Tentando entender o novo futebol brasileiro
No princípio foi o telegrama.
Tornou-se folclórica a maneira como os torcedores da Seleção
Paranaense de Futebol acompanharam a partida final do Campeonato Brasileiro de
1928.
Surpreendemente a equipe paranaense chegou a decisão do
título com a Seleção Carioca. O jogo final aconteceu no estádio de São Januário,
no Rio de Janeiro, antiga capital da República.
Como não havia transmissão pelo rádio e muito menos pela televisão, que estava sendo inventada, ou internet, celular, streaming que só apareceram bem mais adiante, o caminho era o telegrama.
Esta Gazeta do Povo, cuja sede ficava na rua XV de Novembro, anunciou que o publico poderia acompanhar o desenrolar da partida decisiva postando-se em frente a sede do jornal no domingo à tarde.
Centenas de pessoas lotaram a principal rua de Curitiba na época e ficaram prestando atenção no repórter que, de cinco em cinco minutos, aparecia na sacada e lia as últimas informações. Até o apito final.
Vitória dos cariocas para desolação daquela multidão de terno, gravata, chapéu, polainas e bengala.
TABELA: Veja a classificação e os próximos jogos do Brasileirão
Com todas as fantásticas invenções dos últimos anos, o
torcedor tem deixado de assistir o seu time de coração por falta de
conhecimento tecnológico, ou de simples orientação, para encontrar o lugar onde
pode ver o jogo.
É um desafio tentar desarmar a armadilha tecnológica que se
abate sobre o futebol.
“O Brasil não tem problema, apenas soluções adiadas”. O chiste de Luis da Câmara Cascudo pode ser entendido – embora não deva – como expressando uma aconchegante e ilusória confiança no poder regenerador da passagem do tempo.
Mesmo com diversos políticos desclassificados,
aproveitadores da gestão pública deficiente, governantes dúbios e incompetentes,
o povo carrega o peso das constantes crises econômicas na base do “no fim tudo
acaba bem, se não está bem é porque não acabou ainda”.
A boa vontade popular, a credulidade e a simplicidade da
maioria do povo podem justificar tendências à procrastinação e à aceitação um
tanto passiva de todo tipo de atrasos – e dos custos sociais e econômicos neles
envolvidos – por várias razões.
No futebol não é diferente. Os cartolas fazem e desfazem, aprontam o que bem entendem, e o torcedor aceita, passivamente, tudo em nome da paixão clubística.
Os estádios continuam lotados, apesar do baixo nível técnico
da maioria das partidas. E os clubes seguem com as suas eternas dificuldades
financeiras, no constante entra-e-sai de técnicos e jogadores sem qualquer
resquício de planejamento ou algo do gênero.
As exceções servem apenas para confirmar a regra.
Nem a Seleção Brasileira conseguiu escapar da crise.
Levou um passeio da Bélgica, vejam só, da Bélgica, e foi
eliminada da Copa na Rússia. Agora, com os mesmos personagens – com destaque ao
técnico Tite a ao performático Neymar – o time tenta sensibilizar o respeitável
publico para que incentive e torça na disputa da Copa América.
Primeiro é importante descobrir onde vai passar o jogo da Seleção. Depois é tentar entender o novo futebol brasileiro.
Tem que ter paciência com os cai-cai e trejeitos dos jogadores que se tornaram milionários na juventude e, lamentavelmente, deixaram de mostrar a arte, o talento e, sobretudo, a garra dos bons tempos em que só ouvíamos os gols de Pelé, Garrincha e Vavá pelas ondas hertzianas do rádio.
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