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Na plataforma que adora censurar o conteúdo alheio, propagandas de laboratórios se disfarçam de vídeos informativos sobre as vacinas.
Na plataforma que adora censurar o conteúdo alheio, propagandas de laboratórios se disfarçam de vídeos informativos sobre as vacinas.| Foto: Bigstock

Existe um canal de YouTube do próprio YouTube chamado YouTube Brasil. E o YouTube agora quer que eu aprenda tudo sobre covid com especialistas selecionados por ele. Agora, toda vez que abro o site, encontro uma montanha de sugestões de vídeos com uma pessoa confiável me instruindo sobre vacinas. Às vezes bota lá as caras de Átila Iamarino e Natália Pasternak, achando que vou clicar nos vídeos por isso.

Dentro e fora do YouTube, há vídeos disfarçados de divulgação científica que são, na verdade, propaganda de laboratório. Em geral eles vêm com uma pergunta sobre vacina de covid. Então aposto comigo mesma qual é a resposta, baseando-me na simples suposição de que é tudo propaganda da Pfizer ou da Sinovac.

A propaganda da Pfizer é global e consiste em dizer que vai todo mundo morrer de covid caso não se vacine, jurando que a vacina é seguríssima. Já a Coronavac é terceiromundista, defendida no Brasil pelo Tucanistão – que conseguiu transformar o respeitável Butantan em Bum-Bum-Tan-Tan. Diferentemente da Pfizer, a propaganda da Sinovac se contenta em jurar de pé juntos que não é placebo não.

Propaganda da Coronovac

A primeira vez que comecei a brincar de adivinhar respostas em vídeos pop sobre vacina foi quando vi uma chamada do G1 assim: “Devo fazer teste para saber se vacina 'pegou'? Médica Luana Araújo tira essa e outras dúvidas em vídeo”. A resposta? “Claro que não”, pensei eu. O correto é não duvidar de nada e ter muita fé, uma fé inabalável, na eficácia das vacinas – isto é, na vacina xing-ling que Dória empurrou no Bum-Bum-Tan-Tan dele.

Acertei. Lá estava Luana "The Lioness" dizendo que não, não devemos fazer teste de anticorpos para testar a eficácia da vacina. Teste de anticorpos é bobagem, pois há ainda uma tal de imunidade celular que nenhum exame acessível pode mostrar. Assim, você deve tomar sua vacina crente que a tal imunidade celular vai funcionar.

Junto com esse vídeo há uma playlist, e pude então apostar mais respostas que Luana "The Lioness" daria. “Preciso usar máscara e evitar aglomerações mesmo depois de vacinado?” “Sim”, penso eu, porque a xing-ling não funciona. The Lioness responde que sim, porque a vacina é feita só pra impedir as pessoas de ficarem mal com a doença, não de pegar a doença.

Próxima: “Devo escolher a vacina ou esperar chegar aquela que eu quero?” The Lioness responde que não, porque todas a vacinas aprovadas pela Anvisa são eficazes, sim, mesmo que você tome e pegue Covid depois. Essa foi a mais fácil de todas. Agora, ex-jornalistas se prestam a apologistas máximos do conformismo e obediência cega às autoridades burocráticas. Então é claro que não devemos esperar e correr para os postos e aceitar qualquer coisa.

Ou seja, eis aí como é a “divulgação científica” que disfarça a mera propaganda da Coronavac. E a tese é muito boa: a vacina é eficaz, sim, mesmo que os exames de anticorpos digam que não. Os exames relevantes (os que atestariam a “imunidade celular”) são os que não estão ao alcance do paciente. Ademais, o imunizado pode pegar Covid, sim. Mas a vacina funciona, funciona, funciona!

Propaganda da Pfizer

Vamos ao Youtube, que é bem mais grave. Na seção “educativa” sobre Covid, um vídeo despertou meu espanto pelo título: “Grávidas e puérperas podem se vacinar?”. Digo “espanto” porque, pelas regras descritas acima, a única resposta previsível para isso é “sim”. Nunca um “divulgador de ciência” recomenda cautela em relação a essas vacinas tão céleres.

Ainda assim, esperava algum pudor, pois aqui no Brasil a Anvisa, depois da morte de uma procuradora (tinha que morrer alguém e tinha que ser alguém tão importante quanto uma procuradora), passou a recomendar que grávidas não fossem vacinadas com a vacina da AstraZeneca. Será que teriam coragem de mandar grávidas se vacinarem mesmo assim? Clico no vídeo. Uma tal Dra. Mariangela Simão explica a uma mulher de cabelo azul que os laboratórios não testaram as vacinas em grávidas, exceto a Pfizer, que tem um estudo recente que “mostrou que a vacina é segura e eficaz em gestantes.” Por isso, e porque o Brasil está vacinando com a vacina da Pfizer, a grávida deve tomar a vacina, sim.

O Brasil está usando a vacina da Pfizer? Segundo informava a CNN em maio, o país usa vacinas da Pfizer e Coronavac. Se só morreu grávida importante de AstraZeneca, não tem por que parar as outras, não é mesmo? Espera morrer alguém. De resto, procurando notícias sobre vacinação de grávidas no Brasil, encontrei uma matéria-denúncia do UOL relatando que “médicos antivacina” não aconselhavam a vacinação das grávidas por causa da escassez de testes. Aí elas morreriam todas de Covid por isso. Especialistas pinçados diziam que tem que vacinar, sim, e grávidas igualmente pinçadas diziam ter tomado a vacina.

Mas e os testes em grávidas? A doutora Mariangela, divulgada pelo próprio Youtube, não dizia que os testes mostravam a eficácia e segurança da vacina em grávidas? Procurei por estudos da Pfizer em grávidas e o que encontrei foi uma matéria de 19 de fevereiro de 2021 da CBS anunciando que a Pfizer iniciara, nos Estados Unidos, o primeiro teste em grávidas. Ainda segundo a CBS, a Pfizer espera que o teste seja concluído em janeiro de 2023.

Esse é o YouTube, que fica rotulando os outros de fake news e tirando vídeos do ar.

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