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O TSE não vai punir o Sleeping Giants por fake news e discurso de ódio?
| Foto: BigStock

O primeiro dos que trabalham nesta Gazeta a ter a cabeça pedida pelo grupo anônimo Sleeping Giants foi Rodrigo Constantino. A estratégia de pedir a cabeça dele a esta empresa não funcionou; e demais empregadores, covardes, acabaram o demitindo e depois voltaram atrás. Os Sleeping Giants acabaram alçados à notoriedade no debate público.

Trata-se de um perfil do Twitter com cerca de 477.000 seguidores (lembrando que sempre pode haver robô) que fica exigindo às empresas a cabeça dos cidadãos que cometem crime de opinião. Constantino, em particular, foi acusado de defender o estupro da própria filha. Isso é baixo, e é uma vergonha que tenham chegado a demiti-lo com base nessa acusação tão disparatada quanto sórdida. O perfil fazia isso de maneira anônima. Esta Gazeta cobrou a identidade de tais pessoas, publicou matéria sobre uma ONG ligada ao Sleeping Giants que recebe um monte de doações milionárias.

Como o anonimato é proibido pela Constituição (ao menos por enquanto), foram apresentados os nomes de um casal paranaense jovem e pobre como responsáveis pelo perfil no Twitter. Não muito tempo depois, o Sleeping Giants foi atrás do apresentador Sikêra Júnior e do jogador Maurício Souza.

Sikêra perdia uma montanha de patrocinadores até bolar um ardil para pegar os tuiteiros: anunciou como patrocinadora do seu programa uma ótica manauara que não existe, criou para ela perfis em redes sociais e esperou os “clientes” do Sudeste dizerem que numa mais voltariam à ótica em Manaus de que eles tanto gostavam, já que ela infelizmente patrocina um homofóbico. Depois pegou os números e tomou medidas judiciais. Aos demais patrocinadores, ficou a prova: os boicotes são falsos. Os departamentos de marketing devem ignorar tais ameaças.

O caso do jogador Maurício Souza também não deu muito certo. Ele saiu por cima, inclusive do ponto de vista financeiro. Patrocinadores choveram, seu caso causou comoção e uma carreira política tornou-se viável para o jogador já próximo à idade de aposentadoria.

Jonathan Haidt, psicólogo social, crê que o horror à tirania seja um valor inato à humanidade. Em algum momento, nossos ancestrais simiescos teriam desenvolvido um instinto que os leva a cooperar para matar um chefe opressivo demais. Creio que os tiros do Sleeping Giants tenham saído pela culatra e despertado esse instinto na maioria da sociedade. Se na sociedade não deu certo, restou ao grupo pedir a cabeça ao Twitter. Fez isto denunciando o colega Guilherme Fiuza por “fake news” e exigindo que o Twitter apagasse a conta dele. Fiuza tem se destacado na denúncia enfática e bem embasada dos crimes cometidos contra os direitos humanos em nome segurança sanitária. É também um dos poucos a dar um rosto às vítimas da vacina experimental.

Falta de vergonha é pior que covardia

Estávamos nós gravando o podcast “O papo é” desta Gazeta quando, naturalmente, o assunto foi trazido. Estamos todos carecas de saber que o Sleeping Giants é covarde, e não custa dizer que é covarde. Ao contrário: covardes precisam ser chamados de covardes. Fiuza mostra sua face e o Sleeping Giants não.

Mas, porém, contudo, todavia, nada é tão ruim que não possa piorar. De um ponto de vista moral, é confortável a situação em que Fiuza mostra a cara, orgulhoso do seu trabalho, e o Sleeping Giants, mesmo com milhões por detrás e com o apoio formal do TSE, se esconde nas sombras. O mundo moral está em paz, com os maus atestando a própria maldade. Eles têm vergonha porque sabem que estão errados.

Estava eu então ouvindo essas condenações morais aos achacadores enquanto olhava o perfil no Twitter. Devo dizer que o Sleeping Giants divulga os tuítes de gente que tem tanto orgulho de mostrar a cara quanto Fiuza. E entre essa gente lá estava um orgulhoso Renan Brites Peixoto, autodeclarado “jornalista da GloboNews e da TV Globo”, que tuitara o seguinte a respeito de Bárbara do “Te Atualizei”: “Essa negacionista vem me atacando há meses. Seus seguidores, sem cérebro, são raivosos e perigosos. Passaram a pandemia atrapalhando o trabalho da imprensa. Twitter, ela não merece selo azul. Merece uma tornozeleira eletrônica. #TwitterApoiaFakeNews #Twitter omisso.” Abaixo estava o trecho de um vídeo em que Bárbara lê em voz alta um tuíte do próprio Renan Peixoto.

Esse homem se sente ameaçado por uma mulher desarmada no sofá lendo em voz alta no sofá um tuíte dele. Pede a prisão dela.

O jornalista teve o tuíte divulgado pelo Sleeping Giants, cuja legitimidade o TSE reconheceu ao acatar seus conselhos. O jornalista disse que a audiência de Bárbara é perigosa e sem cérebro. Isso desumaniza. Esse senhor está dizendo que sou uma mulher perigosa e sem cérebro, bem como, provavelmente, o assinante desta Gazeta, já que Bárbara tem participado do programa "Hora do Strike" com Cristina Graeml.

Será que o ministro Barroso poderia vir a público condenar essa divulgação de fake news sobre brasileiros? Ou será que ele vai interpretar a Constituição para decidir que não tenho cérebro e sou perigosa?

O tuíte de Renan Peixoto não está mais disponível porque ele fechou o perfil. Mas sigamos com o Sleeping Giants: encontramos a figurona da Agência Lupa comemorando o fato de o Ministério Público pressionar o Twitter para tirar o selo azul de Bárbara. Vemos também Natuza Nery, da GloboNews, apoiando o grupo.

Sugiro que o TSE oriente essas senhoras a não promover um perfil que divulga fake news e promove o ódio.

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