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Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Camila Farani

Agrotechs

O novo “Vale do Silício” será no campo

08/09/2019 22:00
A cada ano, consumimos mais. Somos 7,7 bilhões de habitantes e a ONU (Organização das Nações Unidas) estima que seremos 8,6 bilhões em 2030, e 11,2 bilhões em 2100. Números que fazem da tecnologia essencial para que sejamos mais eficientes na produção de alimentos.
A próxima grande inovação não será um novo sistema operacional, nem uma nova rede social. Quando me perguntam sobre tendências dentro do ecossistema de inovação, costumo responder o seguinte: “cada país possui sua potencialidade. Portanto, é necessário entender o cenário econômico de cada ecossistema”. No Brasil, temos um cenário muito claro: as próximas startups bilionárias não virão da cidade, mas sim do campo. O agronegócio é nosso potencial para o mundo e as agrotechs estão se apropriando desse mercado.
Os números? O agronegócio corresponde a 23% do PIB e por quase metade (44%) do total das exportações brasileiras. E esta não é só uma tendência nacional, o que fortalece minha tese. Em 2018, segundo o AgriFood Tech Investing Report, o valor dos aportes mundiais no setor foi de US$ 16,9 bilhões, distribuídos em cerca de 1.450 investimentos. Trata-se de um mercado em plena ebulição e isso é uma oportunidade para empreendedores brasileiros.
Um estudo de 2018, feito pela consultoria KPMG e Distrito, aponta a existência de 300 agrotechs no Brasil, que investem cerca de R$ 100 milhões por ano. Foram batizadas assim porque são empresas que levam tecnologia para o agronegócio, solucionando problemas do campo e auxiliando na elevação da produção. Provavelmente, os avanços trazidos pela aplicação dessas novas tecnologias contribuíram para o aumento da participação do setor no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro (de 19% para 23%) nos últimos cinco anos.

Falta de conectividade no campo é desafio a ser vencido

Apesar dos números ascendentes, existem muitos desafios pela frente, como o aumento da conectividade em zonas rurais. No Brasil, apenas 14% desses locais possuem internet. Este cenário, no entanto, está começando a mudar. Já existem soluções que envolvem IoT (internet das coisas), drones, inteligência artificial e até e-commerce de máquinas. E tudo surgindo de grandes universidades, parques tecnológicos, incubadoras e pólos de inovação voltados para o setor.
O levantamento Radar AgTech, realizado pela Embrapa e o fundo SP Ventures, mostrou que os quatro estados do Sudeste somam 66% das agrotechs brasileiras. A cidade de Piracicaba, em São Paulo, já está sendo chamada de “Vale de Piracicaba”, por conta do exemplo americano. Somente lá estão concentradas 120 das 300 agrotechs registradas no país. E isso influencia grandes empresas a se estabelecerem nesses ambientes e “beberem dessa fonte”. É o caso da Raízen e da Coplacana, que se mudaram para lá.
Essa tendência global de criação de pólos de desenvolvimento voltado para inovações vem ganhando força principalmente pelas chamadas deep techs (ou tecnologias profundas), que são startups focadas em avanços científicos e inovações de engenharia com alto grau de tecnologia. O Global Startup Ecosystem Report 2019 listou os quatro subsetores que mais crescem dentro dessa lógica: manufatura avançada e robótica (107,9%), blockchain (101,5%), agrotech e novas fontes de alimentação (88,8%) e inteligência artificial (64,5%).
Como se vê, o setor de agronegócio aparece em terceiro lugar nessa lista como grande impulsionador de inovações radicais.
No cenário socioeconômico em que vivemos hoje, em meio a tantos desafios, inclusive ambientais, as agrotechs ganham uma importância singular para trazer mais sustentabilidade, eficiência e controle para o campo. Para que possamos avançar nesse segmento, é importante uma atenção especial à formação técnica desses profissionais do campo e trabalhar em novas formas de financiamento específicas para as agrotechs.
Devemos aproveitar ao máximo nossa potencialidade e mostrar ao investidor que o Brasil está, sim, na vanguarda da transformação tecnológica do agronegócio. A tecnologia deve ser a ponte para produzir mais com menos. É o grande desafio do século 21, mas também uma das maiores oportunidades.

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