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Os proibidões não causam a mesma preocupação que menções a tratamentos médicos.
Os proibidões não causam a mesma preocupação que menções a tratamentos médicos.| Foto: Reprodução do Youtube

No meu último texto sobre a questão das vacinas, intitulado “As mortes ‘raríssimas’ e os tempos estranhos que estamos vivendo”, felizmente observei que só Átila Iamarino e demais divulgadores de ciência gozam de infalibilidade papal. Falhei ao afirmar que o Rio de Janeiro estava empurrando nos adolescentes as mesmas vacinas experimentais que mataram a jornalista da BBC e o advogado catarinense Bruno Oscar Graf, de apenas 28 anos. Essas vacinas com potencial danoso são as da AstraZeneca. As únicas vacinas de covid aprovadas pela Anvisa em menores de idade dão as da Pfizer.

O texto foi corrigido mais tarde do que eu gostaria. Paciência: problema de se trabalhar numa estrutura grande, na qual não se pode mexer diretamente no que foi publicado. Mas a partir de agora já posso mexer diretamente nos meus textos assim que detectar um erro; falta apenas aprender a colocar no formato de errata. O que posso fazer e fiz é corrigir no texto original (que continua circulando por links e cujo foco não era vacinação em crianças) e escrever outro alertando os que leram o texto anterior.

Especialistas contra o “sommelier de vacina”

Por outro lado, descobrir o próprio erro costuma trazer considerações interessantes. Vejam vocês que a Coronavac e a AstraZeneca são proibidas para quem tem 17 anos e 11 meses de idade, porém compulsórias para quem tem exatamente 18 anos de idade. O prefeito Eduardo Paes impôs no Rio de Janeiro o infame passaporte vacinal. Ao mesmo tempo, uma baciada de “especialistas” não para de dizer que é errado ser “sommelier de vacina”.

Os especialistas admitem que existe um bom motivo para a vacinação com AstraZeneca ser proibida para menores de 18 anos? Se admitem, por que batem o bumbo mandando que o cidadão tome qualquer injeção que o burocrata lhe enfie no braço? Isso está muito estranho. Se víssemos alguns especialistas com essa opinião, tudo bem. Mas essa é a única opinião de especialista a ecoar na imprensa tradicional. A mesma imprensa que, desde março de 2020, passou a falar no mundo inteiro, em uníssono, que consenso científico fica pronto antes de Miojo.

As três vacinas distribuídas no Brasil são muito diferentes umas das outras. Por que os especialistas não se empenham em dar instruções mais específicas às pessoas, conformes à idade, ao sexo ou a comorbidades? Desde quando Vera Magalhães escreveu no Twitter uma diatribe contra os “sommeliers de vacina”, pôs-se uma tampa de panela em cima da discussão que fervilhava à boca miúda entre os cidadãos: o consenso-miojo está formado e qualquer hesitação é calada com o rótulo pejorativo de sommelier de vacina.

O oba-oba da vacina

Uma coisa que me induziu ao erro foi xeretar o perfil de Daniel Soranz no Twitter. Tem compartilhamento de Átila Iamarino, de Leandra Leal, do chefe Eduardo Paes e até de Doria. Tudo com aquele mesmo discurso único: a confusão da segurança das vacinas tradicionais com as vacinas de covid (como se tomar vacina de covid fosse tão banal quanto tomar vacina de poliomielite ou febre amarela), que leva à confusão dos céticos com antivax e terraplanistas. Vacina é oba-oba do bem; cautela é coisa ridícula, invencionice de terraplanistas.

Duas coisas em particular me chamaram a atenção. Um foi o retuíte de Eduardo Paes em que o prefeito escrevia: “Curiosa essa gente da terra plana. Tomamos medidas p voltar a abrir a cidade com a comprovação da vacinação e os caras gritam. Eu hein. Fico pensando como essa gente conseguiu matrícula em escola sem comprovar vacina. Pensando bem, talvez seja essa a explicação: faltou estudo!”

Ora, o comprovante vacinal é um artifício dos Estados Unidos para exigir a vacinação de crianças. Lá eles têm problemas antigos com movimentos antivacina e criaram esse expediente legal para complicar a vida dos pais que não querem vacinar suas crianças. No Brasil, a vacinação infantil é bem recebida há décadas pela população e não há grandes medidas cerceadoras de matrículas em escolinhas. Como aqui não existe home school e a frequência escolar é obrigatória, a exclusão de crianças não-vacinadas é assunto jurídico espinhoso. No Brasil, não faz sentido que haja adultos que não frequentaram a escola por falta de vacina. Ficou claro para mim, então, que Paes está copiando uma argumentação padronizada fabricada no estrangeiro.

Além disso, a imagem que Paes cultivou perante os cariocas é a de um farrista bonachão que ama o Rio (e que deu ônibus à Zona Oeste, de onde vem). O papel de paladino da Ciência contra os obscurantistas é estranho em seu repertório.

A outra coisa foram os retuítes de uma campanha da Prefeitura do Rio em prol da vacinação de menores. Incentiva as “bffs” a irem juntas; num versinho com cara de funk, diz “Ô novinho, eu quero te ver contente/ Não abandona a vacina da gente/ A vacinação dos adolescentes tá on/ Se liga no calendário, chama o bonde e #SóVem!”

Vacina de covid é oba-oba! São todas apresentadas como se fossem uma só, e sem riscos. Vendo esse tipo de coisa, que adolescente suspeitaria que há riscos ou efeitos colaterais na vacinação?

E tenhamos em mente aquilo que escrevi no outro artigo, do qual, uma vez corrigido, me orgulho: o secretário Daniel Soranz está em sua segunda passagem pela secretaria da saúde do Rio! Pesam sobre Daniel Soranz acusações de envolvimento em desvios da saúde na outra gestão de Paes, encerrada em 2016! A saúde carioca é uma tragédia há várias gestões, com um escândalo de corrupção se seguindo a outro! Quais as chances de ser honesto esse esforço para empurrar vacinas experimentais em adolescentes?

De resto, friso mais uma vez que Daniel Soranz é pesquisador da Fiocruz, que fabrica no Rio a vacina da AstraZeneca. Não dá para fazer de conta que a “Ciência” está acima da politicagem.

Já se sabe desde abril da miocardite causada pela Pfizer em adolescentes

Na verdade, sequer consola o fato de as vacinas da AstraZeneca serem proibidas, já que a Pfizer vem sendo aplicada em menores e grávidas. (Para a AstraZeneca parar de ser aplicada em grávidas, foi preciso morrer uma grávida importante, a Promotora Thaís Possati.) Ela morreu em maio. Desde abril já se noticiava que a vacina da AstraZeneca causava coágulos, mas a Anvisa a recomendava para grávidas mesmo assim.

As vacinas da covid são mais novas do que a covid; logo, há menos tempo para acumular experiência a seu respeito do que a respeito da covid. E a vacina AstraZeneca é a mais velha de todas; logo, há menos tempo para acumular experiência da Pfizer (que está liberada para menores e grávidas), do que para acumular experiência sobre a AstraZeneca (que foi proibida).

Também já se sabe desde abril, e consta no site do governo dos Estados Unidos, que a vacina da Pfizer pode dar miocardite. Qual o grupo em que sabidamente esse problema predomina? Adolescentes de 16 anos do sexo masculino! Que estão sendo bombardeados pela propaganda de Eduardo Paes para se vacinar, sem saber dos riscos.

Youtube censura médica, mas não proibidão

Como está tudo muito estranho, eu gostaria de recomendar a entrevista da médica Maria Emília Gadelha Serra aos Pingos nos Is. Ela tratou da observação por médicos dos efeitos colaterais das vacinas e fez considerações sobre a temeridade de permitir a vacinação de grávidas e crianças. Mas a entrevista foi tirada do ar pelo Youtube.

O Youtube censura médicos e pesquisadores porque, supostamente, quer o nosso bem. Mas funk proibidão com apologia do tráfico pode. Basta digitar “proibidão cv” que o algoritmo entende e sugere “30 minutos de proibidão do Comando Vermelho”, com fotos de fuzil em destaque. Médico faz mal e é problema social; narcotraficante, não.

Tem que ser muito trouxa para acreditar que está tudo normal, e que Eduardo Paes, seu secretário de saúde metido em escândalo e as Big Techs querem o nosso bem. Até quando a parte bem intencionada sociedade vai seguir com a cabeça enfiada no buraco?

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