virar militares, em vez de aderirem à lógica do assalto. Assim, espancarão negros, mulheres, LGBTQUIABO, quilombolas, índios, anões, celíacos e torcedores do Piraporinha do Oeste Esporte Clube.

A verdadeira história do brigadeiro

O brigadeiro foi inventado por uma mulher branca burguesa chamada Heloísa Nabuco de Oliveira, e, como qualquer um pode verificar usando uma ferramenta de busca, era uma udenista. O udenista é o protocoxinha, um retronazista e um pré-bolsonarista.

Em 1945, acabava a Segunda Guerra Mundial: o Guia Genial dos Povos sozinho venceu Hitler, o capitalista. Ao mesmo tempo, instaurava-se no Brasil uma democracia burguesa. Quem era o candidato da burguesia? Ele mesmo, o Brigadeiro Eduardo Gomes, da UDN. Contra ele estava o homem do Pai dos Pobres, ou seja, Eurico Gaspar Dutra disputava, indicado por Getúlio Vargas.

A burguesia privilegiada se reunia em lautos comitês de campanha. A burguesa Heloísa Nabuco, apesar de madame, tinha laivos de oprimida e fazia doces para suas colegas privilegiadas. Nisso, inventou o quitute feito de leite condensado com chocolate em pó e manteiga que entusiasmou todas as senhoras correligionárias e passou a ser associado aos jantares de arrecadação de fundos para a campanha do Brigadeiro.

O Brigadeiro era, ademais, um tipão que atraía as damas. Confundindo-se uma coisa com outra, o docinho degustado por lábios voluptuosos passou a ser chamado de brigadeiro.

A classe operária venceu, mas o ardil da burguesia está até hoje entre nós.A cada vez que sua filhinha come o brigadeiro, ela está sendo ensinada a se submeter ao patriarcado. A cada vez que os filhos do proletariado comem o brigadeiro, aceitam insidiosamente o neoliberalismo e a precarização dos trabalhadores. Afinal, o brigadeiro era oposição ao inventor da CLT. A cada vez que um brasileiro come o brigadeiro, Sérgio Moro entrega o pré-sal à CIA, porque o brigadeiro era oposição ao criador da Petrobrás.

A burguesia neoliberal está infiltrada nas superestruturas por meio do brigadeiro. Contra o desmonte, chega de brigadeiro!

Objetificação dos corpos negros

O prudente estado de Getúlio Vargas, Brizola e Luís Carlos Prestes não consentiu que a propaganda neoliberal se espalhasse por lá. No Rio Grande do Sul, o brigadeiro é conhecido pelo nome de negrinho.

À primeira vista, a substituição de um símbolo burguês pelo símbolo de um oprimido pode parecer uma conquista e um grande avanço para a luta antirracista. No entanto, negros de baixa estatura se sentem oprimidos ao ouvir que serão comidos por qualquer um, sem carinho.

Grandes pensadoras petistas do quilate de Djamila Ribeiro vêm alertando para a objetificação dos corpos negros. Por isso, dizer que vai comer o negrinho assim, sem mais, é uma atitude extremamente racista. Por outro lado, se o corpo negro ficar intocado, serão redigidas dissertações sobre a “solidão da mulher negra” e coisas do gênero.

Assim, a solução para tal impasse é criar comissões regidas pelo Dr. Sílvio Almeida para decidir quem, pessoalmente, pode comer negrinho. Uma vez submetidos aos trâmites, o comedor de negrinhos autorizado ganhará um certificado assinado por um teórico racialista. O iFood, se tiver consciência social, só venderá negrinhos no Rio Grande do Sul – e para compradores credenciados.

Beijinho e casadinho

Com receita assemelhada, alternativas ao brigadeiro parecem ser o beijinho de coco e o casadinho (também conhecido como dois-amores). O beijinho está à mão e pode ser conseguido por dois meios usuais: estendendo a mão para pegá-lo ou pagando para que o dono do beijinho o entregue. Ora, o que os homens aprendem assim? Que o consentimento é desnecessário. O beijinho é uma apologia do estupro e deve ser banido.

O casadinho tem dois problemas. Primeiro, reforça as superestruturas burguesas, pois ensina que a monogamia é normal. Segundo, é composto por um elemento marrom e um elemento branco: representa um casamento interracial. Os leitores de Abdias do Nascimento sabem que miscigenação é genocídio, logo, o casadinho é uma apologia do genocídio.

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