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O homem lúdico sofre com a falta do futebol

Por
Redação
22/05/2020 15:59 - Atualizado: 29/09/2023 23:14
O homem lúdico sofre com a falta do futebol
| Foto: Jonathan Campos/Arquivo/Gazeta do Povo

Os clubes se movimentam intensamente para que os campeonatos sejam reiniciados e que o futebol volte a ser jogado, mesmo sem publico nos estádios.

“Homo Ludens” é o título de um livro escrito por Johan Huizinga, onde ele disseca o perfil do homem lúdico.

O homem é um ser lúdico – talvez mais “ludens” do que “sapiens” – no sentido de cultivar o jogo, o lazer, a brincadeira.

Não obstante, às vezes se tenta sufocar esta vocação do homem. Esta atitude obscurantista pode partir de uma seita religiosa ou de uma ideologia política que, ao pregar a seriedade e a renúncia, censura o lazer, o riso, o prazer. A ludicidade é fundamental para a manutenção do equilíbrio físico e psicológico do homem.

A dimensão lúdica, no dizer dos filósofos, é a dimensão da alegria, do divertimento, da serenidade, da suspensão de todo tormento e de toda preocupação, da liberdade, da realização de si mesmo.

A criança quando brinca se transporta para o mundo do imaginário e assimila integralmente o papel vivido – de príncipe encantado, bombeiro, piloto de Fórmula-1 ou de homem aranha – sem, contudo, se despojar da realidade do seu mundo. Já o adulto problematiza a sua vida ao ter que lidar com os desafios do mundo, o que certamente compete com a sua faceta lúdica.

O homem é verdadeiramente “ludens” quando atinge a seriedade de uma criança brincando. Mas o jogo lúdico não é um privilégio dos humanos, pois no mundo animal a sua exteriorização é evidente. É o gatinho que brinca com o novelo da senhora que está tricotando; são os cachorros que se engalfinham numa luta de faz-de-conta.

O jogo lúdico dos animais é ritualístico, onde certas regras são respeitadas: na luta entre dois cachorrinhos, as mordidas não objetivam ferir um ao outro.

Para os homens, nada é mais lúdico do que a mitologia grega, que assegurava a presença no Olimpo de deuses brincalhões.

Em Roma antiga o lema era “panem et circenses” – o popular pão e circo – com gladiadores e animas nas arenas, na Inglaterra ainda se pratica a caça a raposa, na Espanha o divertimento é a tourada e no Brasil o futebol.

O carnaval também exerce curioso fascínio entre os brasileiros.

Mas é bom lembrar que, na Idade Média, existia uma brincadeira chamada “festa dos bufões”, ocasião em que as pessoas se mascaravam: o camponês vestia os trajes do senhor, o bufão os do soberano, a rainha os da lavadeira e assim por diante.

Assim, fantasiados, como num jogo, todos os membros da comunidade podiam conceder-se licenças que na vida ordinária não teriam a ousadia de fazer.

Cultivar o lazer é preciso, afirmam psicólogos e estudiosos da mente humana; e cada um deve traçar suas próprias estratégias de diversão.

Mas tudo dentro de determinadas regras, senão vamos continuar assistindo a violência no entorno dos estádios de futebol. Lamentavelmente em dias de grandes clássicos as cidades são invadidas por maus elementos que, em vez de torcer por um time, praticam atos de vandalismo.

O futebol é mágico porque torna o “sapiens” um completo “ludens”. Às vezes assistir a uma partida de futebol pode ser mais benéfico do que uma sessão de psicoterapia: o grito de gol é catártico.

Cultivar o espírito lúdico, ainda mais em tempos de crise emocional pela pandemia do coronavírus, é preciso, faz parte do saber viver.

Não custa lembrar de um conselho da sabedoria popular: “Não se deve levar a vida muito a sério, pois dela não sairemos vivos”.

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