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identitarismo gordo
O comediante Steven Crowder como a pesquisadora de fat studies Sea Matheson.| Foto: Reprodução/ YouTube

Nos anos 90, o físico esquerdista Alain Sokal achou que os pós-modernos estavam indo longe demais em sua desconstrução, e resolveu fazer um artigo satírico para enviar a uma prestigiosa revista de humanas e ver se saía. Sua hipótese fora confirmada: a prestigiosa Social Text publicara o artigo em que falava que o π e a lei da gravidade não são universais, pois são meras construções sociais e linguísticas sujeitas à historicidade. O caso Sokal foi um escândalo, transformou-se em polêmica, e os professores da USP ficaram ao lado dos pós-modernos. Merquior ficou contra.

Na década passada, o professor de filosofia Peter Boghossian, junto com os alunos James Lindsay e Helen Pluckrose fizeram uma série de artigos à Sokal e tentaram enviar às revistas prestigiosas de estudos críticos – esses estudos de gênero, estudos de raça, e até o caçula fat studies, isto é, estudos dos gordos. Eles tiveram a dificuldade adicional de inventar uma pessoa para assinar o texto, já que o trio é um crítico explícito desse tipo de pesquisa.

Passadas duas décadas entre Sokal e o trio de humanas, uma mudança importante foi notada: não bastava fazer um artigo absurdo para ser aceito. Era preciso ser absurdo e imoral, além de concluir que masculinidade ou brancura são coisas ruins a serem combatidas por meio da educação. (Se você souber inglês, pode vê-los contando a história aqui). Artigos apenas absurdos e engraçados (como dizer que a Alegoria da Caverna era sobre gênero e sexualidade) foram recusados. Após mudarem a abordagem e partirem para a imoralidade, tiveram sucesso: aprovaram um artigo que mandava as escolas acorrentarem as crianças brancas no chão, outro que consistia num trecho tirado de Mein Kampf em que o judeu e os arianos eram substituídos pelo homem branco e mulheres negras, penetração anal forçada em homens para combater a homofobia, treinamento de homens análogo ao adestramento de cães para combater a cultura do estupro… Apenas um não parecia sinistro: a defesa do fisiculturismo gordo.

De lá para cá, muita coisa mudou. Em vez de debate, a ação do trio resultou em histeria progressista. O professor foi punido pela universidade em que trabalha por violar as regras. No Brasil, a Folha de S. Paulo contribuiu com sua pedrinha, em matéria que condena a fraude do professor, sem mencionar os achados do experimento.

Da academia para o YouTube

O último avanço no esporte de desmascarar os autodesmascaráveis pós-modernos foi uma “operação infiltrada” do comediante de stand-up e comentarista conservador Steven Crowder. Ele inventara a pesquisadora Sea Matheson, e enviara uma comunicação intitulada “Abraçando a gordura como autocuidado na Era Trump” para um congresso de Fat Studies. Sea Matheson seria uma representante da comunidade gorda não-binária do Texas e uma ativista do Orgulho Gordo. Sea Matheson não era outra pessoa que não o próprio Steven Crowder com maquiagem, peruca e muito enchimento. Para a surpresa de ninguém, o trabalho foi aceito. A única surpresa foi a pandemia, que suspendeu o Congresso. Mas finalmente Matheson pôde apresentar seu trabalho quando as organizadoras resolveram fazê-lo de forma virtual.

Na apresentação, Sea Matheson denuncia a gordofobia da sociedade que elegeu Trump, ele mesmo um gordofóbico, e problematiza a gordofobia dirigida contra Trump por progressistas. A gordofobia é tamanha que se encontra não só entre os progressistas (que têm de se desconstruir) como se revela em textos sobre saúde que recomendam o emagrecimento. Em seguida, ela desenvolve sua própria teoria segundo a qual a gordura deve ser definida segundo o espaço. Assim, ser gordo é uma forma de autocuidado na era da Covid, porque a grande circunferência da barriga aumenta o distanciamento entre as pessoas. Se ela não fosse tão gorda, o rapaz sem máscara com boné MAGA poderia estar mais perto dela! Além disso, ser tão gorda faz com que nenhum estranho consiga agarrar sua genitália sem o seu consentimento, mantendo-a assim protegida da masculinidade tóxica. Por isso, ser gorda é uma forma de autocuidado, já que amplia espaços. Ser gorda é uma resistência ao patriarcado (você pode assistir à peça aqui em inglês).

No fim do vídeo, o comediante, comentando a própria operação, fala o óbvio ululante: ser obeso faz mal à saúde. E está longe de ser eficaz contra a Covid: é um fator de risco!

Propaganda pró-obesidade

A expectativa de vida nos EUA vem caindo desde 2017, e só em 2020 caiu um ano e meio. Noves fora a pandemia (que é posterior ao início do declínio), a explicação mais comum parece ser a do uso de drogas. Os norte-americanos têm overdose antes de chegar à velhice, ou então enchem a cara e sofrem um acidente de trânsito letal, ou então simplesmente se suicidam. Na verdade, já que quase ninguém conhece ex-cracudo, é de nos questionarmos se o uso de certas drogas não é uma espécie de suicídio a prestação (aqui a droga pré-caixão é crack, lá é meth). Por razões culturais, portanto, o povo morre cedo. Não é falta de comida, é falta de vontade de viver. Comida, há de sobra. E é de se perguntar se a obesidade não teve, também, um papel na queda da expectativa de vida lá.

Embora os governos (de lá e de cá) se empenhem em fazer propaganda antitabagismo, o mesmo não se dá com substâncias ilícitas. Na verdade, a cultura glamouriza o uso de drogas; faz uma verdadeira propaganda. Podemos dizer, portanto, que esse declínio na expectativa de vida é fruto de propaganda. É possível pensar que se trate somente de enriquecer cartéis, e que a queda da expectativa de vida é uma consequência não intencional. Mas se considerarmos que há ao mesmo tempo uma propaganda em defesa da gordura, da queda de natalidade (que oferece aborto como solução), da eutanásia por velhice ou sofrimento psíquico (vide as recentes opiniões de Alain Delon e o caso da adolescente holandesa Noa Pothoven e até da castração química de adolescentes confusos ou deprimidos, é dever ficar com a pulga atrás a orelha. A pulga atrás da orelha manda que olhemos para o histórico.

Os negros, cobaias do governo dos EUA

Sowell vive dizendo que o Estado de Bem-Estar arruinou as famílias negras. Mas além de se destacarem pela alta porcentagem de filhos sem pai, os negros dos EUA são também especialmente gordos. Além de especialmente gordos, são especialmente vítimas do aborto. No caso dos abortos entre os negros é bem fácil de apontar origens eugenistas. A Planned Parenthood, que faz militância pró-aborto até hoje, foi fundada por uma eugenista e tinha o propósito de reduzir a população negra. Ainda nos dias de hoje, a Casa Branca tem a cara de pau de dizer que a flexibilização do aborto é uma necessidade urgente sobretudo para as “mulheres de cor”.

Em livro um publicado em 2007, Liberal Fascism, o escritor conservador Jonah Goldberg observava que os negros eram 12% da população e 37% das mulheres que abortavam. O aborto punha “fim a um número maior de vidas de negros do que doenças cardíacas, câncer, acidente, Aids e crime violento somados”. Ainda por cima, “praticamente 80% dos centros de aborto do Planejamento Familiar [estão] em comunidades de minorias ou próximo delas”. Os EUA não mandam os indesejáveis para campos de concentração; em vez disso, diminuem sua população por meio de propaganda e serviços públicos.

A política alimentar introduzida pelos Estados Unidos durante a Era Progressista é a dieta de pouca gordura, que recomenda também pouca carne, pouco colesterol e grãos integrais. O resultado foi o povo se empanturrar de carboidrato – não só por iniciativa própria, como também pela substituição da gordura pelo açúcar como método de conservação, já que o que importava era ser low fat. Da década de 40 para cá, os norte-americanos ficaram mais e mais gordos. Especialmente os negros, grupo que vive sob um exército de assistentes sociais. Quando ao histórico dessa dieta ruim e de sua difusão via governo e mídia, leia-se este rico artigo acadêmico.

Aos eventuais cordeirinhos, que acham que não se trama nada de mau em parte alguma do globo, ou que isso só se faz em países comunistas malvados, recomendo que vejam a história do experimento Tuskegee, que consistiu em contaminar negros com sífilis sem avisar e observá-los sem tratá-los. O experimento foi feito pelo governo dos EUA em parceria com universidade e durou 40 anos: de 1932 a 1972. Existe uma razão para os negros de lá serem um grupo especialmente desconfiados de burocratas com agulhas.

Acontece que os indesejáveis nunca foram só os negros. Ao contrário, a liberação de esterilização forçada nos EUA foi decidida pelo juiz Oliver Wendell Holmes, que deixou a enfermeira ligar as trompas de uma redneck branca, no caso Buck v. Bell.

Exaltação do orgulho gordo em plena pandemia

Em dezembro do ano passado, pude ouvir no metrô de São Paulo a voz mecânica mandando não dar esmola por causa da Covid (o vírus seria transmitido com o dinheiro) e ver a telinha mandando usarmos máscaras bem colocadas, tomarmos vacinas e aceitarmos que corpos gordos são saudáveis. Nos EUA, no ano pandêmico de 2021, a revista Cosmopolitan, voltada para o público feminino, trazia na capa uma obesa negra com a mensagem “Isto é saudável!”. No canal jornalístico do ativismo progressista brasileiro, o Universa, lemos que ativistas antigordofobia não deveriam temer a gordofobia e ir se vacinar contra a Covid quando pudessem – porque obesidade era considerada comorbidade. Nem uma linha era dedicada à contradição entre dizer que obesidade não é doença e tomar a vacina porque a obesidade é doença.

À primeira vista a glamourização da obesidade é engraçada, mas não é outra coisa senão propagandismo pró-morte precoce.

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